"O tempo passado e o tempo presente fazem parte do tempo futuro" (T.S. Eliot, 1888-1965).
Vivemos dias em que o divórcio entre o Ministério da Educação e os dirigentes dos sindicatos docentes está longe de se ter pacificado e, muito menos, de estar solucionado. Como nos diz o próprio Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof: “Percebemos que já não havia margem de manobra para mais. E os aspectos positivos pesavam mais do que os negativos. Não ficávamos bem com a nossa consciência, tendo a possibilidade de servir os interesses de milhares e milhares de professores, de não aproveitar esta oportunidade" (Público, 008/01/2010).
Vivemos dias em que o divórcio entre o Ministério da Educação e os dirigentes dos sindicatos docentes está longe de se ter pacificado e, muito menos, de estar solucionado. Como nos diz o próprio Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof: “Percebemos que já não havia margem de manobra para mais. E os aspectos positivos pesavam mais do que os negativos. Não ficávamos bem com a nossa consciência, tendo a possibilidade de servir os interesses de milhares e milhares de professores, de não aproveitar esta oportunidade" (Público, 008/01/2010).
Este fim-de-semana, sem conhecer em pormenor os aspectos positivos e negativos da última ronda negocial, ocorreu-me o pensamento de T.S. Eliot, em epígrafe, dando comigo a vasculhar um artigo de Helena Matos, com o sugestivo título “Para que servem os sindicatos?” No essencial, relata o seu conteúdo o seguinte (salvaguardadando a necessária actualização de dados): “Quando José Sócrates resolveu reenquadrar a relação do Governo com os sindicatos, foram revelados alguns dados, não muitos, mas os suficientes, para que a opinião pública percebesse que os sindicatos e respectivos dirigentes são uma extensão da administração pública e por ela devidamente sustentada: ‘Os 450 professores que estão destacados nos sindicatos representam uma despesa superior a oito milhões de euros. No ano lectivo passado, estavam destacados 1327 docentes (…) que custavam por ano 20 milhões de euros, segundo estimativa do Governo’, informava, em 2006, a agência Lusa” (Público, 21/10/2008).
Acontecendo que o vento do justo descontentamento dos professores não continua de feição para um sindicalismo arcaico, que se revê nas manifestações ruidosas das grandes massas operárias de fins do século XIX, mas que persiste, com uma importância que só lhe foi dada logo a seguir ao 25 de Abril, importa fazer o retrato de uma actividade que continua, umas vezes, desorientada no rumo a seguir, outras vezes, com uma determinação de verdadeiro pombo correio ao serviço de determinadas orientações políticas. Acresce, ainda, o facto de haver dirigentes sindicais que se perpetuam nos respectivos cargos, fazendo disso uma verdadeira profissão, embora evocando um espírito de sacrifício que ultrapassa a condição terrena para entrar no domínio de uma santidade merecedora, segundo eles próprios, do maior louvor por parte de ingratos que não compreendem a missão transcendente que unge um destino que perseguem como o caçador que corre atrás da lebre pelo simples prazer estético de a ver fugir pelo campo fora!
Merecem as bases sindicais, com o seu voto de uma fidelidade canina, uma crítica feroz e impiedosa, por egoisticamente obrigarem os dirigentes sindicais, manietados de pés e mãos, a um trono vitalício em tempos republicanos. Já é mais que tempo das bases sindicais deitarem para trás das costas um egoísmo tirânico, exigindo às respectivas cúpulas um sacrifício desumano de anos a fio nesses cargos, deixando-se de genuflexões suplicantes a seus pés: “Continuem nos vossos postos! Não nos deixais inconsoláveis a carpir o desgosto de uma não candidatura por deserção ou simples abandono !”
