domingo, 28 de fevereiro de 2021

A BANALIZAÇÃO DAS CONFERÊNCIAS DE IMPRENSA

 

"Words, words, words" (Hamlet).

Em tom jocoso, li em tempos, de Luís Fernandes Veríssimo, humorista brasileiro:  “Às vezes a única coisa verdadeira num jornal é a data da sua publicação”. 'Mutatis mutandis', de igual modo se pode dizer das conferências de imprensa que informam  o que já está dito e redito, trazendo-me à memória "As Conversas em  Família" de Marcelo Caetano.

Assim, recentemente, Macelo Rebello de Sousa, disse, faça-se-lhe essa justiça, em primeira mão, em Conferência de Imprensa, que em 16 de Março próximo, irá ser anunciado o Plano de Desconfinamento deste país. Dias após, António Costa, aluno aplicado  que nisto de conferências de imprensa e seu numerário não admite ficar em posição secundária, faz uma reprise da revisão da matéria dada pelo mestre

Nesta sua intervenção António Costa, várias vezes levou a mão ao nariz como se tivesse  comichão ou, o que é mais natural, com receio que ele lhe estivesse a crescer  por inverdades que tenha dito, a exemplo de Pinóquio de Gepeto.

Suponhamos, por exemplo, que Salazar, aquando da selvajaria incrível de brancos e negros serem serrados em carpintarias do Norte de Angola (1961), tivesse dado uma mera conferência de imprensa para anunciar o número de mortos, prevendo o seu aumento ou decréscimo, para só então  tomar medidas devidas, embora desatempadas, em vez de pronunciar e cumprir a frase histórica: “Para Angola, rapidamente e em força”!

Foi o que aconteceu, em contraste com os acontecimentos passados na ex-Lourenço Marques, depois de 25 de Abril, na  estradada do aeroporto, em que portugueses foram metidos dentro da bagageira dos respectivos automóveis onde eram cremados em vida, perante a inoperância de uma tropa revolucionária que tinha ordens expressas, emanadas da então Metrópole, para não intervir, cumprindo-as à risca, chegando a ponto de entregaram as suas armas ao antigo inimigo, confraternizando em santa harmonia com os antigos terroristas/guerrilheiros da Frelimo.

Sobre esse passado de vergonha, transcrevo, com a devida vénia, uma elucidativa peça jornalística de Helena Matos (“Observador”, “28/02/2015):

“Falar de descolonização implica falar de militares. E nos anos de 1974 e 1975 falar das Forças Armadas portuguesas implica falar do 'batalhão em cuecas'. Ou seja, das imagens e dos testemunhos sobre as humilhações a que, na Guiné, Moçambique e Angola, estavam ou poderiam vir a estar sujeitas algumas unidades militares.

Entre as explicações que os militares e líderes políticos com responsabilidades na descolonização têm dado para a forma como esta foi feita, conta-se invariavelmente a referência à influência dos jovens radicais que gritavam em Lisboa: ‘Nem mais um soldado para as colónias’. Mas na verdade o problema não foram estas manifestações, por mais que elas tivessem irritado as chefias militares.

O problema é que, como em Lisboa bem se sabia, seria até preferível que os soldados já não partissem para as colónias: quebrada a cadeia hierárquica de comando, os militares protagonizam em África episódios que, para bem das Forças Armadas, Portugal não devia conhecer. Para os políticos e chefias militares que falharam no seu imaginário de libertadores, o ‘batalhão em cuecas’ funcionou como derradeiro argumento desculpabilizador. Nas mãos daqueles que em 1974 e 1975 aplicavam à prossecução dos seus objectivos ideológicos o que tinham aprendido nos manuais militares de acção psicológica, o 'batalhão em cuecas' foi uma notável peça táctica”(fim de citação).

Resumindo, antes de 25 de Abril, a traição à Pátria tinha um significado, hoje tem outro totalmente diferente para a esquerda. Deixo ao critério do leitor a respectiva adjectivação sem parti-pris ou carga política que faça do vilão bom  e do mau excelente, segundo a óptica com que se encaram as questões! Já dizia Camilo, que cito de memória: “Quando se olha com simpatia para o rato preto até o rato preto nos parece branco, quando se olha com antipatia para  o rato branco até o rato branco nos parece preto”. 

Só há um maneira de evitar esta confusão cromática: discutir o passado argumentando com a Razão encarando o presente como uma forma de trilhar os caminhos do futuro pelo para-brisas e não pelo espelho retrovisor, como soe dizer-se!

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