“Ao colocar a vasta questão: o que faz com que o homem seja homem? Verifico que há a sua cultura, por um lado e o seu genoma por outro, é claro. Mas quais são os limites genéticos da cultura? Qual é o seu bloco Genético? Não sabemos nada sobre isso. E é pena, porque este é o problema mais apaixonante, o mais fundamental que há” (Jacques Monod, Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina/1965).
A minha entrada, no maravilhoso e complexo mundo computacional, chegou
tardiamente com a minha condição de sexagenário em vésperas de septuagenário.
Daí, na minha qualidade de uma espécie de bota-de-elástico em quase divórcio
(mesmo sem um matrimónio anterior) das novas tecnologias informáticas, continuo
a procurar na minha modesta biblioteca
água para matar a minha sede de conhecimento de alguém perdido no
deserto da ignorância.
Curiosamente, foi ainda estudante do ensino superior (INEF/1952), que tomei
conhecimento da Cibernética e do seu significado através dos milénios. Assim,
na minha curiosidade (não aquela “curiosidade que mata o gato”),
vim a tomar conhecimento de que cibernética significava para Platão (427-348
a.C.) “a arte de conduzir um navio” e para Ampére (1843) “o
estudo dos meios de governo das sociedades”, cabendo a Wiener (1948) vir
a desencantá-la das coisas com a poeira dos tempos para nomear o “antigo
governo de uma máquina com certa autonomia e capacidade de iniciativa e sua
aplicação ao estudo do sistema nervoso”.
Ao escrever, este me “post” nunca me passou pela cabeça ser confrontado com as teorias sobre a linguagem saídas da pena de psiquiatras, psicólogos, psicanalistas, linguistas, cientistas sociais, etc., para não me sentir um anão rezingão entre gigantes da razão. Por isso, foi com a humildade, aqui confessada, que li o artigo da Net ”The Language Instinct”, de Steven Pinker, reputado linguista da Universidade de Harvard.
Das suas páginas, cito este naco de prosa: “Do the really good students never use abreviations and creative uses of spelling when writing an SMS? Using alternative spellings always imply the person is ignorant of standard spellings? An intelligent speaker isn’t able to use and understand alternative spellings, just as anyone can understand different accents (and use different accents, in fact)? So, if I use “SMS-lingo” in my SMS (and not in my exams), am I sinning against the Religion of Language?”
Aceitei e tive a sua leitura como mais uma tese sobre uma controversa temática que está longe de encontrar o desfecho de uma síntese consensual. Mas não me ative a uma única leitura na Net. Busquei novas formas de pensamento, através de um reputado psicólogo e linguista da Universidade de Harvard: Steven Pinker. Com essa finalidade, consultei prateleiras modestas em que se alinham os meus livros, para leitura e releitura, em busca do livro em que “Jean Piaget e Noam Chomsky debatem “Teorias da linguagem – teorias da aprendizagem (O Saber da Filosofia, edições 70, s/d, 513 p.p.). Versa ele um único debate científico havido entre os defensores da epistemologia genética e da linguística generativa , realizado entre 10 e13 de Outubro de 1975, na abadia de Royaumont. Debate com a participação de antropólogos, psicólogos, linguistas, biólogos, geneticistas, etc., em número de duas dezenas e meia.
Dessa participação realço o nome de Jean-Pierre Changeux (por ser um leitor compulsivo da sua vasta e valiosa obra), de que transcrevo o início da introdução da sua comunicação, intitulada “Determinismo genético e epigénese das redes de neurónio: existe um compromisso biológico possível entre Chomsky e Piaget?”É uma situação difícil para um neurobiólogo apresentar factos e interpretações que emanam do seu próprio campo de pesquisa no contexto de um encontro entre estes dois eminentes cientistas que consagraram anos de trabalho sobre comportamentos mais complexos e mais elaborados do homem: o conhecimento e a linguagem.
Sendo a minha experiência neste domínio um tanto ou tanto negligenciada, limitar-me-ei a alguns exemplos respeitantes à neurobiologia do sistema nervoso periférico nos vertebrados” (p. 267). Abreviando razões, as teses académica entre o inatismo e o construtivismo, com as suas inúmeras antíteses, estão longe de chegarem a uma desejável síntese.
