segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Filosofia das artes e das ciências


O Carlos chamou a atenção para um livro apetitoso de Maria Helena Santana, e citou passagens que me parecem muito interessantes, por duas razões.

Primeiro, porque a autora parece identificar a ciência com a verificação. Efectivamente, muitas pessoas têm uma noção verificacionista da ciência; não sei se é o caso da Helena. Esta concepção de ciência, penso, está errada e quem o demonstrou foram precisamente os verificacionistas: os positivistas lógicos. Uma concepção diferente da natureza da ciência encontra-se no capítulo com o mesmo título do livro A Última Palavra, de Thomas Nagel. Concordo com o autor que o que conta na ciência e faz dela ciência não é a verificação, mas a justificação — e a justificação por via da verificação é apenas uma das modalidades da justificação.

Segundo, a Helena parece defender que a literatura ou as artes são contribuições significativas para o nosso conhecimento das coisas. Discordo desta ideia; a literatura e as artes dão-nos apenas um conhecimento aprofundado de coisas como estruturas narrativas, cores, formas, estruturas sonoras, etc. Não encontro na arte quaisquer ideias sofisticadas sobre assuntos como o sentido da vida, a natureza da realidade ou do pensamento, a existência de Deus, etc. A ideia de que há insights fundamentais nas artes sobre estes temas parece-me insustentável.

A posição da Helena parece exprimir uma concepção filosófica interessante da arte: a ideia de que o valor da arte tem de residir no seu contributo cognitivo geral. Isto parece-me insustentável. A arte pode ter valor por outras razões que não as estritamente cognitivas, e mesmo que tenha valor cognitivo, pode ser sobre aspectos muito delimitados da realidade, com os que referi. Ninguém verdadeiramente interessado num qualquer problema relativo à realidade ou ao nosso conhecimento dela fica a saber grande coisa lendo literatura, poesia ou vendo pinturas ou ouvindo música. E por que haveriam as artes de ter de dizer coisas interessantes sobre estes temas?

Note-se que seria na verdade muitíssimo surpreendente que um romancista, um pintor ou um músico pudesse realmente ter qualquer coisa de sofisticado para dizer sobre estes temas, dado que não os estuda sistematicamente como um filósofo ou um cientista. Só a ideia romântica de que os artistas têm um acesso privilegiado à verdade porque foram tocados pelos deuses pode sustentar a ideia de que se encontra na poesia ou na pintura algo de sofisticado sobre a natureza da realidade ou do conhecimento ou qualquer outro tema cognitivamente alheio aos próprios materiais da arte (cores, formas, sons, ritmos, narrativas, etc.). Isto parece concordar aliás com a prática das pessoas, que aparentemente não vão ler romances, ouvir música ou ver pinturas para descobrir se há deuses, qual é a origem do universo ou qual é o caminho da felicidade, mas fundamentalmente para terem um certo tipo de fruição estética que parece ter valor em si, independentemente de as artes terem ou não qualquer papel cognitivo amplo. Penso que esta fruição estética envolve aspectos cognitivos relacionados com o conhecimento de formas, sons, narrativas, etc., mas apenas nesse aspecto há cognição na fruição da arte. 

Sobre este e outros temas da filosofia da arte, vale a pena ler este livro.

25 comentários:

susskind disse...

Na Arte (literatura, teatro) aprende-se muito, por exemplo, sobre a realidade e a natureza das relacoes entre seres humanos. A ciencia nao tem nada a dizer sobre a maior parte das questoes humanas complexas. Possivelmente, as nossas capacidades cognitivas sao demasiados limitadas, ou demasiado especializadas noutras direccoes, para sermos capazes de compreender os mecanismos neuro-fisio-psico-socio-etc que estao na base das interaccoes e actividades humanas. Por isso, utilizamos outros modos para elucidar estas questoes, que sao ja' agora as mais importantes para nos enquantos seres humanos: recriamo-las em sofisticadas 'experiencias de pensamento' atraves da literatura, teatro, etc. para compreendermos e ganharmos intuicao sobre seu significado e assim nos conhecermos, e de maneira a encontrar um terreno e linguagem comuns entre todos. Nao somos capazes de sequer comecar a colocar 'cientificamente' a questao do que e' a consciencia; porem, atraves das artes exploramos os efeitos e as intuicoes da consciencia. Assim, neste sentido, julgo que so' mesmo atraves da Arte se pode explorar e construir algo como o sentido da vida, ou a natureza da consciencia humana, ou da realidade enquanto construcao humana.

