"Words, words, words" (Hamlet).
Em tom jocoso, li em tempos, de Luís Fernandes Veríssimo, humorista brasileiro: “Às vezes a única coisa verdadeira num jornal é a data da sua publicação”. 'Mutatis mutandis', de igual modo se pode dizer das conferências de imprensa que informam o que já está dito e redito, trazendo-me à memória "As Conversas em Família" de Marcelo Caetano.
Assim, recentemente, Macelo Rebello de Sousa, disse, faça-se-lhe essa justiça, em primeira mão, em Conferência de Imprensa, que em 16 de Março próximo, irá ser anunciado o Plano de Desconfinamento deste país. Dias após, António Costa, aluno aplicado que nisto de conferências de imprensa e seu numerário não admite ficar em posição secundária, faz uma reprise da revisão da matéria dada pelo mestre
Nesta sua intervenção António Costa, várias vezes levou a
mão ao nariz como se tivesse comichão ou, o que é mais natural, com receio que ele lhe estivesse a crescer por inverdades que tenha dito, a exemplo de Pinóquio de Gepeto.
Suponhamos, por exemplo, que Salazar, aquando da selvajaria
incrível de brancos e negros serem serrados em carpintarias do Norte de Angola (1961), tivesse dado
uma mera conferência de imprensa para
anunciar o número de mortos, prevendo o seu aumento ou decréscimo, para só então tomar medidas devidas, embora desatempadas, em vez de pronunciar e cumprir a
frase histórica: “Para Angola, rapidamente e em força”!
Foi o que aconteceu, em contraste com os acontecimentos passados na ex-Lourenço Marques, depois de 25 de Abril, na estradada do aeroporto, em que portugueses foram metidos dentro da bagageira dos respectivos automóveis
onde eram cremados em vida, perante a inoperância de uma tropa revolucionária que
tinha ordens expressas, emanadas da então Metrópole, para não intervir, cumprindo-as à risca, chegando a ponto de
entregaram as suas armas ao antigo inimigo, confraternizando em santa harmonia com os antigos terroristas/guerrilheiros da Frelimo.
Sobre esse passado de vergonha, transcrevo, com a devida
vénia, uma elucidativa peça jornalística
de Helena Matos (“Observador”, “28/02/2015):
“Falar de
descolonização implica falar de militares. E nos anos de 1974 e 1975 falar das
Forças Armadas portuguesas implica falar do 'batalhão em cuecas'. Ou seja, das
imagens e dos testemunhos sobre as humilhações a que, na Guiné, Moçambique e
Angola, estavam ou poderiam vir a estar sujeitas algumas unidades militares.
Entre as explicações
que os militares e líderes políticos com responsabilidades na descolonização
têm dado para a forma como esta foi feita, conta-se invariavelmente a
referência à influência dos jovens radicais que gritavam em Lisboa: ‘Nem mais
um soldado para as colónias’. Mas na verdade o problema não foram estas
manifestações, por mais que elas tivessem irritado as chefias militares.
O problema é que, como
em Lisboa bem se sabia, seria até preferível que os soldados já não partissem
para as colónias: quebrada a cadeia hierárquica de comando, os militares
protagonizam em África episódios que, para bem das Forças Armadas, Portugal não
devia conhecer. Para os políticos e chefias militares que falharam no seu
imaginário de libertadores, o ‘batalhão em cuecas’ funcionou como
derradeiro argumento desculpabilizador. Nas mãos daqueles que em 1974 e 1975
aplicavam à prossecução dos seus objectivos ideológicos o que tinham
aprendido nos manuais militares de acção psicológica, o 'batalhão em cuecas' foi uma notável peça táctica”(fim de citação).
Resumindo, antes de 25 de Abril, a traição à Pátria tinha um significado, hoje tem outro totalmente diferente para a esquerda. Deixo ao critério do leitor a respectiva adjectivação sem parti-pris ou carga política que faça do vilão bom e do mau excelente, segundo a óptica com que se encaram as questões! Já dizia Camilo, que cito de memória: “Quando se olha com simpatia para o rato preto até o rato preto nos parece branco, quando se olha com antipatia para o rato branco até o rato branco nos parece preto”.
Só há um maneira de evitar esta confusão cromática: discutir o passado argumentando com a Razão encarando o presente como uma forma de trilhar os caminhos do futuro pelo para-brisas e não pelo espelho retrovisor, como soe dizer-se!
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