Antes de terminar este meu “despenteado” texto, necessitado do pente de lhe dedicar a atenção
e oportunidade de uma pequena gota de
água doce num “mare magnum salgado de nomes ilustres que se
fizeram, e continuam a fazer-se, arrojados mareantes duma tormentosa viagem sem
fim à vista , quero deixar bem claro que me referi, apenas, ao caso de alunos
que utilizam a escrita abreviada dos SMS nas provas escritas escolares por
serem incapazes de separá-la da escrita que deve obedecer a uma ortografia e a
uma gramática correctas. Ou seja, por outro lado, em que o (ab)uso dos
correctores de texto suprimem uma falha que pode levar a simples manuscritos de
algumas simples linhas chumbarem no antigo exame da 4.ª classe com erros
palavra sim, palavra não. E aqui não posso deixar de citar o exemplo de Steve
Balmer, presidente da Microsoft: “Eu testo [a Net] mas não uso no dia-a-dia.
Mais importante, os meus filhos não usam. Eles são bons rapazes”.
Rogo aos que, por ventura ou desventura, tenham perdido o seu tempo com o meu modesto post como o atrevimento do sapateiro que vai além da chinela denunciado por Aples. E digo porquê: graças a Deus, ainda tenho a noção das minhas limitações que não buscam respaldo num pousar constante em artigos da Net. Aliás, para mim, consulta muito limitada por ser um analfabeto funcional numa rede de comunicações em que os mail's chegam às mais distantes paragens do globo num simples abrir e fechar de olhos quando as cartas do correio, ainda poucos anos atrás, demoravam dias a chegarem ao seu destino longínquo. Isto sem falar de tempos centenários da mala posta das minhas matinés dos filmes de cowboys em que o correio era roubado em assaltos de bandidos pelo caminho para ficarem com encomendas valiosas.
Hoje, sim, enviando e recebendo mails diários, sinto-me como peixe dentro de água, sendo um homem desta era informática! Aqui sou, como tal, "o homem contemporâneo do futuro", a arrastar os pés trôpegos, que a idade vai consentindo, no íngreme e árduo caminho das Novas Tecnologias da Comunicação e Informação desafiando a sabedoria popular que nos quer convencer que "burro velho não aprende Línguas"
Embora com imensas dificuldades inerentes, ao contrário das crianças de hoje que dominam a internet com a maestria de um Pierino Gamba que, com dez anos de idade, era pianista dirigindo orquestras sinfónicas, aprende, mesmo que com pouco êxito, em tentar contrariar “a vox populi, voz Dei”, correndo, com isso, o risco do opróbrio dos apóstatas.
"Last but not least", por confessar a minha ignorância, entendo merecer absolvição ou, pelo menos, pena não muito grave no tribunal da erudição!
2 comentários:
Entre as muitas e cruciais questões que o texto sugere, foco-me nas da linguagem e do conhecimento que, aliás, remetem para problemas das neurociências e da genética. Parece que, à medida que avançamos no conhecimento cada vez ficamos mais longe. Ontem, a lua e o sol pareciam as lâmpadas da nossa noite, hoje são como faróis nas pistas dos astronautas. É inextrincável a relação entre realidade, conhecimento e linguagem, ao ponto de parecerem enraizadas umas nas outras de modo inseparável. E não é correcto dizer que Descartes não tinha razão porque o homem não é só razão. O problema de Descartes não é esse. E não é problema de Descartes dizer “sinto logo existo”.
Os problemas dos sentidos e dos sentimentos carecem de uma atenção e de um estudo que saia dos lugares comuns e das frases feitas, sem desmerecer da importância e do significado destas para a construção de periscópios, telescópios, microscópios e outros instrumentos de detecção de sinais. A inteligência é possível porque qualquer elemento do universo está conexo com esse universo, apesar de não nos ser inteiramente possível a partir de qualquer elemento do universo inferirmos o universo.
Os nossos cinco sentidos, como aprendemos desde cedo, são aqueles sem os quais não teríamos outros, penso eu, que não sou senão curioso e atrevido e não abdico desse meu direito, enquanto puder.
Mas, a partir de certo momento, os outros sentidos que desenvolvemos, que ainda hei-de averiguar quais são, tornam-se mais importantes, não do ponto de vista da sobrevivência individual, mas do ponto de vista do conhecimento e da linguagem.
Muito aprecio os seus comentários que me obrigam, e devem obrigar todos os seus leitores, a meditarem sobre, em mero exemplo, um mundo de cohecimento em constante evolução se o homem não o destruir, porque como escreveu alguém, cujo nome se me esvai na memória, "o homem perdeu a sua capacidade de prever e prevenir, acabará por destrui o mundo"! Mundo já por si frágil de cataclismos naturais, qual balão em mãos desastrosas de crianças birrentas ou de tiranos. Lembro-me, bem a propósito de um filme antigo de Charles Chaplin, em que um hipotético Hitler brincava com um balão com a forma de um globo terrestre!
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