João disse...

Eu penso que a ciencia ainda é baseada no metodo cientifico. E que o metodo cientifico é uma metodo fortemente baseado na experimentação sistematica. Não me ocorre outra justificação aceite na comunidade cientifica para alem desta. Excepção feita para justificações e analises matematicas.

LA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
LA disse...

Excelente post, estou admirado com o Desidério!
É mesmo isso, a arte é para fruição. Eu não aprendo absolutamente nada por ouvir o álbum dos Stones pela centésima vez, ou por ler o Crónica de Uma Morte Anúnciada pela décima, ou pela primeira, tanto faz.
É uma pena que este tipo de descontração diante da arte seja tão pouco divulgado.
A quantidade de mítos ridículos ligados às artes deviam ser mais vezes desconstruidos, como neste post.
Muito bem!
E eu que nem gramava nada o Deside...
Andas a aprender umas coisas.
Fico à espera do próximo!

gogol disse...

Caro Desidério:

Compreendo que um blogue não seja o espaço mais adequado para a exposição destes problemas, mas parece-me que está ser algo leviano na forma como interpreta as conclusões de Maria Helena Santana.

Embora não conheça de todo o estudo, não encontro ninguém nas letras que afirme que as artes prestam um "contributo cognitivo geral".
Talvez houvesse essa ideia no período naturalista que o estudo aborda (havia uma obsessão furiosa pelo "método experimental" de Claude Bernard), mas hoje dir-se-ia, quando muito, que as artes reúnem um conjunto de conhecimentos de natureza não objectiva, ou seja, excluem-se à partida de um conhecimento científico, filosófico ou "geral" da realidade. Para repetir um chavão muito usado, "as artes dizem aquilo que não pode ser dito de outra forma".

Aliás, esta concepção deve bastante às ideias românticas, em relação às quais está completamente equivocado! Como é óbvio, estes autores não pretendiam concorrer com a verdade científica, ver quem chegava lá mais depressa ou de forma mais certeira; pretendiam isso sim registar costumes, sentimentos e estados de consciência que escapavam a uma análise "objectiva".

Já agora, não sendo de todo crível que as pessoas gostem de arte porque lhes resolve o problema da origem do universo ou da existência de Deus, parece-me pelo contrário que procuram nela um "caminho para a felicidade" ou pelo menos uma orientação ética indelével.

Dou o exemplo de uma ficção que lhe deve ser cara, o Animal Farm de Orwell. Formalmente, é uma narrativa banal e até um pouco desinteressante; também não avança argumentos filosóficos ou científicos de relevo; no entanto, é inegável que muitas pessoas leram o livro e sentiram profundamente a revolta perante a injustiça e a desumanidade do totalitarismo com que Orwell o escreveu, de uma forma que nenhum tratado de ciência ou filosofia poderia despertar. Uma vez que a ficção pode assumir uma liberdade criativa única com a experiência vivida das pessoas, é capaz de exprimir um juízo sobre a existência que não é redutível ao juízo científico ou filosófico. Apenas isto (e não é pouco), o resto parece-me mais um "boneco de palha" feito pelo Desidério para melhor fazer realçar as suas próprias opiniões...

alf disse...

Meu caro Desidério, esteve muito bem na escolha da foto, mas não estou lá muito de acordo com o resto - o que é óptimo, porque o objetivo é pormos os neurónios a funcionar e nisso continua excelente!

É comum um cientista pensar que a ciência abarca todo o conhecimento possível, que o «método científico» se aplica a todas as questões.

Mas isso é uma visão muito estreita. O «método científico» aplica-se apenas a um número limitado de questões, há muitas outras que, por enquanto, são demasiadamente subtis - e essas são exactamente o campo priveligiado da literatura. Claro que há livros e livros, mas há muitos que abordam questões e conhecimentos completamente fora das capacidades da ciência actual.

