Peter Singer, professor em Princeton e Melbourne, é um dos mais reputados filósofos contemporâneos. O livro sobre ética foi publicado pela MinervaCoimbra:
Ao longo da minha carreira académica, escrevi sobre diversas questões
de ética aplicada. Um dos meus primeiros artigos, “Fome, Afluência
e Moralidade”, publicado em 1972, abordou o problema da pobreza
distante. Continuo presentemente a escrever sobre esse tema. Aquando
da escrita deste prefácio, a minha publicação mais recente é a edição do
décimo aniversário revista do meu livro A Vida Que Podemos Salvar.
Muitas pessoas, desde bilionários como Dustin Moskovitz e Cari
Tuna, até aos estudantes de pós-graduação Toby Ord e Will MacAskill,
que iniciaram o movimento do Altruísmo Eficaz, foram influenciados
pelos argumentos que aí defendi. Tal levou a que centenas de milhões
de dólares adicionais tenham contribuído para instituições de caridade
altamente eficazes, ajudando pessoas em extrema pobreza, salvando muitas
vidas, restaurando visão ou melhorando a saúde a muitas outras. Mas não
precisa de ser milionário para fazer a diferença. Como o leitor irá notar
no primeiro capítulo deste livro, todos nós podemos agir para melhorar o
mundo.
Em 1975, publiquei Libertação Animal, que procurava responder
à pergunta: Como devemos tratar os animais não humanos? Com base
em factos empíricos relevantes para o debate, defendi que a maneira
com que lidamos com os animais não humanos é indefensável e que nós,
como sociedade e também como indivíduos, devemos fazer algo a este
respeito. Muita coisa mudou desde então e algum progresso aconteceu
efectivamente, mas há ainda um longo caminho a percorrer.
A minha posição sobre o problema da eutanásia também é bem
conhecida: afirmo que, em algumas circunstâncias, não há nada de
moralmente problemático em ajudar alguém a morrer, quando essa pessoa
é competente, bem informada e reflectiu sobre as opções que lhe foram
oferecidas. Muitas das minhas posições eram altamente controversas
quando as publiquei pela primeira vez, e algumas continuam a sê-lo.
Neste livro, Steven S. Gouveia analisa estes e outros problemas éticos
em detalhe, contrastando as várias posições existentes. Por exemplo, no
sétimo capítulo, sobre ética animal, o autor explora a variedade de posições
que podemos encontrar entre os defensores dos animais. É minha esperança
que este tipo de discussão racional e troca de argumentos possa conduzir a
algum progresso.
É, portanto, importante reconhecer que, embora a Ética, como
disciplina da Filosofia, seja uma reflexão abstracta e ponderada sobre várias
ideias teóricas, esta área de investigação tem uma aplicação prática e pode
influenciar, para o bem ou para o mal, o mundo real.
Além dos temas sobre os quais trabalhei, o leitor encontrará distintos
tópicos que são interessantes e relevantes para o mundo em que vivemos
actualmente. Esses tópicos incluem como devemos pensar eticamente
sobre as novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, e a relação entre
humor, ética e liberdade de expressão.
O objetivo de Steven é claro: podemos fazer mais para alcançar um
mundo cada vez mais justo e ético. Mesmo que o leitor não concorde com
todas as ideias aqui apresentadas, deve haver uma aceitação geral de que
debate rigoroso como apresentado neste livro é o caminho para o progresso
ético. Espero que este livro introduza muitos leitores a novas ideias e que
o faça pensar nas suas crenças mais básicas e, talvez, reformular algumas
de suas ideias pré-estabelecidas sobre estes temas. E também desejo que,
reflectindo sobre questões éticas, o leitor queira saber não somente o que
é eticamente correcto, mas que deseje ser melhor, algo que, como irá ver,
está ao alcance de cada um de nós.
Princeton, 10 de Dezembro de 2019
Peter Singer
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