sexta-feira, 31 de outubro de 2008
PALIN E A IGNORÂNCIA CIENTÍFICA
Minha crónica do "Sol" de hoje, saído um dia antes do que é habitual por causa do feriado de 1 de Novembro:
Uma amiga minha chama-lhe a Sara Paula. Mas o nome dela é Sarah Palin e, se os republicanos perderem a eleição presidencial americana, não faltará quem lhe atribua uma boa parte das culpas. De facto, a senhora que foi por eles escolhida para candidata a vice-presidente não parece estar preparada para nenhum cargo político nacional. Isso manifesta-se, em particular, no campo da ciência, onde tem mostrado a maior das ignorâncias.
Já não bastavam as suas concepções criacionistas: ela defendeu que o criacionismo, a ideia abstrusa de que o mundo foi criado praticamente como o vemos hoje, com os fósseis já fossilizados e tudo, devia ter um lugar nas aulas de ciências ao lado da teoria da evolução (o pai de Palin, professor de ciências reformado, devia ser o primeiro a sentir-se incomodado). Agora aproveitou os microfones da campanha para atacar, ridicularizando-a, a investigação científica feita com base nas moscas da fruta, uma investigação que está na base de muitos dos nossos conhecimentos de biologia e de medicina. Já não bastava que Palin fosse defensora da arca de Noé, também é defensora das moscas. Parece, porém, que gosta de caçar focas. Ninguém diria que esta ex-dama de honor do concurso de Miss Alaska, que na escola passou completamente despercebida, tivesse agora a amplificação que está a ter a nível mundial.
Os cientistas nos Estados Unidos e não só esperam ansiosamente pelo próximo dia 4 de Novembro. Aguardam, acima de tudo, que George W. Bush saia de cena. Ele impediu a investigação com células estaminais, pouco ou nada fez pelo combate ao aquecimento global, não fomentou formas de energia alternativas ao petróleo e demais combustíveis fósseis e não desenvolveu suficientemente a exploração espacial. Mesmo no caso improvável da vitória de McCain-Palin, os cientistas ficariam contentes por verem Bush aposentar-se. A esmagadora maioria deles está, contudo, por Obama e Biden. Há até um abaixo-assinado de 63 Prémios Nobel de ciências a favor de Obama, não parecendo haver um só a favor de McCain.
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7 comentários:
"a ideia abstrusa de que o mundo foi criado praticamente como o vemos hoje, com os fósseis já fossilizados e tudo"
Quem é que lhe disse isto?
muito embora não haja nenhum abaixo-assinado exclusivamente Nobel a favor de McCain, hà ainda pelo menos um prémio nobel do seu lado, o Kissinger.
ou nem esse?
Caro Fiolhais
Que diabo poderia o Bush fazer pelo aquecimento global? Existe? Desde o início deste século que a média das temperaturas se mantem ou desce...
Carlos Fiolhais
A referência ao "aquecimento global", só pode ter sido um lapso!!!!
Caríssimos:
Não seria bom que se começasse a chamar às "stem cells" o seu verdadeiro nome em português?
É que "células estaminais" são as células dos estames e que nada têm a ver com as "stem cells".
Vamos procurar um termo correcto em português? O mal já foi feito ao chamar-lhe "estaminais", mas, se calhar ainda vamos a tempo de modificar as coisas.
É que, bem vistas as coisas, é uma vergonha para a comunidade científica portuguesa (eu já a passei) quando lá fora se apercebem que nós entendemos que as "stem cells" andam pelos estames.
Maria Braga
"Desde o início deste século que a média das temperaturas se mantem ou desce..."
Que tipo de registo é que o demonstra?
Caro Sguna :
“Que tipo de registo é que o demonstra?”
Pois, por exemplo, os vários registos que pode consultar aqui :
Global surface air temperatures
http://www.climate4you.com/GlobalTemperatures.htm#Estimates%20of%20recent%20global%20temperature%20change
Destaco esta passagem :
All five global temperature estimates presently show stagnation, at least since 2002. There has been no increase in global air temperature since 1998, which was affected by the oceanographic El Niño event. This does not exclude the possibility that global temperatures will begin to increase again later. On the other hand, it also remain a possibility that Earth just now is passing a temperature peak, and that global temperatures will begin to decrease within the coming 5-10 years. Only time will show which of these possibilities is the correct.
Mas também chamo a atenção para esta :
The difference between the individual diagrams shown above demonstrate the difficulties associated with calculating a correct average global temperature. Essex et al. (2006) have an interesting discussion of the whole concept of calculating an average global temperature. In addition, global surface air temperatures should only be considered a poor indicator of global climate heat changes, as air has relatively little mass associated with it. Ocean heat changes remain the dominant factor for global heat changes. Global air temperatures, however, continues to attract widespread interest, and many scientist assume that the air temperature at least may be considered a useful proxy for the present state of the global climate system.
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