Se só soubessemos o que a Ciência sabe estariamos muito mal - seriamos um pouco como aqueles cientistas que designamos por «neirds», não é?

Por outro lado, o famoso «método científico» não é nenhuma gazua universal para o conhecimento. Como irei mostrando no «outra fisica», ele só serve para fazer modelos da aparência do Universo; passar além disso exige algo mais que ultrapassa o método científico. Se calhar aquele «algo mais» que também gera certas obras literárias.

o cientista corre o risco de se transformar no seu próprio método e obter do universo apenas a visão reduzida que ele permite.

Mil disse...

Caro alf,

Não sei em que planeta vive, mas ao contrário de Melmac, aqui, a maioria dos cientistas não são pessoas que não saem do seu laboratório e não têm vida social (aquilo a que chamou de "nerds"). Surpreendentemente, as pessoas que fazem ciência são exactamente iguais às outras... E mesmo se alguns forem "nerds", acha que são pessoas menos felizes por isso?
Infelizmente, este é um preconceito que muita gente tem e que dá origem a um sentimento anti-ciência.

João disse...

Sr Alf:

Enquanto que a ciencia não tem a pretensão de ter explicação para tudo, eu penso que dada a sua historia recente (500 anos de ciencia e 200000 anos de humanidade)eu diria que ela vai se saindo bastante bem entre as outras formas eventualmente menos reducionistas e tendencialmente menos positivistas de agregar conhecimento. O conhecimento cientifico aumenta a um ritmo dificil de acompanhar mas facil de verificar. Pense nisso enquanto introduz texto comum no seu computador e o envia sob a forma binaria até ao servidor que aloja o "Rerum natura". Diz que é uma visão muito estreita do universo pelo que sou obrigado a concluir que o sr supoe ter uma melhor. Por isso a unica questão a que eu peço resposta é a que critérios obdece essa sua forma de construir saber e a que metodologia. Acho justo porque eu posso faze-lo em relação à ciencia e à matematica e é através dela que se ultrapassa o simples problema da percepção vs realidade. Em resumo, que critério de relevancia utiliza que permite construir um conhecimento que faz da ciencia "uma visão estreita". Uma vez que não creio que venha defender a anarquia como forma de aquisição de conhecimento, ou a velha teoria de que o que parece é.

E uma vez que designa "aqueles cientistas" por "nerds" e que se só soubesse o que eles sabem estaria muito mal eu proponho uma unica coisa. Abdique da tecnologia e medicina produzida pelos tais "nerds". Pelo menos seria consistente com as acusações.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Dest vez, o autor do post arrisca um pouco mais, mas para negar a dimensão cognitiva da arte, o que constitui um erro crasso. Mas não seria de esperar outra coisa de quem segue Nagel, o buraco negro da ausência de ideias! Há aqui uma prática da "filosofia" que, de facto, tem afinidades com a "narrativa", que o autor atribui a certa forma de arte.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, a interpretação das últimas imagens que acompanham os dois últimos posts, deixo-a aos cuidados de certa Escola Freudiana! (Era "desta vez..." :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ou seja, a concepção de arte aqui apresentada é muito redutora: Além de menosprezar as estéticas contemporâneas, parece ter em conta apenas a culinária ou a "arte do nu", as únicas que justificam o uso reduzido do termo "fruição"... Enfim... cada um pensa à sua dimensão!

Rolando Almeida disse...

