quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A POLÍTICA DA VERBORREIA!

“Alguns usam a estatística como os bêbados usam postes, mais para apoio do que para iluminação" (Andrew Lan).

Das estatísticas que neste país se vão fazendo sobre acontecimentos passados antes de  25 de Abril e depois de 25 de Abril, só falta ver o nosso calendário referenciar as siglas a.25 Abril e d.25 Abril, como se 25 de Abril  tivesse parado no tempo para a partir daí o nosso torrão natal cantar hossanas a um tempo actual luminoso, denegrindo um tempo passado de tenebrosas trevas.

A comparação entre esta duas datas incide, por exemplo, sobre o número de autoestradas existentes, no passado e no presente, neste rectângulo ibérico que nos coloca numa posição privilegiada  no panorama europeu. Sejamos imparciais: a ponte 25 Abril e a autoestrada Lisboa-Cascais  foram construídas  num tempo em que Portugal vivia com meios próprios sem mendigar ajudas externas. A partir daí veio o caudal da torneira aberta de subsídios a fundo perdido da União Europeia gastos por vezes, outras desperdiçados em construções faraónicas de que não foi feito o balanço público e acessível ao simples cidadão entre o dinheiro recebido e o dinheiro gasto nessas obras.

Entretanto Coimbra, com longa tradição universitária de lutas contra a ditadura do Estado Novo, quase parou no tempo em que o dinheiro do município foi gasto em frotas de luxuosos bólides da alta cilindrada que estacionam à porta camarária das margens do Mondego.

Em contraste, a Universidade vive com carências de toda a ordem sem dados estatísticos sérios que projectem a sua verdadeira dimensão em que a estatística não seja uma forma de faltar à verdade.

Os comboios do desenvolvimento, tendo como maquinistas governantes, não param nesta urbe prosseguindo viagem em direcção a Aveiro, cidade Veneza de Portugal, e a Braga, a Augusta, retirando-lhe o estatuto de terceira cidade portuguesa.

Entretanto, os antigos combatentes da Guerra do Ultramar vêem as suas justas reivindicações caírem no alçapão de simples promessas por cumprir. Em contrapartida, nunca se fizeram tantas fortunas com dinheiro de origem mais do que duvidosa!

Nunca como hoje se encontram políticos que  tanto mentem por aquela palha como pelo palheiro inteiro, indo diariamente à televisão para tentar explicar os seus desaires que para eles são simples percalços de percurso de uma democracia aos tropeções.  

Sentenciou o jornalista e cartoonista brasileiro, Millôr Fernandes: “As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam por esgotar o seu estoque de verdade”!

Entretanto o que salta à vista dos cidadãos é o aumento da percentagem de pessoas que passa fome ou mesmo daquelas cuja indigência as obriga a viver na rua ou a dormir debaixo das pontes. Quer chova quer faça sol!

Li algures, o dito jocoso de que os economistas levam o tempo a dizerem o que vai acontecer e outra a dizer porque não aconteceu, encontrando eu aqui identificação com as intervenções de toda a hora de quem nos governa que, através de verborreia, tentam justificar o injustificável: a sebastiânica vacinação maciça da população portuguesa que tarda para a calendas gregas!

Calma portugueses! Para serem vacinados, a tempo e horas, só vos falta apelar ao civismo dos vossos compatriotas para que não passem à vossa frente nas filas das pessoas a vacinar com o auxílio do compadrio ou de negócios de mercado negro que  passam perante os pingos da chuva da infâmia sem se molharem.

“Last but not least”, para ser cumprida a vacinação atempada, desejada e ordeira falta-nos uma manhã de nevoeiro, que nos devolvesse a mítica figura de D. Sebastião, desaparecida, para todo o sempre, na desastrosa  batalha de  Alcácer Quibir. A derradeira esperança reside no vice-almirante Gouveia e Melo, embora pise terreno minado e ardiloso! 

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