terça-feira, 18 de janeiro de 2011

DESCOBERTA NO MUSEU


Informação recebida do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra:

Durante os trabalhos de levantamento sistemático das colecções pertencentes à Universidade de Coimbra, com o objectivo de completar o inventário, deparámo-nos com um achado absolutamente extraordinário entre as colecções zoológicas.

Guardados dentro de uma grande caixa de folha de flandres, encontravam-se 68 peixes de diferentes espécies conservados em seco, montados sobre cartão com a designação científica no sistema de Lineu, e alguns com dois nomes vulgares, um em português e o outro numa língua indígena do Brasil. Os cartões são contornados por um filete, nalguns casos preenchido a aguarela azul, com letra a preto numa caligrafia perfeita. O seu excelente modo de conservação através desta técnica descoberta no séc. XVIII, “em herbário”, em que apenas metade do exemplar era preservado prensado sobre uma folha de cartão e, depois de seco, envernizado e com esta qualidade, revelam inequivocamente a sua origem nas colecções do Real Museu da Ajuda com a caligrafia da Aula do Risco.

No arquivo do Museu Bocage, existe o registo de uma importante remessa de espécimes do Real Museu para a Universidade de Coimbra datada de 1806, grande parte deles com origem na Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira. Este registo, “Relação dos Produtos naturais e industriais que deste Real Museu se remeteram para a Universidade de Coimbra em 1806”, largamente estudado na secção de materiais etnográficos e antropológicos, refere o envio de 60 exemplares de peixes das colecções do Real Museu. Ao compararmos as designações científicas de Lineu nos exemplares, com o documento da remessa, verificamos que cerca de metade dos géneros indicados correspondem aos da colecção encontrada.

Trata-se então de uma parte das recolhas que o grande naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira realizou para a coroa portuguesa na bacia do Amazonas, durante uma década, entre 1783 e 1792. Uma das mais notáveis e prolongadas expedições de naturalistas, realizadas durante o Séc. XVIII, procurando o conhecimento científico e sistemático da natureza exótica que então se descobria. As colecções enviadas para Portugal pelo naturalista, foram alvo de muitas vicissitudes, encontram-se dispersas por várias instituições incluindo uma parte levada para Paris durante as invasões francesas. Em particular, das colecções enviadas para Coimbra apenas está bem estudada a excelente colecção etnográfica dos índios da Amazónia. Neste momento, o Museu da Ciência tem em curso um projecto de investigação de história da ciência da Universidade de Coimbra, em que se procede ao estudo destas colecções fundadoras dos primeiros gabinetes universitários portugueses.

A descoberta destes exemplares é absolutamente notável por se tratar de uma colecção raríssima, havendo poucos exemplares do Séc. XVIII de peixes do Brasil, montados deste modo, em todo o mundo – conhece-se um conjunto de 18 espécimes, com estas características, na Academia das Ciências de Lisboa -, além de abrir uma nova perspectiva quanto ao estudo e conhecimento das recolhas deste naturalista. É uma importante descoberta para a história natural em Portugal, para a história da ciência e para o estudo da biodiversidade, realizada mesmo no final do Ano Internacional para a Biodiversidade.

APRESENTAÇÃO PÚBLICA
19 de JANEIRO | 10H00
Entrada livre

1 comentário:

Anónimo disse...

Nossos museus estão cheios
de coisas por conhecer:
falta é gente com saber
que investigue seus recheios!

JCN

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