segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Como seria viver na verdade?

A verdade é um conceito de tal modo importante que é sacralizado por pelo menos algumas religiões. Contudo, a mentira acompanha-nos diariamente. Há quem defenda que devemos abandonar as mentiras, mesmo as mais inofensivas ou simpáticas. Leia-se o artigo de Nelson Marques, no Expresso, e a minha recensão do romance de ficção científica The Truth Machine, de James L. Halperin, no qual se imagina como seria a sociedade se fosse possível fazer uma máquina infalível para detectar a mentira e quese pudesse usar como quem usa um relógio.

8 comentários:

Fernando Dias disse...

Quem se confronta todos os dias com muitas pessoas com cancro e sobretudo com aquelas que apenas lhes restam poucos dias de vida e que têm um discurso: “isto que eu tenho é benigno porque na minha família não há casos de ‘doenças más’”, e portanto indirectamente querem-nos dizer que não aguentam ouvir outra coisa, tem obviamente de ter uma certa maneira de lidar com a “verdade”. Isto significa que as pessoas não são todas iguais e enquanto se pode e deve dizer tudo o que sabemos a um doente com um cancro que vai morrer daqui a pouco, porque é daquelas pessoas que quer saber a verdade porque sempre se deu bem com isso, e o resultado é apaziguador, com outras pessoas que sempre tiveram uma relação ambígua com a verdade o resultado é angustiante e desatrosamente acelerador do processo para a morte.

Depois de digerir o 2 x 1.50 € do PayPal “Expuse” que tive de pagar na mesma operação o mês passado para pagar o mísero euro do PayPal “Critica”, irei ler a recensão, ou não.

Gonçalo Barrilaro Ruas disse...

Não li a recensão, nem vou poder ler. Pelo menos por agora. Mas, um mundo sem mentiras seria uma chatice. A vida seria muito mais triste. Deixaríamos de poder utilizar a mentira nas brincadeiras que fazemos no dia-a-dia.
Um mecanismo tipo relógio que detectasse as mentiras seria, provavelmente, o caminho para o totalitarismo, ou para a servidão. E lá estou eu com o totalitarismo outra vez - se calhar é obsessão minha.

Luís Bonifácio disse...

Mas o que é a verdade?

A "verdade" para uma pessoa pode ser completamente oposta à "verdade" de outra?

Com que "padrão" é que se calibraria a "máquina"?

Agora é sempre aconselhavel não contar mentiras, pois quem conta mentiras, tem que se recordar daquilo que disse durante o resto da sua vida. Quantas mais mentiras contar pior será. Daí o velho ditado "É mais fácil apanhar um mentiroso que um coxo".

LA disse...

Tem piada que eu tive o feeling de que ias continuar a matutar no tema da mentira, e não me enganei!
Mas em vez de andares para aqui com postezecos de poucas ideias e a meter uns gajos que mandaram uns bitaizecos sobre o assunto, porque é que não apresentas a artilharia pesada?
Os teus colegas devem ter escrito montes de coisas interessantes sobre o tema! Conta-nos lá o que diziam os Kants e os Sócrates, porque esses é que sabiam, e não estes parolecos que escrevem no expresso sobre uns americanozecos que querem vender uns livros.
Bota lá coisas!
Sobre a mentira, eu acho aquilo que imagino que a Dona Palmira Silva acha, que é: se mentimos é porque a mentira ajuda os mais fortes a safarem-se, como diria o Darwin. Os que dizem sempre a verdade, os ingénuos, vão para pastores de gado, não servem para muito, e normalmente não se safam com as gajas, é por isso que a mentira ainda cá anda.
Até logo, carrega-lhe com os pesos pesados.

Rui leprechaun disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui leprechaun disse...

Tschhh... enganei-me e pus acima o comentário para o outro texto. É que esta janela não me parece muito prática...

Ah!!! Fantástico!!! O artigo é sobre Brad Blanton... boa!!! :)

Exacto! Aquilo que Rui Carreteiro diz quanto ao modo como se deve expressar a verdade está também concordante com o pensamento do parceiro de Blanton no diálogo "Honest to God: A Change of Heart that can Change the World", um livro de co-autoria com Neale Walsch, famoso pela série "Conversas com Deus".

Walsch concordaria também com Núria Blanco, ser honesto e verdadeiro não implica forçosamente dizer TUDO, apenas escolher a verdade e não a mentira na comunicação efectiva e necessária.

