quinta-feira, 2 de outubro de 2008
CIMÉLIOS "FEMINISTAS"
Ainda no âmbito da exposição "Cimélios" patente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, já aqui referida, damos informação, da responsabilidade de António Eugémio Maia do Amaral, sobre algumas obras expostas referentes à mulher (na imagem, Catarina de Bragança):
O primeiro texto feminista português, 1557:
GONÇALVES, Rui, fl. 1539
Dos priuilegios & praerogatiuas q[ue] ho género feminino te[m] por dereito com[um] & ordenações do Reyno… [Lisboa?] : apud Iohanne[m] Barreriu[m], 1557. 106 [i.e. 104], [4] p. ; 4º (22 cm). Encadernação em pele com lombada gravada a ferros dourados R-13-27
Na esteira de obras do mesmo tipo publicadas por toda a Europa (Heinrich Cornelius Aggrippa, Martin Le Franc, Galeazzo Flavio Capella, François Billon e outros, no que ficou conhecido como a querelle des femmes), também em Portugal este Lente de Instituta da Universidade, o Licenciado Rui Gonçalves, publica um elogio do género feminino, dedicado à Rainha regente D. Catarina de Áustria. O objectivo do livrinho é-nos dado logo no prefácio: …mostrar quão errados estavam os que escreviam contra as mulheres… Na primeira parte da obra, o autor trata de …algumas virtudes em que as mulheres foram iguais e precederam aos homens. Na segunda, trata da situação jurídica da mulher. O facto de ter sido escrito em português e não em latim mostra a preocupação do autor em dar a conhecer às mulheres a legislação que lhes dizia respeito. A obra tem sido considerada o mais antigo texto feminista português.
Papeis inéditos sobre o casamento de D. Catarina de Bragançacom Carlos II de Inglaterra:
ORIGINAL DOCUMENTS
[Original documents relating to Charles II] [manuscrito]. 1660-1697. 54 f. (59 docs.) : il., retratos ; 420x335 mm. Textos em latim, espanhol, inglês e português. Encadernação inglesa do séc. XIX, em chevreau preto, seixas decoradas com ferros gravados, lombada de 6 nervos gravados a ouro com título também a ouro. Cofre 45.
Álbum de autógrafos de Carlos II e de várias personalidades marcantes da Corte inglesa do seu tempo. Inclui cartas, documentos e retratos gravados do Rei e da sua mulher, a Princesa portuguesa D. Catarina Henriqueta de Bragança (1638-1705), da sogra D. Luísa de Gusmão, do historiador e homem de Estado Edward Hyde (1609–1674), 1º Conde de Clarendon, do confessor Frei Domingos do Rosário (o dominicano irlandês Daniel O´Daly, 1595-1662), do embaixador (e tradutor de Camões para o inglês) Sir Richard Fanshaw (1608-1666) e de sua mulher Lady Ann Fanshaw (1625-1680), do Almirante Sir Thomas Allin (1613-1685), do diplomata Sir Robert Southwell (1635-1702), etc. Normalmente, a cada documento na página ímpar corresponde uma gravura na página par. Conjunto adquirido em leilão, ainda inédito e por estudar, que tem sido acrescentado de novas peças, adquiridas em anos mais recentes.
Uma edição da “História de Menina e Moça” em caixa romântica com suporte:
RIBEIRO, Bernardim, 1482-1552
Hystoria de Menina e Moca [sic] … : agora de nouo estampada, e cõ[m] summa deligencia emendada : e assi algu[m]as Eglogas suas com ho mais que na pagina seguinte se vera. [Colónia] : Arnold Birckman, 1559. clxxi [i.e. 167] f. ; 8º (14 cm). Pert.: A.P.G. Encadernação em pele vermelha ricamente gravada a ferros dourados. Cofre 49
Circulou em manuscrito, teve a sua primeira edição em Ferrara, nos prelos de Abraão Usque, em 1554, e uma segunda, com texto bastante mais extenso e com o título “Saudades”, impressa em Évora por André de Burgos, em 1557-1558, que a BGUC também tem e que inclui um prolongamento até ao cap. XXIV, que se costuma aceitar como sendo do autor. Pouco depois, em 1559, sai da oficina de Arnold Birckman, em Colónia, esta terceira impressão com summa deligencia emendada, que retoma com ligeiríssimas variantes a de Ferrara. Esta ficção extraordinária para a época, na qual o autor se transveste para o género feminino, inaugura em Portugal a narrativa intimista, bucólica e pastoril. Novela sentimental, de teor psicológico, todo o seu programa se resume no prefácio: Das tristezas não se pode contar nada ordenadamente, porque desordenadamente acontecem elas.
Uma edição dos Estatutos da Universidade ilustrados pela jovem Josefa d'Óbidos:
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Estatutos da Universidade de Coimbra : confirmados por el Rey Nosso Snor Don João o 4º em o anno de 1653. Em Coimbra : officina de Thome Carvalho, 1654. [10], 14, [6], 330, [4], 208, 10, [6] p. ; 2º (30 cm). Encadernação em pele com lombada gravada a ferros dourados. R-22-1
Desde 1309 que o poder político outorga à Universidade de Coimbra os Estatutos para a sua organização e governo. Estes Estatutos, cujo texto data de 1591, serão os sétimos que teve a Universidade e têm nesta de 1653-1654 a sua mais apreciada edição, enriquecida com uma gravura assinada pela jovem pintora portuguesa Josefa de Ayala ou de Óbidos (1630-1684). Edição rara porque todos os exemplares destes chamados Estatutos Velhos foram apreendidos por ordem do Marquês de Pombal, tanto em bibliotecas públicas como nas particulares, quando o “Reformador e Visitador da Universidade” trouxe de Lisboa os exemplares dos Estatutos Novos, em 15 de Setembro de 1772. Este exemplar (dos três que a BGUC possui) entrou por oferta de Eduardo Abreu, em 1889. Em 1987, foi publicado um facsimile (ainda disponível para venda) o qual, como quase todas as edições da BGUC, se vai encontrar integralmente acessível na Internet através do Google Book Search.
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2 comentários:
Que bacana!!!!!
"Esta ficção extraordinária para a época, na qual o autor se transveste para o género feminino (...)"- diz-se no texto.
Não é novidade na literatura portuguesa. Já assim acontecia nas "cantigas de amigo" medievais, que tiveram no rei-trovador D. Dinis um destacado poeta.
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