Depois de muito instados, como quem concede a graça de um favor senhorial, chega, finalmente, a generosa boa-nova: “Está bem! Por esta vez (e as vezes sucedem-se), continuamos, embora com a alma despedaçada, porque do que gostamos, gostamos mesmo, é de dar aulas o mais longe da nossa residência, com alunos problemáticos que nos possam agredir a murro e pontapé, vendo em nossa caras estampada a alegria de não podermos faltar, quer estejamos a respirar saúde por todos os poros ou nos arrastemos pelos corredores escolares com penosas maleitas. Vós não sonhais sequer a mágoa que nos causa ser-nos vedado estarmos a vosso lado a sofrer na carne o látego impiedoso do Ministério da Educação e dos seus algozes. Apesar de tudo, é-nos pedido que acatemos este triste fado de sofrida tristeza, embora mitigada pela alegria de um cumprimento cívico. Mas seja! Aceitamos e não se fala mais nisso !” Ou seja, não se fala mais nisso até a novas eleições sindicais.
Segundo esta perspectiva, forte crítica deve ser assacada aos estatutos das ordens profissionais (para além de outros males que desaconselham a sua criação!) por não permitirem que os respectivos bastonários, mesmo que com maior virtude que a própria Madre Teresa de Calcutá, permaneçam em cargos quase vitalícios. O número de anos por mandato e as repetências no cargo de bastonário obedecem a prazos determinados sem qualquer representatividade nos estatutos que regem a actividade sindical. Desta forma, a única maneira dos professores sindicalizados se verem livres de dirigentes sindicais adesivos, que só descolam com acetona e, mesmo assim, em doloroso arrancar de pêlos, é esperar que lhes acenem com um cargo mais rendoso e de maior prestígio social. A tarimba sindical deu-lhes o suficiente traquejo para voos mais altos.
Em derradeiro apelo! Professores sindicalizados não sejam cegos e mudos a uma votação em nome do país e da sua gente: votem em massa nos dirigentes sindicais para cargos políticos (não há memória, com a excepção de Salazar, de as magistraturas políticas terem a vigência de certas cargos sindicais). Num impasse sem solução à vista, entre o Ministério da Educação e os sindicatos docentes (por a ex-ministra ser muito antipática e a actual demasiado sorridente?), a Educação deste país e os seus agentes docentes e discentes e a própria pátria saberão ser reconhecidos. Ou, pelo menos, têm essa obrigação!
17 comentários:
Tem-se falado muito da (necessária e urgente) renovação da classe política e pouco ou nada da dos dirigentes sindicais. É tempo de se verem caras novas no sindicalismo português, mas a tentação de trocar um de 60 anos por dois clones de 30 é grande...
Caro Rui Baptista,
O seu texto descreve bem a realidade sindical.
Para além de serem subsidiados pelo contribuinte, de não representarem ninguém a não ser os próprios e o partido, não largam o cargo. Será isto um sindicato? Se os senhores e senhoras não largam os cargos, se os mesmos são financiados pelo Estado, não será natural pouca gente acreditar na bondade dos acordos assinados?
Se até os sindicatos são financiados pelo pai Estado como se pode falar em sociedade civil?
Caro Rui Baptista:
Falta talvez referir os casos de sindicalistas que transitam (ou que nessa actividade fazem o tirocínio) para a carreira académica ou... política. Através, por exemplo, da integração nas estruturas do ministério da educação, nalguns casos com tamanhas aptidões pedagógicas (designadamente para a ortografia e a gramática) que era um mimo ler os documentos oficiais que abundantemente faziam chegar às escolas...
Se quiserem documentar-se mais sobre a qualidade da sua escrita, e acharem que devem documentar-se com pessoa mais (do que) credível, perguntem ao escritor Francisco José Viegas, que sobre o assunto escreveu em tempos no seu blogue "origem das espécies".
Há porém alternativa mais fácil para os males do país e da escola: execrar os horríveis professores. Sem excepção.
De que estamos a falar? Do nome (Sindicato, Associação, Movimento,...) ou da organização dos trabalhadores para sua defesa?
Porquê este denodado combate contra os Sindicatos, o mesmo é dizer: este apelo à desorganização dos trabalhadores, com a repetida invocação de puídas banalidades de manual, não fundamentadas, mas com umas baforadas intelectuais do calibre levezinho das do senhor que, há uns anos, descobriu que a História tinha chegado ao fim (e o que é espantoso é que ainda lhe ligam)?
