O fóssil de 15 centímetros do Yanoconodon allini mostra a formação do ouvido médio dos mamíferos a partir da mandíbula dos répteis
Os mamíferos surgiram no Triásico e derivam dos Therapsida - répteis Synapsida. A transição dos Therapsida para os Mammalia é a transição entre os grandes grupos de vertebrados melhor documentada no registo fóssil, por exemplo pelos fósseis Protoclepsydrops, Clepsydrops, Dimetrodon, Procynosuchus e Thrinaxodon.
No entanto, os criacionistas de todos os flavours tentam por todos os meios, inclusive completamente desonestos, negar as evidências inequívocas dos fósseis transicionais entre espécies - designação que refere fósseis que apresentam uma mistura de características das espécies em causa, popularizados nos media como «elos perdidos», embora o termo seja erróneo e passível de grandes confusões. Todos os criacionistas verberam que não há fósseis transicionais para apontar a «falsidade» da evolução. Mas os últimos anos têm sido fertéis na descoberta de novos fósseis que documentam sem sombra de dúvidas as transições entre espécies e testam a capacidade aparentemente ilimitada dos criacionistas para debitar disparates.
Assim, há um ano foi apresentado na revista Nature o trabalho dos grupos de investigação de Edward Daeschler da Academy of Natural Sciences em Filadélfia, Farish Jenkins de Harvard e Neil H. Shubin da Universidade de Chicago que descreveram em dois artigos a descoberta de um fóssil de uma espécie que documenta a transição peixe - anfíbio (tetrápode), a que chamaram Tiktaalik roseae - nome Inuit para um peixe de águas pouco profundas. Este fóssil com 375 milhões de anos apresenta escamas ósseas e barbatanas mas as barbatanas dianteiras estão no processo de transformação em membros; o seu esqueleto interno apresenta a estrutura de um braço, incluindo ombro, cotovelo e pulso com barbatanas em vez de dedos.
Esta descoberta provocou grande agitação nas hostes criacionistas americanas que na altura se multiplicaram em acusações de «cientifismo» e refutaram os dados científicos com disparates sortidos e citações biblícas no post sobre o tema do blog da Nature. O templo da IDiotia, o Discovery Institute, clamou que o fóssil não constitui uma ameaça para as suas pretensões neocriacionistas com um texto completamente imbecil:
«Estes peixes não são espécies intermédias, explicaram os cientistas do Discovery Institute que questionei sobre a descoberta. Não são intermédios no sentido que são meio peixe/meio tetrápode. Pelo contrário, eles apresentam uma combinação de características de tetrápodes e de peixes».
Na mesma época e também na Nature, o zoólogo Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em colaboração com o palentólogo Sebastián Apesteguía, do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, apresentaram os detalhes anatómicos dos fósseis da mais antiga espécie de cobra já encontrada, a Najash rionegrina, uma serpente que viveu no Cretácico Superior (há 90 milhões de anos) e que apresenta patas traseiras funcionais.
Os criacionistas do site humorístico «Respostas no Genésis», AiG, com uma espinha do Tiktaalik rosae ainda atravessada, responderam a esta descoberta de forma tão divertida quanto a do templo da IDiotia:
«A AiG é cautelosa acerca da comparação desta serpente fóssil com a serpente de Génesis 3:14 [a tal que provocou a dentadinha no proibido fruto do conhecimento]. Em primeiro lugar, não sabemos muito acerca da anatomia dessa serpente. Mas podemos oferecer uma sugestão razoável de que seria capaz de andar ou rastejar; depois da serpente ser amaldiçoada foi pronunciado que «no teu ventre rastejarás» sugerindo que antes da queda se movia usando apêndices. De igual forma este fóssil resulta provavelmente do Dilúvio de Noé, um acontecimento que teve lugar 1500 anos depois de a serpente ser amaldicoada a rastejar sobre o ventre».
A Nature de 15 de Março tem um artigo muito interessante do paleontólogo Zhe-Xi Luo, do Carnegie Museum of Natural History, Pittsburgh (EUA) que descreve o Yanoconodon allini, um fóssil de 125 milhões de anos que apresenta os três minúsculos ossos que compõem o ouvido médio (martelo, bigorna e estribo) ligados à mandíbula inferior através de uma cartilagem, numa configuração de transição entre a dos répteis e a dos mamíferos modernos. Nesse último grupo, em que se inclui o homem, essa tríade de ossos já se encontra totalmente separada da mandídula.
PZ Meyers apresenta no Pharyngula uma análise muito detalhada do Yanoconodon, que recomendo para quem quiser saber mais sobre este triconodonte (sobre o qual os criacionistas ainda não se pronunciaram...)
2 comentários:
Palmira,
Diga-nos com franqueza: tem a rosca moída?
Estando ainda ungida de representatividade (pois claro!) gostava de a ver equacionar, por exemplo, a ciência e o pragmatismo (a título de sugestão: Mark Shuttleworth) e a utilidade de ambos. Não nos desanque com a verve glandular que parece ter herdado da defesa da tese.
E o brucelose que não larga a Palmira pelo menos tem aprendido alguma coisa com os posts dela?
Já aprendeu que há mais de 100 anos que a teoria ondulatória não é alternativa ao dualismo onda-corpúsculo da luz?
Dor de cotovelo deve ser mesmo doloroso...
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