domingo, 19 de outubro de 2008

Ranking de Universidades - 2




















O post do Carlos sobre o ranking das universidades portuguesas suscitou alguns comentários que me decidiram a acrescentar alguma informação e esclarecer alguns aspectos do investimento em ensino superior público em Portugal.

Parte dos dados provêm do Relatório de 2008 da UE ‘Education and training 2010’:
http://ec.europa.eu/education/policies/2010/progressreport_en.html

Ranking das universidades portuguesas

O THES-QS é um dos dois rankings utilizados pela UE. O Outro é o ARWU produzido por uma universidade chinesa. Estes rankings produzem resultados diferentes, porque usam metodologias distintas. A U. Coimbra é a primeira portuguesa no ranking THES, surgindo em 387 lugar, e não aparece no ARWU. Passa-se o contrário com as U. Porto e U. Lisboa, que estão no ARWU. A U. Porto está para lá das 500 no THES. O Reino Unido tem 19 universidades no top 100 segundo o THES e 11 segundo o ARWU. A França tem 2/4, a Holanda 4/2, a Alemanha 3/6 e a Espanha e Portugal 0/0. Mas, no top 500 do ARWU, a Espanha já tem 9 e nós apenas 2, tal como a Polónia, a Grécia e a Hungria.

Uma outra fonte de informação, directamente relacionada com a produção científica é a métrica do Institute for Scientific Information (ISI) que fornece "rankings" de universidades baseados no número de artigos publicados em revistas indexadas no ISI – que correspondem a milhares de publicações e são geralmente as mais importantes em cada domínio – por um período de dez anos. Nessa avaliação as maiores universidades portuguesas aparecem assim escalonadas (este sistema não tem qualquer ponderação do número de investigadores – são valores absolutos):

a U. Porto tem 8 áreas identificadas com elevado índice de produção científica com 7040 artigos;
a U. Coimbra tem também 8 áreas, com um total de 5404 artigos;
a U. Aveiro com 6 áreas e 5137 artigos;
a U. Lisboa com 5 áreas e 4756 artigos;
a U. Nova de Lisboa com 4 áreas e 3522 artigos;
a U. Minho com 3 áreas e 3256 artigos;
a U. Técnica de Lisboa com 1 área e 1937 artigos.

A produção científica das universidades e laboratórios – a maior parte deles integrados em universidades – tem crescido nos últimos anos a um ritmo superior a 300/ano. Entre 2005 (6097 artigos) e 2006 (7527 artigos) o incremento foi de 23,5% (dados do GPEARI).

Contudo, este crescimento na produtividade científica não é acompanhado por qualquer investimento no ensino superior.

Investimento no ensino superior em Portugal

A variação do investimento em conhecimento (soma do investimento público e privado em investigação e desenvolvimento no ensino superior), avaliado pela OCDE entre 1997 e 2004 é dramática: Portugal aumentou 0,2%. Isso coloca-nos em último lugar, no conjunto de uma variação média na OCDE de 0,7%.

A despesa pública em Ensino Superior em percentagem do PIB foi de 1,03 em 2001 e de 0,84 em 2004. Isso corresponde a um decrécimo de 18.5%! A variação média da UE, no mesmo período, foi no sentido contrário, de 1,05 para 1,13, respondendo ao desafio da agenda de Lisboa. Que países gastaram em ensino superior menos do que nós em percentagem do PIB? Lituânia, Malta e Bulgária!

Portugal foi, contudo, o quarto país com maior crescimento de licenciados em matemática, ciências e tecnologia entre 2000 e 2006, logo a seguir à Itália, Polónia e Eslováquia. Começámos tarde – até 1974 é o que se sabe -, mas estamos a avançar, mesmo com menos dinheiro do estado. Quanto às diferenças entre os sexos, estamos bem melhor. Só a Bulgária e a Estónia têm proporcionalmente mais mulheres graduadas que Portugal (39,7%).

Estes dados revelam um grande desinvestimento no Ensino Superior em Portugal, que já era um dos países da união com mais baixo investimento neste nível de ensino. Apesar disso, as universidades formam mais pessoas e fazem mais investigação.

Para fazerem face a transferências da administração central de despesas com as aposentações, por exemplo, acompanhadas de reduções orçamentais sucessivas, as universidades públicas estão a passar por um processo de asfixia progressiva, como tem sido noticiado. E isso tem consequências.

Uma das consequências é a de que as universidades não têm meios para contratar jovens cientistas. Os nossos muito bons cientistas que partem para fora, para se formarem ou para investigarem, têm uma enorme dificuldade em serem absorvidos pelas universidades portuguesas, que não têm verbas para os contratar. Uma atitude diferente foi desenvolvida em Espanha, onde se procedeu à incorporação da maior parte dos bons doutorados dos programas intensivos de doutoramento financiados pelo governo espanhol.

Apesar de apresentarmos uma investigação progressivamente mais internacionalizada e uma maior produtividade, o desinvestimento no ensino superior vai ter consequências muito negativas a médio prazo no ensino e na investigação em Portugal.

1 comentário:

alvares disse...

A "falta de investimento" pode ser uma dificuldade se se souber onde gastar dinheiro. A determinado momento é dito que as universidades portuguesas querem "contratar jovens cientistas portugueses que estão fora", mas será que querem mesmo? Parece-me que há demasiada "inocência" nesta frase, sinceramente, acho que o que se passa nas universidades portuguesas é quanto menos "concorrentes" aos lugares melhor....
Para mim este ideia que há "falta investimento" nas universidades soa-me a uma grande "cantiga" para desviar atenções... Se há falta de investimento porque as universidades não fazem as mesma campanhas de publicidade e marketing para alunos de doutoramento da mesma maneira que fazem para alunos de licenciatura? As propinas são mais altas e dão mais produção cientifica à universidade....

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