Mas essa do Adler é que não percebo... outra versão de "Com a verdade me enganas"?!

Note-se que esta questão da honestidade radical só faz sentido se a própria pessoa a usar consigo própria, ou seja, o autoconhecimento e a autoaceitação são mesmo o bê-a-bá da verdade! Suponho que alguns comentários não estão a levar isso em conta, mais ainda, o estado mental ou emocional como são ditas as verdades... o que faz uma grande diferença!!!

LOL!!! Quanto à crua resposta do psicólogo à pergunta do jornalista - perfeitamente de acordo com o teor desse livro! - tal fez-me lembrar um blog intimista de uma mui jovem brasileira, que traduz de forma perfeitíssima essa ideia da "Wahrheit über alles!"

Deveras, a absoluta honestidade radicalíssima na pura expressão dos nossos sentimentos pode ser incrivelmente refrescante... não estamos habituados a ela! Pessoalmente, eu acho isso hilariante, mas traduzindo uma ingénua alegria infantil... truth is ever so new!!!

Aliás, para amar é preciso abrir essa porta da verdade de par e par... a sinceridade conduz ao apaixonar!

Anyway... estou contentíssimo por ter reaparecido logo numa altura em que se fala de algo que sempre me foi tão querido...

Rui leprechaun

(...e honestamente vivido! :))

Rui leprechaun disse...

Oh! O artigo não está disponível... mas o livro sim, aqui: The Truth Machine.

Bem, já tenho entretenimento por uns dias...

Mas esse conceito de uma "máquina da verdade" - tipo o infame soro! - não tem nada a ver com o que digo acima e está nos antípodas da noção de honestidade radical.

Aliás, nem mesmo no universo judicial isso teria aplicação, ou lá se ia dessa malta o ganha-pão! Sim, é um facto que a civilização está edificada sobre a mentira e, pior ainda, muitas das relações pessoais se baseiam na hipocrisia.

Já agora, Blanton admite algumas excepções no conceito de verdade total, fora das relações pessoais. Ainda assim, note-se que no universo da justiça (?) há situações apavorantes de bradar aos céus, em que pode ser inútil saber-se a verdade porque todos os procedimentos têm de ser "legais"... burocráticos e o mais!

Logo, já não seria nada mau se conseguíssemos ser um pouco mais honestos e verdadeiros mas nossas relações pessoais do dia a dia. Contudo, não vale a pena dourar a pílula... you can never be true to another, if you are not true to you!!!

No sentimento de Si tudo começa...

Rui leprechaun

(...e não há máquina que tal verdade meça! :))

Rui leprechaun disse...

Casualmente, deparei agora noutro fórum com um belíssimo excerto desse livro que refiro acima... o tal da honestidade radical... auto-verdade TOTAL! :)

A propósito, ainda só vou no capítulo 7 da "Máquina da Verdade". Para já, a história ainda nem aqueceu, aguardemos...

Mas lá está, a única máquina deveras eficaz seria aquela que nos mostrasse a verdade do que somos, não somente uma que revelasse aos outros aquilo que pensamos... para isso basta ser um telepata, Gnomo com nariz de batata!!! :D


"Sabemos que uma coisa que pode sarar a nossa tristeza, a dor, os estragos, a sensação de mágoa e impotência que muitas pessoas têm é agir. É a solução para ultrapassar qualquer situação de dor, inclusivamente uma morte. É por isso que todos fazemos o que fazemos nos funerais. Organizamos um banquete e conversamos uns com os outros sobre a pessoa que faleceu. Assim saramos. É algo que podemos fazer para mitigar a dor.

Quando batemos à porta com um doce ou uns aperitivos nas mãos, sentimos que fizemos alguma coisa e que a nossa tristeza abrandou de certo modo. E a nossa sensação de perda diminui, porque conseguimos “estar” de uma maneira que serve e activa o nosso pensamento supremo de quem somos.

Portanto, uma coisa que todos podemos criar é algo para ser e fazer agora, para reduzir a nossa sensação de impotência perante este terrível e atroz sentimento de perda, de falta de segurança e de tragédia que a raça humana está a sofrer. Se conseguirmos dar a nós próprios algo viável e possível, poderemos sarar."

"Juro por Deus" – Neale Donald Walsch e Brad Blanton

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