segunda-feira, 22 de março de 2021

POR QUE RAZÃO VOLTAM AS CRIANÇAS PARA A ESCOLA?

Fazendo fé nas notícias de jornais online, Espanha e Portugal (países que tive em conta para escrever esta nota) justificam o retorno à escola por parte das crianças mais novas com base no "bem-estar", expressão-enigma que passou a constar em todos os discursos escritos ou ditos depois de consagrado, em 2015, na Agenda da ONU para o Horizonte 2030. Quem trabalha na Educação terá de se confrontar com ela todos os dias nos próximos nove anos, sem saber ao certo o que significa.

A análise de tais notícias (sobretudo se associada à análise de textos oficiais) faz crer, pelo menos para já, que a expressão se reporta à concretização de necessidades emocionais com vista à "felicidade": o retorno é, de facto, justificado com base nelas.

Acentua-se a importância de recuperação de múltiplas competências pessoais, sociais, afectivas das crianças, nota-se a situação de "particular vulnerabilidade" em que têm estado, recorda-se os milagres operados pela "cultura e colaborativa" e pelas "comunidades de aprendizagem", retoma-se o propósito de assegurar a "qualidade da educação" com vista ao "sucesso" e à "vivência de uma cidadania plena", propõem-se "estratégias de intervenção" e múltiplas "terapias". Entre estas contam-se as mentorias, o jogo, o acompanhamento especializado e comunitário.

E aqui entram, para ocuparem um papel central, não os professores, pelo menos na sua função de ensino, mas outros profissionais, como os psicólogos. E estes também não entram na função que, reconhecidamente, têm de suporte à aprendizagem escolar, ou seja, ao trabalho sobre conhecimento disciplinar como base para o desenvolvimento da inteligência.

Para confirmar o que afirmo, consulte-se o programa de um seminário, que destaco acima, com o título "Psicologia da Educação, Bem-estar e Sucesso Educativo" (aqui e aqui), onde não podia faltar o eterno exemplo da Finlândia, de resto, o país mais feliz... do mundo (aqui)! 

2 comentários:

Anónimo disse...

Num país desorientado, como é Portugal, com deputados eleitos pelo povo a defenderem que o Padrão dos Descobrimentos, no estuário do Tejo, deve ser arrasado, é natural que a principal razão que justifica o regresso das crianças à escola seja o bem-estar.
Se na velha escola as crianças associavam algum mal-estar à convivência com os professores que as queriam ensinar, na escola do futuro, que tem por meta a paz celestial, os professores serão substituídos por mentores, especializados em ciências psicológicas, que saberão encaminhar os seus pequenos mentorandos até à felicidade plena, que mais não é do que o sucesso educativo a que todos estão obrigados, por lei.
Só que, tal como nos casos do cristianismo e do comunismo, as belas doutrinas, da escola fácil e a transbordar de felicidade não passam de construtos de cientistas educacionais que usam professores e alunos como cobaias. Logo, a teoria cai pela base: professores e alunos são seres humanos, não são cobaias!

Helena Damião disse...

Prezado Leitor Anónimo
Concordando em parte com o seu comentário, insisto que o que se passa na educação em Portugal é o mesmo que se passa em muitíssimos outros países. O que está em causa é uma orientação global para a educação escolar (ou algo que se assemelhe a escolar). E não são os "cientistas da educação" os responsáveis máximos por esse construção, se fossem ela não seria tão sólida, não têm poder para tanto...
Cordialmente,
MHDamião

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