As afirmações da Dona Helena Matos correspondem ao que se espera da personagem...
O facto, insofismável, é que o funcionamento de qualquer organização reflecte, sobretudo, a acção e o empenho das pessoas que a constituem. Se funciona mal (como muito se diz, generalizando abusivamente, dos Sindicatos - mas pouco se prova), se está "ultrapassada" (também está muito "in" esta expressão, dá logo um ar "avançado" a quem a profere, sobretudo quando a audiência é mansa...), a principal responsabilidade é dos seus membros ou associados. Mas são eles, tão cidadãos como os sindicato-críticos, que decidem sobre as organizações a que pertencem.
É certo que ando, normalmente, ocupado com coisas mais consistentes e produtivas, mas não será distracção minha parecer-me que, curiosamente, ao amontoado de acusações e lamentos lançados sobre sindicatos e sindicalistas, não corresponde sequer um minúsculo volume, um opúsculozito, com propostas alternativas para a defesa dos trabalhadores, não apenas do que comummente se designa por "os seus direitos" mas, sobretudo, por algo mais vasto, que inclui tudo o que possam reivindicar: a sua dignidade como seres humanos. Porque é essa dignidade que vem sendo espezinhada pelos detentores do poder económico e seus agentes políticos, fazendo regredir a situação de quem trabalha por conta doutrem a condições que, nalguns casos, chegam a ser piores que as verificadas em pleno século XIX.
A menos que estes vaporosos críticos do sindicalismo tenham saudades (mesmo sem o saberem, que isto de não sentir a ditadura na pele provoca graves ataques de ignorância) do tempo do Corporativismo, da "Democracia Orgânica" do salazarismo, dos "bons tempos" em que os bondosos ocupantes dos diversos poderes já cuidavam de "todo o povo", em plena "harmonia de classes", pelo que não era preciso que ninguém defendesse os trabalhadores, não passando os Sindicatos (de filiação obrigatória) de mais uma fonte de receita para o Estado.
Se estas boas almas andam tão preocupadas com os Sindicatos (alguma vez pertenceram a algum?), porque não se empenham na construção de alternativas "modernas e dinâmicas"- quiçá vertiginosas e pós-modernas - que os substituam na representação dos trabalhadores e dos seus interesses (a fábula da convergência "patriótica" também integrava a panóplia da doutrina salazarenta, "hélas"...)
Claro que há quem esteja entusiasticamente interessado na depreciação de sindicatos e sindicalistas: não, certamente, a maioria dos trabalhadores.
Paulo Rato
Paulo Rato: Se reparar (embora o seu “nickname” de “plácido agitador”, não tão plácido como isso possa ter influenciado o seu comentário), a crítica que faço no meu post não se reporta ao sindicalismo nos seus aspectos positivos.
Apenas a:
1. Um sindicalismo retrógrado que pretende fazer reviver um sindicalismo do século XIX, agitador de massas acéfalas a que as manifestações ruidosas de rua conduzem como forma de imposição de desígnios meramente políticos, a exemplo do que se passou logo após o 25 de Abril,como refiro no meu texto.
2.Um sindicalismo que se tornou um modo de vida, uma verdadeira profissão, para dirigentes que nele se eternizam sem exerceram a profissão para a qual, com maior ou menor esforço, se habilitaram.
3.Um sindicalismo que se opõe feroz e publicamente a que os professores, a exemplo de mais de uma dezena de outras profissões de igual ou menor formação académica, se organizem (ou pretendam organizar) numa ordem profissional que se preocupe com aspectos profissionais que transcendem meros aspectos laborais.
4.Um sindicalismo docente que, pelo contrário, se encontra pulverizado em bem mais de uma dezena de sindicatos com visões profissionais, políticas e sociais bem diferentes.
5.Um sindicalismo que, logo a seguir ao 25 de Abril, permitiu, mais do que isso acarinhou, a inscrição de agentes de ensino sem qualquer habilitação específica e como simples recurso enquanto não acabavam os seus cursos ou conseguiam um outro modo de vida.
