quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"Isto é dramático?"


"Porque é que há uma corrida dos professores à reforma - 700 só no próximo mês?
O aumento da idade de reforma e a alteração do estatuto de carreira do docente acarretaram, sobretudo para os professores em fim de carreira, uma mudança. Alguns iam à escola quatro horas por semana. Foi preciso dizer aos professores que as outras horas de trabalho, que o País paga, são precisas nas escolas, que os alunos precisam delas. Imagine um professor que ia oito horas à escola e que, de repente, passa a estar lá 25! Pessoas que acumulavam nos colégios privados, deixaram de poder acumular. Isto é dramático? Do ponto de vista do sistema, não é dramático. Hoje, o País tem milhares de jovens diplomados a querer entrar no sistema de ensino."


Esta foi uma resposta da Senhora Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, a Paulo Chitas em entrevista à revista Visão do passado dia 16.

Dados divulgados na imprensa dão a conhecer que no ano de 2007 mais de três mil professores passaram à reforma; no presente ano o número já anda pelos cinco mil.

Quando vou às escolas percebo uma vontade geral dos professores, mais velhos e mais novos de partir, uma vontade quase desesperada de abandonar um sistema que os sufoca, que não os deixa ensinar como acham que está certo ensinar, que os impede de se concentrarem nos alunos... e percebo uma mágoa, quase sempre recatada, pelo facto de a sua dedicação, o seu empenho, o seu brio profissional ser sistematicamente enxovalhado por quem devia, em primeiro lugar, cuidar de os reconhecer como elementos fundamentais da sociedade.

Se há professores que não cumprem, que os deve haver, há professores dedicadíssimos que não deveriam ser assim apreciados pela Ministra que os tutela.

7 comentários:

Filipe Moura disse...

"Alguns iam à escola quatro horas por semana." A ministra fala em "alguns", na sua resposta (que me parece bastante adequada). Com efeito, "Hoje, o País tem milhares de jovens diplomados a querer entrar no sistema de ensino."

Por que é que Helena Damião responde como se a ministra tivesse dito que "todos" os professores vão à escola quatro vezes por semana?

Tino disse...

Só os socratinos (e outros terminados em tinos) ainda conseguem defender esta criatura que faz de conta que é ministra da educação.

Seria útil a senhora ministra dizer quantos professores iam à escola «quatro horas por semana»?

Quando ela diz "alguns" está a dar ao País a ideia fantasiosa de que são todos ou que são muitos.

O sr. Filipe Moura não percebe ou não quer perceber?

Eu não conheço a realidade docente do básico ou do secundário. Mas duvido de que haja muitos professores nessa situação, a não ser pessoas com problemas de saúde. E nesse caso serão umas dezenas ou centenas em 150.000 professores.

A senhora ministra sabe de números, mas especialmente de como enganar os Portugueses com a sua manipulação.
Viu-se isso com a burla dos exames nacionais...

Helena Damião disse...

Estimado Filipe Moura agradeço o seu comentário. Pode ser que a Senhora Ministra tenha razão, que antes desta legislatura alguns professores fossem apenas quatro horas à escola, ou oito horas... Eu penso conhecer razoavelmente a função docente no nosso país e não me parece que isso tenha sido a regra. Bem pelo contrário, parece-me que o trabalho docente, dentro e fora da escola (pois fora dela os professores também trabalham) se prolongasse por muito mais horas. Também não me parece que actualmente os professores trabalhem apenas 25 horas por semana. Se todos o fizessem, pura e simplesmente, as escolas não funcionavam.
É pena não termos investigação sobre o tempo real e total que os professores dedicavam e dedicam ao seu trabalho. À falta dela, ficamo-nos pela opinião, que, por ser dependente dos pontos de vista, é muito falível.

Luis Neves disse...

