Sobre Cagliostro (em cima o seu selo), que se dizia eterno ("io non sono di nessuna epoca e di nessun luogo; al di fuori del tempo e dello spazio, il mio essere spirituale voiive la sua eterna esistenza"), e de quem aqui falei, encontrei o livro de Ian McCalman, historiador australiano, "Conde Cagliostro. O último alquimista" (Pergaminho, 2007), onde ele, citando Umberto Eco, fala da actualidade do conde charlatão da época das luzes. Transcrevo da p. 226:
"O retrato pintado por Carlyle - Cagliostro como arquétipo do charlatão - era tão convincente que, como todos os mitos, depressa se evadiu do seu contexto histórico e viajou até aos nossos dias, onde outro brilhante crítico social, Umberto Eco, o encontrou e lhe deu novo enquadramento. Para Eco, Cagliostro é um profeta, não tanto do Iluminismo ou da era industrial, como deste nosso tempo pós-moderno. Eco vê Cagliostro como um signo vazio, uma pessoa de uma vulgaridade tão transparente que se tornou um íman para as múltiplas fantasias daqueles que perderam o sentido da realidade. Hoje, escreve ele, aventureiros como Cagliostro trocaram a Itália e a França pela Califórnia, onde assumem o papel de profetas da Nova Era, mágicos e curandeiros, alimentando-se da insegurança e da confusão moral das pessoas. os Cagliostros de hoje proclamam uma "crítica da razão", substituindo o mundo real por "uma indústria da falsificação" - os hiper-realistas "castelos encantados", "mosteiros de salvação", catedrais kitsch e cemitérios com garantias de salvação eternas. Os modernos xamãs da televisão imitam o copta, erguendo os olhos ao céu para evocar aparições divinas, rugindo ao lutar com os demónios, curando pessoas com palavras de mel e imposição de mãos. É em Los Angeles, mais do que em Roma e em Paris, que encontramos os descendentes directos da maçonaria egípcia, numa manta de retalhos em que cabem gurus da Nova Era, videntes da Internet, exorcistas, necromantes, pseudo-rosacrucianistas e autoproclamados Cavaleiros do Templo".
8 comentários:
HÁ UM GRANDE LIVRO QUE A PROPÓSITO DO TEMA CONTINUA BEM ACTUAL, O PENDULO DE FOULCAT, UMA AUTÊNTICA PARÓDIA A ESSAS TRETAS.
Então e Krishnamurti?! , tb perdeu o sentido da realidade? ou todos aqueles que pensam, para além dos sentidos ( que se conhecem ) estarão loucos?
Não será o pensamento tb um sentido? Não viverão ( alguns) numa verdadeira ditadura, limitados a acreditar unicamente nos 5 sentidos ?
O mestre Krishnamurti, que acentuava constantemente a necessidade do auto-conhecimento e da compreensão das influências restritivas e separatistas das religiões, bem como das condicionantes da nacionalidade (Krishnamurti, 1993: 9, chama-nos a atenção para a origem das crises. De facto, “ a crise não está na política, ou nos governos, sejam eles totalitários ou democráticos; a crise não está entre os cientistas nem entre as religiões estabelecidas e respeitáveis, a crise está na nossa consciência, ou seja, no nosso cérebro, no nosso coração, no nosso comportamento, nos nossos relacionamentos” (Krishnamurti, 1993:99).
Cumpts,
Madalena Madeira
"Então e Krishnamurti?! , tb perdeu o sentido da realidade?"
Sim, embora com a sua história de vida poucas hipóteses tinha de escapar a isso.
Discordo de Krishnamurti e de Madalena Madeira. A crise não está na nossa consciência, nem no nosso cérebro, nem no nosso coração. Isso é variável. Na minha mulher, a crise costuma estar na vesícula. Em mim, é mais nos rins. No meu tio bebedolas, é no fígado.
Caro Armando Quintas:
Sim, Eco refere Cagliostro na obra ficcional "Pêndulo de Foucault". Mas critica-o nos seus livros de ensaios "Viagem na Irrealidade Quotidiana" e "Entre a Mentira e a Ironia" (as duas na Difel).
Caro Pedro Ribas
Concordo. Krishnamurti é um dos vários exemplos modernos de quem perdeu o sentido da realidade.
Cordialmente
Funes,
Achei piada ao seu comentário!Um humor muito britânico!
Mas, com todo o respeito, leia um pouco de medicina psicossomática, psicologia, psicoterapia, psicologia budista, auto-conhecimento, auto- consciência, psicanálise, meditação, hipnose. Nunca se sabe, talvez melhorem todos!
Ah! Há quem diga que os rins tem a ver com o medo, com a ligação com à mãe. Isto é, de acordo com a medicina ayurvédica e com a ligação aos chacras.
Cumpts,
Madalena Madeira
Infelizmente neste dominio, a separação de águas situa-se sempre ao nivel daqueles para quem a compreensão da realidade é determinada pelo uso da razão e daqueles para quem isso não é suficiente.
Uns sofrem de orgulho e outros de superstição.
Ambas são formas de obsessão correspondendo à utilização desequilibrada de uma das duas funções de operação da mente : raciocinar / sentir.
A transformação da mente no sentido de integrar de forma harmoniosa o funcionamento deste binário é o que se designa por Grande Obra e é profusamente descrito como o casamento do Sol e da Lua ou do Rei e da Rainha.
Tanto o cientista como o "crente" estão no mesmo patamar de compreensão do processo que leva à execução desta transformação e que se encontra descrito através de simbolos, alegorias e na linguagem das respectivas épocas nos textos alquimicos, mágicos e cabalisticos.
O que não é legitimo é que a mesma ignorância, leve uns a desacreditar e outros a dogmatizar.
O mais correcto, para ambos, será afirmar: "Desconheço. A minha experiência pessoal não me permite confirmar nem desmentir."
Cagliostro
A experiência permite assistir a diferença entre o que acima é descrito e que brevemente discordo: o cientista e o crente, estão em patamar diferenciado, sob perspectiva de respostas que venham colaborar por transformar a realidade.
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