6.Um sindicalismo que abdicou dos princípios da sua génese (tipificados nos próprios estatutos), princípios que o fizeram assumir um rosto próprio, ter um propósito da dignificação profissional e aumentar o número dos seus sócios que nele acreditavam e que, de repente, deles abdicou com a sua subordinação a uma chamada plataforma sindical.
Não foi essa a leitura que, pelos vistos, fez do meu post. E foi pena!Apenas apresentou, como “ultima ratio”, como escreve preto no branco, “a fábula da convergência ‘patriótica’ que também integrava a panóplia da doutrina salazarenta”. Curiosamente, na campanha para as próximas eleições presidenciais, a candidatura do candidato do PCP, nos cartazes de rua, faz apelo ao patriotismo.
Longe vão os tempos, numa sociedade actual de vira-casacas, de Álvaro Cunhal (homem de uma só fé que, por isso, deve merecer o nosso respeito), querendo fazer passar a mensagem de um comunismo em que "Moscovo era o sol da terra”.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, mas como escreveu Sophia de Mello Breyner, também eu “acho que não se pode criar em nome do anti-fascismo um novo fascismo”, mormente, por alguns daqueles que, de fato e gravata, vitoriavam Salazar nas suas aparições públicas e hoje se transvestem, nas manifestações de rua, com o fato-macaco de falso e honrado operário!
Olhe, Paulo Rato:
Realmente, talvez por conhecer a acção de alguns sindicalistas, de diferentes sindicatos da educação, eu nunca pertenci a nenhum.
E sempre pensei que era dedicando-me honestamente à profissão que escolhi que poderia contribuir, na medida que me era possível, para alternativas, senão "modernas", pelo menos suficientemente dinâmicas para serem úteis aos meus alunos, ao meu país e, naturalmente, a mim próprio.
Mas nunca fui nem sou anti-sindicatos. E por isso já fiz greves e participei em manifestações organizadas por sindicatos. Sem grande esperança de modificar o que quer que fosse, como a realidade tem demonstrado sobejamente...
Digamos apenas que o caminho que gostaria de seguir e o rumo que gostava que o meu país tomasse, particularmente no que diz respeito à educação, não coincidem com o que presencio e vivo cada dia.
Mas aceito o meu quinhão de responsabilidade, com a mesma frontalidade e veemência que pôs na sua crítica.
Cordialmente.
Errata: Para uma necessária correcção da minha frase inicial, na 2.ª linha, deverá ser colocada uma vírgula entre as palavras isso e possa.
Rui: o "plácidoagitador" - invenção que resultou da inexperiência, quando me inscrevi para intervir nestes blogues, desapareceu hoje.
Não li o seu artigo como pensa; de resto, raras vezes me deixo flutuar à tona das palavras ou limitar por lunetas de pouco alcance - essa é, mesmo, a principal razão porque me consideram, com frequência, incómodo.
Claro que reparei que a sua crítica "não se reporta" aos "aspectos positivos" do sindicalismo. Nem o seu comentário posterior... Talvez não os encontre?
O meu comentário não se dirige apenas ao seu "post". É também motivado por comentários anteriores ao meu. Mas pesa nele a referência ao artigo da Helena Matos, citando a prosa preconceituosa da opinante, o que já constitui um indicativo do alvo que, conscientemente ou não, se acaba por atingir.
O seu artigo tem como tema central os Sindicatos dos Professores, mas não evita expandir-se por ambíguas referências a "Sindicatos" - que, talvez inadvertidamente, se tornam generalizadoras - e a críticas ao sindicalismo com traços marcadamente ideológicos (tal como a História, as ideologias não faleceram). Corrobora-o a tão gasta referência a "pombos-correios", remetendo a maioria - neste caso dos professores; em geral, dos trabalhadores - para uma menoridade de inteligência.