Francisco,
Acho os seus comentários tão idiotas que me apetece fazer-lhe um ad hominem. Fui ao seu blog e não é que me deparo com esta situação: o Francisco faz um comentário no seu próprio blog para lhe dar os parabéns? Um comentário a si próprio? Chiça, homem!!!! Valente, ei!!! Agora vem a parte séria: Passa o tempo todo a fazer afirmações a ver se a coisa cola (pelos vistos eu sou o unico parvo que lhe responde) a insultar um autor e a reduzi-lo - sim, isso é redutor - a lixo filosófico. Mas por que raio de razão essa dor de corno? Não sabe discutir com as pessoas, de forma organizada? Não me tinha dito que era especialista em lógica? Bolas, não o demonstra. Vamos supor que o Francisco no seu blog se propõe a fazer uma defesa que deviamos matar todas as galinhas do mundo para nos melhorarmos moralmente. E apresentava razões para tal. Ora como é que se sentia se eu aparecesse com comentários como este : "você não sabe nada do que está a falar e é muito leviano e redutor já que passa por cima das galinhas contemporâneas e das galinhas pensadoras como X e Y" Francisco, será que não vê que isto não são argumentos, são acusações para as quais não apresenta argumentos, razões? Bem, se não vê isso ou é porque anda distraído ou porque pura e simplesmente não sabe argumentar e desconhece as regras elementares. Homem quando o corrigi num erro que nem os meus alunos de 16 anos cometem ao fim de 1 mês de lógica, atirou-me à cara que não aprende por manuais de secundário. Eu não sei realmente por onde aprende se é que aprende. Por que razão não faz outro blog só para destruir as pessoas que, sabe-se lá porquê, não gosta? Enfim. E pense lá na figurinha que anda a fazer: sempre que o Desidério escreve lá aparece o Francisco a pregar! Até que se farta e irá pregar para outro lado a ver se o ouvem. Eu é que sou parvo em dar-lhe trela, mas sinceramente comentários como os seus, em qualquer circunstância, irritam-me. E eu também tenho os meus dias.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Caro Rolando Almeida

Sabe que não dá "pica" debater consigo, porque está fechado em torno dos seus manuais escolares e dos seus alunos. Também não discuto lógica consigo, porque quem não capta as ideias que estão a ser apresentadas não merece a perda de tempo: o meu universo não se reduz a tretas e ilusões. Por isso, esqueça-me...

Rolando Almeida disse...

Pois é Francisco, mas podia esforçar-se por mostrar onde estão os meus erros, mas prefere continuar na sua atitude pedante.

Osame Kinouchi disse...

Desiderio,

Estou lendo o "Os ovários de Madame Bovary" e me parece que a tese dos autores é a de que a literatura possui sim muito conhecimento (tácito) sobre relações humanas e mesmo biologia evolucionária humana. E acho que a literatura de idéias, que permite um filosofo especular de forma mais livre (estou pensando em Stanislaw Lem), também é uma forma de arte com valor cognitivo. Finalmente, os bons livros de divulgação científica não são também artísticos? (um realmente "poético" é o Disturbing the Universe, de Freeman Dyson).

sguna disse...

Como se quantifica um sentimento? Ou não são estes parte da realidade?

Desidério Murcho disse...

Caro Osame

Não afirmo que não seja possível encontrar ideias estimulantes nas artes. Com certeza que sim. Mas nunca se encontra nelas o tipo de desenvolvimento sistemático, sofisticado e articulado que encontramos na ciência ou na filosofia. É pura e simplesmente impossível fazer isso nas artes porque tornaria a literatura, por exemplo, aborrecida. Claro que há ideias interessantes na literatura, por exemplo, mas nada de particularmente profundo, inteligente, sofisticado ou articulado se encontra aí. São apenas histórias. Os casos mais especulativos — como Lem e outros autores de ficção científica — nunca desenvolvem as suas ideias pormenorizadamente, nem pode haver discussão, nem outro romancista vai discutir aquelas ideias — e sem discussão aberta de ideias as melhores ideias nunca passam de um certo grau de ingenuidade. É só em diálogo crítico com os outros que conseguimos desenvolver ideias mais sofisticadas, e essa prática não existe pura e simplesmente na arte.

Note-se que nada disto tem a ver com quantificação, como outro comentador perguntou retoricamente. Pensar que a ciência ou a filosofia se reduzem à quantificação é como pensar que a arte se reduz ao rap.

Finalmente, desconfio que a maior parte das pessoas que pensa encontrar nas artes o tipo de pensamento profundo sobre aspectos da vida humana intratados pela ciência é só porque nunca leu filosofia séria sobre esses mesmos temas. Se tivesse lido, teria percebido a imensa, a abissal diferença entre o que encontra na melhor literatura e o que encontra na melhor filosofia. Isto não significa, claro, que muita literatura não tenha ideias mais interessantes e mais sofisticadas do que muita filosofia má. Mas seria injusto comparar a pior filosofia com a melhor literatura, tal como seria injusto comparar as reflexões de Nagel sobre o sentido da vida com O Segredo.

gogol disse...

