Por Rui Baptista (licenciado em Educação Física, ex-docente do ISEF da Universidade do Porto).
Aproveito a publicação de ontem de Carlos Fiolhais, intitulada “António Manuel Baptista (1924-2015): Lista Bibliográfica”, para transcrever deste último excertos do texto que serve de título a este meu artigo. Assim:
“O retrato tomográfico e holográfico, do Estado Português actual e de seus ministros pintado por Vitorino Magalhães Godinho na entrevista concedida ao Semanário, levantou tsunamis no mar morto da nossa sociedade. O que julgámos, com um resto de esperança, serem caricaturas são, afinal, fiéis reproduções. Por isso, muitos não perdoarão a Vitorino Magalhães Godinho não poderem continuar a fazer passar a irresponsabilidade por ignorância. E, deliberadamente, furtando ao entrevistado o título que lhe pertence, de professor, precisamente porque penso ser tempo de restituir à dignidade que deve representar. Muitos dos títulos actuais servem apenas para que se lhes pendurem pesos leves intelectuais que os usam para polir com eles as suas pequenas vaidades não aceitando a tremenda responsabilidade que a aceitação com os títulos impõe. Portanto, enquanto não se recuperam certos títulos é forçoso não facilitar as confusões devendo empregar-se o título de professor adrede ou então, como aqui se fez, removendo-o quando não faz falta, evidentemente (…)
E prossegue, mais adiante, António Manuel Baptista:
“Como se sabe, em nosso tempo, onde insultamos a democratização pela mediocratização de tudo, em vez de honrarmos os universitários formados em Educação Física com título apropriado, pegamos no título de professor e colamo-lo nas camisolas de ginástica e desporto o que bem visto é uma solução à portuguesa de usar a beca ou toga como fato de treino. E transformámos os docentes em professores. Daqui o meu sinal de respeito quando dispo as togas aqueles que já não precisam delas. Quero eu dizer, na minha, que o título académico não é meta ou partida para quem teria dado o sinal certo que poderia participar na corrida.
Mas esta confusão entre lentes e professores não é, infelizmente, um problema de semântica. O mal não está em chamar professores a instrutores [em esclarecimento meu de posse, apenas, de um curso de ensino médio], licenciados ou doutores em Educação Física, mas atrasar a vida deste país em anos e anos pondo lentes no lugar de professores e fazer de conta que é a mesma coisa.
Neste singular país que é o nosso, criámos até cargos que tomam o nome de qualidades, de funções. Assim, nas praças de touros temos o inteligente que o poderá ser ou não e, de igual forma, o investigador que pode ou não investigar, porque o que se queria era que um nome desse direito a uma letra do alfabeto da burocracia. Com o professor passa-se o mesmo: é um cargo, não uma qualificação funcional E, quando não existe esta coincidência entre cargo e função, trata-se, na sociedade que o permite, consente e coonesta, de um sinal de degenerescência, não de um problema, como disse, para etimólogos” (“Semanário”, “Crónicas da Invenção do Mundo”, 17/11/1984).
Em meu esclarecimento, curiosamente, os cirurgiões, membros do mui prestigiado “Royal College of Surgeons” (England) são tratado por ”mister” em fez de "doctor”. Ou seja, "cada terra com seu uso cada roca com o seu fuso", no dizer do nosso povo! Desta forma, registo de António Manuel Baptista, uma peça da sua muita intervenção em publicações de natureza pedagógica em jornais.
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