Mas isso já está exposto no meu comentário, que terá lido com alguma ligeireza: ou não confundiria "fábula de convergência patriótica", no contexto utilizado, com uma valoração negativa do patriotismo; nem alinharia uma série de pontos que só confirmam o que afirmei sobre organizações e a responsabilidade dos seus membros no respectivo funcionamento, sobre críticas repetitivas e ausência de propostas alternativas, etc.
Não comento (não sou professor) o que afirma sobre a organização dos professores, excepto um pormenor: a "pulverização", de que também discordo, deve-se, se ainda não reparou, a razões político-partidárias (de origem mais próxima do 25 de Abril) e elitistas (mais recentes); mas, em democracia... só a consciencialização, pelos próprios professores, dos prejuízos que ela lhes traz, pode alterar a situação.
Fui sindicalista durante cerca de 30 anos. Sem deixar a minha profissão. Não defendo, pois, nada em que tenha um interesse directo, de auto-justificação retroactiva, quando reitero a importância de existir um núcleo de dirigentes sindicais com dedicação a tempo inteiro. É que, dos outros lados (governos e patronato) estão profissionais experimentados, com mestrados em "chico-espertismo"; e, infelizmente, tive oportunidade de assistir ao que acontece quando os seus interlocutores sindicais não estão bem preparados.
Convém, sempre, ver para além da superfície e da propaganda das classes dominantes e seus governos, centrada em afirmações simplistas que facilmente seduzem (e domam, e subjugam) os menos precavidos.
Aproveito para solicitar ao Américo que (em consonância com bitates que por aí circulam sem inocência...) não enterre prematuramente as pessoas mais velhas, com o intuito patético de as substituir por jovens, não raro imbecis e mais mal preparados: testemunhei-o quando, na RDP e RTP, desembocaram umas criaturas imberbes (decerto brilhantes licenciados em gestão e coisas afins), de um grupo internacional de "consultoria", falando muito inglês e assim desnudando a sua incompetência bilingue (o que é uma proeza) e a abissal ignorância de tudo, gestão inclusive: o saber não é confundível com formatações, ainda que "superiores". E também assisti ao abandono prematuro de cargos (no Ministério da Educação, p.e.) por pessoas com elevado nível de especialização, perante a aterragem, em categorias hierárquicas superiores, de artolas pára-quedistas oriundos das aeronaves partidárias que nos têm desgovernado.
Para o José Batista da Ascenção: Quanto ao "caminho" e ao "rumo" coincidimos, ao menos na discordância face à actualidade. E há muitas maneiras de participar.
Paulo Rato
Paulo: Pelo interesse que me mereceram os seus comentários, acabo de publicar a minha resposta no post "Reflexões sobre o sindicalismo docente".
Caro José Batista da Ascenção: Concordo em absoluto com esta sua proposta:"Há porém alternativa mais fácil para os males do país e da escola: execrar os horríveis professores. Sem excepção".
Só que...que estes execráveis professores, de uma forma geral, têm a cobertura de sindicatos que não querem perder a respectiva clientela. Se reparar, ouve-se, amiúde, dizer que os professores são todos bons só que há uns melhores do que outros!
Quem anda, ou andou, pelas tortuosas vias do ensino, sabem bem que isto não corresponde, de forma alguma, à realidade dos factos. Para não sermos juízes em causa própria, todos nós temos (ou tivemos) Colegas excepcionais e outros "execráveis" sem que se levantassem vozes em uníssono para dizerem que o rei vai nu. Somente, quando da famigerada divisão entre professores titulares e professores, "tout court", em que os piores, ou menos habilitados, tomaram a dianteira dos melhores é que houve um "Aqui d’el rei"!
Várias vezes foi por mim pedido publicamente a percentagem de professores que não chegaram ao 10.ºnescalão desde que tivessem habilitação académica e anos de serviço para o efeito. Debalde!
Meu caro Rui Baptista:
Tenho que cuidar um pouco mais a minha escrita.
Quando, em cima, escrevi "Há porém alternativa mais fácil para os males do país e da escola: execrar os horríveis professores. Sem excepção." estava a tentar fazer ironia.
Mal conseguida, pelos vistos.