Caro Desidério, se considera um embuste do tipo "O Segredo" como "literatura" (mesmo que da "pior"), bem...

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Nesse caso, até eu concordo que as artes não têm qualquer valor cognitivo!

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Se bem me apercebo, o seu raciocínio é o seguinte:

Só as ideias têm valor cognitivo.
A filosofia e a ciência desenvolvem muito melhor as ideias do que as artes.
Logo, as artes apresentam um valor cognitivo inferior e não são tão sofisticadas quanto a filosofia e a ciência.

Discordo por dois motivos: nem me parece que só as ideias tenham valor cognitivo, nem que a literatura tenha como propósito apresentar "ideias" (pace os romances à la Thomas Mann...), pelo que não está em competição com a ciência ou com a filosofia. Aliás, desde o Romantismo que não se põe sequer a hipótese dessa comparação (Hegel tem de resto umas páginas elucidativas sobre o problema).

E agora, voltando ao meu exemplo, gostaria que o Desidério me indicasse o tal manual de filosofia ou de ciência tão sério e excelente que supera o Animal Farm enquanto testemunho da experiência humana no meio de um sistema totalitário. Gostava mesmo de o conhecer.

afhahqh disse...

Bom dia,

penso que a ideia de que os artistas poderão não ter um acesso privilegiado à verdade é preconceituosa, na medida em que o seu trabalho é um feito sobre a realidade, mais precisamente sobre a sua perspectiva da realidade. Por isso, há, nos artistas, um esforço sistemático de compreensão da realidade, embora de maneira diferente dos filósofos, já que estes argumentam. Maneiras diferentes de lidar com os mesmos problemas, e propósitos diferentes, um para a inteligibilidade, outro para a sensibilidade. De resto, penso que um filósofo não deveria ter tantas certezas, já que, como filósofo, sabe que tudo culmina na dúvida...

afhahqh disse...

Na 3ª linha do comentário anterior onde se lê "um feito" leia-se apenas "feito".

afhahqh disse...

Se bem que não haja nada em nós, cognitivamente, exclusivamente intelectual ou exclusivamente sensorial. As duas propriedades estão sempre em funcionamento.

afhahqh disse...

Não só a arte em que há palavras traz conhecimento, mas também a arte sem palavras, como a música.

afhahqh disse...

Não só a argumentação traz conhecimento, mas também a experiência de vida. Por exemplo sobre como viver, como nos relacionarmos com os outros; mas também sobre nós próprios, e isso vem da experiência e nomeadamente da experiência da mudança - por alguma razão as pessoas que viajam muito têm uma mentalidade diferente da dos bichos do mato. Porque devido à mudança, diferença e adaptação aprenderam a conhecer-se. E a arte insere-se nesse domínio (da experiência): eg. concorda com sentimentos, perspectivas, ou mostra novas...

afhahqh disse...

As formas, sons e narrativas têm uma relação com o mundo. Exprimem sempre algo - um aspecto - sobre o mundo. São ideias.

Penso que o Desidério desvaloriza a arte como algo que é para a pura fruição, enquanto a filosofia e a ciência são seriissimas.

Como se a arte estivesse aí apenas para nos entreter...

carolus augustus lusitanus disse...

Filosofia, Sociologia, Antroplogia, Economia, Psicologia da Arte, da Ciência, disto e daquilo... o que virá a seguir, meu deus? A Arte da Arte? A Ciência da Arte? A Religião da Arte? O Fio Dental da Arte?
Impressionante esta fragmentação do saber moderno em derivações e becos sem saída como modo de discutir temas que não existem (ou se existem são mera criação dos «gurus» das academias para distração das massas, e sem qualquer valor epistemológico ou noético). A experiência da arte (chamemos-lhe assim) vive-se, tal como a filosofia, não havendo bulas para se compreender o inefável e o que é (ou deveria ser) o «insight» de cada um.
Isto faz-me lembrar a questão dos rótulos nas garrafas de vinho...

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