segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Uma Breve História do Mundo

Estou a ler uma pérola de divulgação histórica: Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey. Num só volume breve, o autor consegue dar uma boa visão, com suficiente pormenor, da história da humanidade, desde os seus primórdios hominídeos em África, até ao séc. XXI. O autor consegue a façanha de não mentir ao leitor, fingindo que sabemos tudo sobre o nosso passado — diz-nos até, em certos casos, por que razão sabemos certas coisas sobre os nossos antepassados —, mas oferece uma visão suficientemente sintética para caber num só volume. Não é um daqueles historiadores palavrosos que passam a vida a dizer coisas que evidentemente não podem saber, mas não se inibe de fazer especulações sensatas sobre a razão de ser deste ou daquele acontecimento histórico ou pré-histórico. O livro tem sido um sucesso nos países de língua inglesa e no Brasil está já disponível pela editora Fundamento. O primeiro capítulo pode ser lido aqui.

A edição brasileira que tenho (a segunda, diz na capa) é de fazer chorar as pedras da calçada. Não indica o nome do tradutor (apesar de dizer online); tiraram o prefácio da edição original, assim como a bibliografia (!) e o índice remissivo. E a melhor descrição da tradução é que consegue imitar razoavelmente a língua inglesa com palavras portuguesas: ou seja, as palavras inglesas foram traduzidas, mas não houve qualquer mudança na estrutura sintáctica, que permanece maravilhosamente inglesa. Não sei até que ponto quem não lê fluentemente inglês consegue compreender muitas daquelas passagens, mas dado que o editor até a bibliografia tirou, já se sabe que presume que o leitor é demasiado besta para estar interessado realmente em compreender seja o que for.

Este tipo de edição deixa-me sempre sentimentos contraditórios. Por um lado, é uma falta de respeito pelo leitor, é tratá-lo como lixo idiota. Por outro, os leitores copiam tanto os livros, e tornam o negócio tão difícil, que eu compreendo que um editor poupe todo o dinheiro que puder — traduzir bem é caro, fazer índices remissivos também, e em geral o editor tem o sentimento de que se fizer isso entra numa espiral desgraçada: o livro vai ficar 10 reais mais caro, o que vai incentivar ainda mais a cópia pirata, o que faz diminuir ainda mais as vendas. Na maior parte dos casos edita-se lixo e até acho bem que se edite mal e para ganhar descaradamente dinheiro à custa de tolos, porque a economia depende em grande parte de tolos que compram tolices. Mas num livro realmente bom, como este, fico sempre incomodado com a falta de qualidade. 

Enfim, vale o facto de estar publicado — em Portugal, por exemplo, não há tradução. A quem lê inglês, recomendo evidentemente o original, que se pode comprar por 5 dólares apenas na Amazon.com.

5 comentários:

Alessandra - Lain disse...

Sou brasileira e concordo contigo. É triste ler livros traduzidos literalmente,sem aproximação de expressões típicas do inglês. Ficamos perdidos e, dependendo de alguns, é dinheiro jogado fora. Há um livro que li recentemente que é uma vergonha a tradução "O Fundo falso das pesquisas", de Cynthia Crossen.

Desidério Murcho disse...

Um aspecto caricato que me esqueci de referir, no que respeita à tradução: sempre que aparece a palavra "óleo" devia estar petróleo, que em inglês se diz "oil".

Jorge Oliveira disse...

O Acordo Ortográfico vem resolver tudo isso, não é verdade...?

Carlos Cauás disse...

Olá,

Realmente a questão do tradutor não aparecer no livro é terrível. Tava catalogando meus livros quando notei. Uma pergunta que gostaria de saber é a respeito do livro: 'uma breve história do século XXI', também está com esses problemas?

Grato,

Carlos Cauás

denise bottmann disse...

caro desidério: a fundamento é uma coisa! entrei com pedido de representação junto ao ministério público do paraná (estado onde fica a editora) reclamando da ausência de créditos. aparentemente deu certo.
http://naogostodeplagio.blogspot.com/2010/03/fundamento-e-ministerio-publico.html

não que isso resolva a qualidade da tradução, mas pelo menos o crédito é obrigatório...

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