Apetece-me deixar-lhe um abraço amigo.
Prezado José Batista da Ascenção:
Não tem que cuidar da escrita do seu comentário que a tive como escorreita. E direi porquê.
Parece-me, e o meu bom Amigo dirá se assim é, com a frontalidade que tem sido o timbre dos seus comentários, que o erro reside em mim ao ter tomado no sentido literal a sua frase, e não no sentido irónico que diz subjazer-lhe.
Correndo o risco de ser, no mínimo, politicamente incorrecto, direi que há no ensino professores "execráveis" (no sentido de nefastos) para o prestígio de uma classe em que, em nome de uma falsa igualdade, se comete o crime de defender a bondade de todos os agentes de ensino à sombra de uma falsa e indesejável solidariedade profissional, como se em todas as profissões não houvesse excelentes, bons, maus e péssimos profissionais.
Como bem escreveu o professor jubilado de Direito e antigo reitor da Universidade de Coimbra, Rui Alarcão: “O princípio da igualdade, que está na Constituição, significa que o que é igual deve ser tratado igualmente e o que é desigual deve ser tratado desigualmente”. Ora não tem sido o critério seguido na avaliação da profissão docente em que se quis (ou quer) fazer crer a opinião pública de uma hegemonia verdadeiramente utópica em que não há deuses e demónios, apenas santos, ainda que de pau carunchoso…
Humanize-se, nas suas virtudes e defeitos, uma profissão em que, nas palavras Pierre Bordieu, “só uma política inspirada pela preocupação de atrair e d promover os melhores, esses homens e mulheres de qualidade que todos os sistemas de educação sempre celebraram, poderá fazer do ofício de educar a juventude o que ele deveria ser: o primeiro de todos os ofícios”.
Com muito gosto, retribuo o abraço amigo.
Prezado Rui Baptista:
Parece-me que o que escrevi pode ser interpretado como o fez, embora eu ironizasse sobre os execráveis professores, assim considerados, sem excepção. Que é outra forma de os igualizar...
E, sim, com dor o escrevo, há professores execráveis. Concordo, pois, consigo e aprecio a clareza, a honestidade e frontalidade com que o afirma.
Por isso, não me canso de perguntar. Como foi possível que entrassem na profissão? Quem (e como) os diplomou?
Como vê, também eu não estou disposto a ser "politicamente correcto". Mesmo que arranje alguns inimigos...
Aceite outro abraço.
Meu Prezado José Batista da Ascenção:
O nacional porreirismo tem sido uma mal que, pouco a pouco, mas insidiosamente, tem corroído o tecido social português tornando-o numa verdadeira chaga. Dizer a verdade, pode trazer ódios (melhor, traz sempre), mas, como eu costumo dizer, há ódios que honram mais do que certas amizades que se ganham por um silêncio cúmplice ou mesmo criminoso.
Defender os maus professores é uma afronta para os bons professores e, principalmente, um crime de lesa-majestade para com os alunos, e o próprio país, de um sistema de ensino que toma o gato por lebre.
A exemplo de Eça, reconheço que “é útil balar com os carneiros; ganha-se a estima dos nédios, as cortesias dos chapéus do Roxo, palmadinhas doces no ombro, de manhã à noite uma pingadeirazinha de glória. Mas ir sacudir, incomodar o repouso da velha Tolice Humana, traz desconfortos; vêm as caluniazinhas, os odiozinhos, os sorrisos amarelos, a cicuta de Sócrates às colheres”.
Ou seja, a escolha tem que ser feita entre “a estima dos nédios” e a nossa consciência. Optámos ambos pela nossa consciência sabendo de antemão não ser este um caminho sem antolhos. Como escreveu o meu bom Amigo: “Como vê, também eu não estou disposto a ser politicamente correcto. Mesmo que arranje alguns inimigos.”
Só espero que os críticos furiosos do corporativismo das ordens profissionais (esquecendo as suas virtualidades) não se tornem, eles próprios, escravos de um corporativismo primário em defesa de professores que não honram a profissão.
