Novo texto de Eugénio Lisboa (em cima, Jorge de Sena):
Este é o título de um vigoroso livro de Jorge de Sena que toda a vida se sentiu desconfortável e mal lambido pela mesquinhez de um meio literário ressentido, que lhe regateava reconhecimento e nunca lhe deu um prémio literário. Jorge de Sena tinha dois enormes defeitos: era grande e era frontal. Os pequenos odeiam os grandes e os medíocres não prezam a linguagem frontal, que é, para eles, afrontosa.
Ser grande, em Portugal – refiro-me aos verdadeiramente grandes – é sempre uma dilacerante viagem ad loca infecta.
A sensibilidade capaz de acolher um excepcional valor emergente é mercadoria rara. O mesquinho procura sempre , na obra cuja qualidade o belisca, o pequenino ponto que lhe parece vulnerável para lhe dar a bicada venenosa.
Dizia Valéry que qualquer sujo rafeiro pode fazer uma ferida mortal, bastando, para isso, que tenha raiva. Só os que já foram capazes de segregar uma dura carapaça resistem aos ataques soezes e quase sempre iletrados dos predadores de serviço.
Para os inocentes que iniciam a sua vida de amor desinteressado à literatura, cheios de ilusões sobre o mundo da cultura, a primeira mordedura pode ser fatal. Ninguém lhes disse que o vento do sagrado não sopra nem no mundo das artes, nem nos santuários do saber (as universidades), nem nos templos da religião. O vento do sagrado sopra, quando sopra, muito raramente e nunca nos loca infecta.
Quantos jovens talentos, não infectados pelos miasmas da “merdouille” literária , não terão sido abortados, à partida, pela dentada envenenada de um rafeiro enraivecido.
A perversidade iletrada e atrevida existiu sempre, mas actualmente multiplicou-se cancerigenamente, à boleia das redes sociais que deram aos boçais uma espécie de voz. Qualquer pateta comenta, sem o menor pudor, um texto que não entende, mas que acicata o seu ressentimento.
De muitas redes sociais, emerge, com perturbante frequência, um merdoso coaxar de rãs, que polui a paisagem e corrói o espírito impreparado dos inocentes. São os inevitáveis efeitos colaterais das grandes descobertas tecnológicas. O arsénico cura mas também mata.
Eugénio Lisboa
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