A resposta da ministra a esta pergunta é um insulto e uma ofensa a todos os professores que se estão a reformar nestes últimos anos das escolas.
Todos estes Professores têm carreiras de mais de trinta anos ao serviço da Educação dos Portugueses, têm um trabalho que é reconhecido pelos pais nas populações das localidades onde lecionaram. Isso nunca pode ser medido pelo nº de horas semanais que lecionavam no fim da sua carreira. Estes Professores têm o mérito e o valor que não se pode quantificar, de terem contribuido para a formação de MILHARES de ALUNOS durante a sua carreira. A minha mãe que foi Professora, e felizmente já se reformou, teve alguns anos em que tinha 6 turmas de 30 alunos, mais de 150 alunos por ano, foi dos orgãos de gestão onde passava certamente mais de 35 horas por semana na escola. É certo que acabou a carreira só com 8 horas lectivas , mas o que não é honesto é dizer que uma pessoa com 65 anos que tem que ir dar aulas a adultos vai à escola 8 horas e pronto. A minha mãe passava pelo menos outras 8 horas em casa a preparar aulas e materiais e a corrigir testes. Ser Professor não é só ir lá à sala de aula e falar. Talvez seja assim no Instituto onde essa srª ministra (Professora) dava aulas (ISCTE), em que os horários dos assistentes são de facto de 8 a 12 horas. E onde os níveis de insucesso e abandono escolar são enormes.
Estes Professores não mereciam ter uma ministra assim. Que os trata como meros previligiados que vivem à custa do Estado. Esta Ministra é uma mera Contabilista da Educação e não pode ter o respeito de nenhum Professor.

Quem não sabe reconhecer e respeitar os seus idosos, ou os seus professores, ou seus mestres , Não pode ter a minha compreensão.

Luisa disse...

Estou na faixa dos 30 e a minha mãe é professora, (ainda), do ensino básico e secundário há várias décadas. Confirmo que os professores trabalham em casa - há que preparar as aulas e as escolas não dispõem de meios para permitir aos professores fazê-lo no local de trabalho, ao contrário de tantos outros profissionais que quando têm que fazer apresentações as elaboram no PC e secretária que o patrão lhes proporciona - e bem. Além disto, na minha faixa etária e nos dias que correm, as pessoas que ainda têm 1 filho ou dois (muitos já não têm nenhum) queixam-se de não terem 'estaleca' para acompanharem o ritmo de uma só criança que seja, p.ex., meia dúzia de dias nas férias entre os períodos, mas acham que os professores com o dobro da sua idade deviam aguentar 30 dessas crianças por hora, oito horas por dia, fechadas numa sala onde na maior parte das vezes acham que não têm obrigações nenhumas e que quem tem obrigações e está ali para os servir é o professor. Gostava de ver os pais desses miúdos tentarem dar um dia de aulas que seja e a seguir irem para casa tomar conta dos seus próprios filhos e preparar as aulas seguintes.Dar aulas cansa também fisicamente e exige uma energia e uma saúde que a generalidade das pessoas já não tem aos 60 - tomara tê-la aos 30, quanto mais... A mim parece-me natural a redução de horário e contar com as horas de preparação das aulas, mesmo que por meios próprios dos professores. A mim parece-me natural atender às especificidades físicas, morais e intelectuais desta profissão, como de qualquer outra.

Victor Gonçalves disse...

Creio que não é má vontade da Ministra, é estupidez, pura e simples estupidez. Não que ela o seja, mas as ideias que emana vêm quase sempre assim, cheias de estupidez.

RF disse...

Desculpem-me mas,

A ministra apenas falou de "alguns". Porque é que todos os que aqui escreveram acharam que pertenciam a esses alguns?
Pelo que descreveram não me parece-me que se encaixem nesse grupo de professores, que sabem que existem, em pequeno numero.
Isto independentemente do que penso das politicas educativas. No entanto acho que se analisar uma coisa de cada vez.

cumps

O QUE É FEITO DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS?

Passaram mil dias - mil dias! - sobre o início de uma das maiores guerras que conferem ao presente esta tonalidade sinistra de que é impossí...