Prezado Valdecy Alves: Há sempre uma saudável tentação em comparar o que se passa no Brasil e em Portugal.
No que respeita aos vencimentos dos professores, aí, no outro lado do Atlântico, julgo que os professores do ensino não superior são bastante mais mal pagos do que outros técnicos superiores de formação universitária.
Pelo contrário, aqui em Portugal essa "décalage", de uma forma geral, não se verifica com o pecadilho de não se fazer destrinça nos salários docentes em função do grau académico (e muito menos de competência e dedicação ao ensino). E quando essa diferenciação, por mínima que seja, existe logo se apressam escolas privadas (ou mesmo estatais) a vender diplomas de equivalência em verdadeiro saldo de fim de época. Saldo de fim de época, não pelo preço das propinas (essas elevadas), mas pelo facilitismo curricular e duração lectiva.
Pelo que depreendi no seu comentário (dir-me-á se bem ou mal), o cerne, nessas paragens, reside na paridade que deve existir entre um bom ensino e um salário justo dos seus docentes.
Ora, em Portugal, como denunciei acima, a questão transcende o binómio qualidade de ensino/salário dos professores. Ou, pelo menos, não se coloca com a mesma acuidade.
Sem querer abusar do seu contributo para esta discussão que muito poderá beneficiar por um esclarecimento que conceda sobre estes dois quesitos:
1º. A formação académica de um professor das primeiras letras é idêntica à do docente dos derradeiros anos do ginásio (correspondente ao nosso actual ensino secundário, antigo liceal) para acesso ao ensino universitário?
2º. O vencimento destes docentes é o mesmo?
O seu contributo nesta temática será valioso atendendo à sua formação jurídica e ao seu currículo de “assessoria em vários sindicatos”.
Cordialmente, agradeço o seu comentário.
Miguel Teixeira
É com grande gosto que acompanho algumas das discussões deste blog, esta em particular. Sendo estudante, não tenho a mínima dúvida de que existem professores absolutamente fenomenais, conseguem realizar verdadeiros milagres naqueles que ensinam, enquanto outros que são uma ruína, verdadeiros zeros por incompetência ou falta de vontade.
O que considero ser o problema dos sindicatos e dos sindicalistas, principalmente desse belo espécime que é o Mário Nogueira, é a tentativa descaradíssima de nivelar tudo por baixo. Não existindo diferenciação e avaliação dos docentes (e isto é verdade para qualquer profissão) os bons tratados como os maus. Nem os primeiros são valorizados e recompensados, nem os segundos corridos para onde não possam causar danos. Em artigos recentes do jornal The Economist (não é só cá que o problema existe) reafirma-se a importância da qualidade do professor para a aprendizagem do aluno http://www.economist.com/node/17851511. Infelizmente tanto para o bem como para o mal.
A solidariedade e a lealdade de um grupo profissional não deve residir no próprio grupo, funcionando como máfias dos medíocres, mas sim na sociedade (a ela sim devem servir) como um todo. No que a fenprof e alguns outros sindicatos caem é no umbiguismo a que as suas clientelas exigem. E sabem o que me preocupa? É pensar que se a maior parte dos membros fossem bons não permitiriam este estado de coisas, pode ser um erro meu mas tendo, e com pena, a pensar que a maioria deles não pode deixar de ser de duvidosa qualidade. Deixo aqui outro link interessante sobre este problema http://www.economist.com/node/17849199.
Não diabolizando os sindicatos que são sem dúvida um contra-poder essencial na democracia actual, a forma como actuam deixa muito a desejar. Eles mesmos se destroem aos olhos da opinião pública e da própria classe que representam quando caem no protesto pelo protesto, na manif pela manif sem se vislumbrar o mínimo interesse naqueles que deviam servir e em melhorar este país. Patriotismo deste só mesmo se for como dizia Oscar Wilde “ the virtue of the vicious”.
Caro Miguel Teixeira: A resposta a este seu comentário, formulei-a no meu post "Reflexões sobre o sindicalismo docente". Aproveito a oportunidade para lhe agradecer o seu comentário.
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