sábado, 13 de fevereiro de 2021

Meu depoimento no Sol de hoje sobre o jardim da Praça do Império em Lisboa


Tendo em criança residido em Belém, o jardim da Praça do Império, em frente aos Jerónimos, foi o meu primeiro espaço de recreio. As minhas primeiras fortes recordações são a Fonte Luminosa, o eco no túnel por baixo da linha de Cascais e a Rosa dos Ventos junto ao Padrão dos Descobrimentos.

A Câmara de Lisboa, que anunciou, sem concretizar até agora, o Museu dos Descobrimentos, quer intervir naquele jardim, eliminando um conjunto de brasões vegetais relativos às ex-colónias. Na minha opinião, não devemos discricionariamente mexer em símbolos do passado, por muito odioso que este tenha sido (e, no caso do colonialismo, a violência foi inaudita). Não se deve apagar a memória, esteja esta gravada em pedra num belo mosteiro manuelino como os Jerónimos, num monumento do Estado Novo como o Padrão dos Descobrimentos ou num jardim que foi desenhado para combinar com a fonte brasonada no meio.

 Os jardins estão maltratados? Pois há que cuidar deles em vez de inventar jardins novos, fazendo remendos caprichosos nos que existem. Na mesma lógica de revisionismo da obra de Cottinelli Telmo, autor do jardim e do Padrão, poder-se-ia pensar em destruir a cidade universitária de Coimbra, também da sua autoria. Não corresponde aos gostos de hoje (eu não gosto!), mas já é património nacional. Ou em destruir em Coimbra o Portugal dos Pequenitos, de Cassiano Branco, também da mesma época.

 Não penso que todos os símbolos do passado sejam intocáveis, mas em casos como este as alterações devem ser consensuais, o que não é o caso.

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