Ontem ri-me a bom rir na Oficina Municipal de Teatro de Coimbra a ver "A Noite de Reis" de William Shakespeare (que data de ca. 1600), num espectáculo do Teatrão. De entre um grupo variado de personagens, alguns dos quais trocam alegremente de identidade, a minha preferência recai no bobo. É ele que diz a certo passo (uso a tradução de Henrique Braga, revista por João Grave, Lello Irmão, 1988):
"Agora vereis; eles [os amigos] elogiam-me e fazem também de mim um asno, ao passo que os meus inimigos me dizem sem rodeios que eu sou um idiota. Assim, é, que, com os meus inimigos, me aprendo a conhecer-me e, com os meus amigos, ando enganado” (V, I).E é dele que a personagem Violeta diz, numa tirada bem shakespereana:
“Este espertalhão tem juízo bastante para fazer de bobo: ora, para desempenhar bem tal papel é preciso presumir um certo espírito; tem de se estudar o génio daqueles com quem se graceja, a qualidade das pessoas, e as ocasiões; e, como o falcão arisco, precipitar-se sobre qualquer ave que se lhe depara. É uma arte tão difícil como a do homem cordato; porque a loucura que se mostra ajuizada é hábil, ao passo que, quando os cordatos caem na loucura, deslustram inteiramente o seu espírito."(III, 1).Na figura: o bobo e o duque da "Noite de Reis" numa gravura de anónimo de 1870.
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