“No meio de tudo isto que fazer? Portugal tem atravessado crises igualmente más, mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e caracter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não – pelo menos o Estado não tem - e os homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior – e sem cura” (Eça de Queiroz).
Começo, como não podia deixar de ser, pelo caso de um político como a amizade de um amigo do peito que toda a gente gostaria de ter para poder vender cabritos sem cabras ter, como soe dizer-se, no país da “Alice no País das Maravilhas”. Para que o cidadão menos informado não dê tratos à memória para saber o seu nome, o seu nome é Portugal.
Reporto-me a casos recentes que se passaram neste país
não sabendo se movimentando ou não
dinheiro por debaixo da mesa, ou apenas por
simples amiguismo por essas medidas
terem tido como fundamento a amizade, seja como for dolosa, por haver corações
de pedra ajoelhados no altar do rei Midas.
A justiça ainda que ande,
arrastando os pés, o dirá nem que seja
para as calendas gregas ou mesmo em
culpa que morre solteira. Há corações de pedra mais dura que granito que não se importam que a morte das
pessoas seja transacionada, morrendo
umas pessoas em vez de outras na pouca vergonha de acesso a vacinas contra o
corona vírus.
Um exemplo, de entre muitos:
A directora do Centro Distrital de Segurança
Social de Setúbal, Natividade Coelho, apresentou esta sexta-feira a demissão
depois da polémica relacionada com a vacinação indevida contra a covid-19 de
126 funcionários, sendo que terá sido ela uma das pessoas vacinadas.
Facto digno de registo, por a nobreza de sentimentos ser tão rara, como que a modos de procurar agulha em palheiro, o gabinete do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, foi hoje apanhado de surpresa pela decisão de 12 deputados [do PSD] não quererem ser vacinados contra a covid-19, nesta fase de precedências como disseram à Lusa fontes parlamentares. São eles, cujos nomes devem fcar afixados num Quadro de Honra: Rui Rio, Adão Silva, Luís Marques Guedes, Firmino Marques, Pedro Roque, Paulo Rios de Oliveira, José Silvano, Helga Correia, Afonso Oliveira, André Coelho Lima, Clara Marques Mendes e Isaura Morais.
Entretanto, a Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil (APROSOC) denunciou, através de um comunicado, a vacinação profissionais não prioritários no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), que já veio a público negar as acusações.
Segundo a nota da APROSOC, o
presidente do INEM, Luís Meira, "contrariou as indicações do Ministério da
Saúde e vacinou dezenas de profissionais não-essenciais e que não são
profissionais de saúde”.
São
eles, Pedro Coelho dos Santos, jornalista e assessor pessoal de Luís Meira, e
seu amigo pessoal; Ana Gomes, assessora jurídica do presidente do INEM, bem
como todos os directores por Luís Meira nomeados, tendo parte deles hoje recebido a segunda dose
da vacina", lê-se no comunicado da APROSOC, que referiu
ainda outras pessoas vacinadas que não seriam do grupo prioritário.
Por outro lado, o director
do INEM no Norte, António Barbosa, assumiu, este sábado, que foram vacinados
funcionários funcionários e proprietários de uma pastelaria do Porto [ a título
informativo, famosa pelas suas “francesinhas”]..
Ontem, segundo Ana Catarina
Mendes, “o PS quer vacina já para Ferro e ‘vices’, sendo que os deputados aguardam umas semanas”.
Entretanto, o PSD divulgou uma nota onde rectifica a lista inicial. Assim, dos 19 nomes
iniciais, não serão vacinados nesta fase: Rui Rio, Adão Silva, Luís Marques Guedes,
Firmino Marques, Pedro Roque, Paulo Rios de Oliveira, José Lima,
Clara Marques Mendes e Isaura Morais.
Anunciou, o Presidente
da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em atitude nobre e, essencialmente, de
“soberaníssimo bom senso”, como defendeu Antero, recentemente, nomeado para um
segundo mandato, Marcelo Rebelo que será vacinado para a covid-19 só na segunda fase do programa que começa em Abril. É nessa altura que se
inicia a vacinação de todos os maiores de 65 anos que não residam em lares, nem
sejam profissionais de saúde ou trabalhem em casas de acolhimento de idosos. O
Presidente da República tem 72 anos, feitos no dia 12 de Dezembro”.
A possibilidade de os titulares de altos
cargos políticos - como o Presidente da República, primeiro-ministro
ou o presidente da Assembleia da República - terem prioridade no acesso à
vacinação para a covid-19 chegou a ser equacionada, mas foi posta de lado.
Finda esta lista de casos, longe de estar
esgotada, ainda hoje se tomou conhecimento de um caso análogo, atentemos na opinião de uma médica
especialista:
Em entrevista ao “Observador", Patrícia Pacheco, directora do serviço de infectologia do Hospital Fernando Fonseca (conhecido por hospital Amador-Sintra), sem rodeios e com o discurso duro de quem viu o hospital onde trabalha ser “virado do avesso” para se transformar numa “amálgama de gente dedicada à Covid”, disse que aquilo que mais se sente nos corredores do Amadora-Sintra é “frustração e indignação” e acusou o Governo de ter deitado tudo a perder, ao “mentir” aos cidadãos e fazer uma gestão “errática” da pandemia.
“A falta de honestidade e de transparência perturba-me,
acho que é o pior que um líder pode ter e é o pior que esta liderança do
Ministério da Saúde tem - não ser transparente, desvalorizar sistematicamente
os problemas que existem, em vez de os encarar, em vez de dizer de uma forma
muito clara que nós temos limites e que não os devíamos ter ultrapassado”,
argumentou.”
Nesta nau das cinco quinas navegando sem bússola com a costa à vista correndo o risco
de soçobrar, em vagas alterosas que se sucedem umas às outras,vão-se conhecendo os nomes de alguns dos seus corajosos e patrióticos capitães que se recusam
a abandoná-la e de outros poltrões que a abandonaram comprando uma baleeira de salvamento paga a peso de erro e
com desonra.
Na desventura é
que se conhece a verticalidade de uns tantos políticos e a espinha
anquilosada de outros mais. Valha-nos
ao menos isso, a título de mera e pobre consolação!
P.S.: Neste ”mare magnum” de verdades e mentiras, em que hoje na política se diz uma coisa e amanhã outra ou mesmo se desdizem ambas, é natural que possa haver necessidade de ser feita uma rectificação a este meu texto, com excepção de desculpas esfarrapadas “pour épater le bourgeois”!
2 comentários:
E os casos sucedem-se. Salazar Coimbra, administrador de hospital dá imunidade a mulher, filha, prima e recepcionista que passaram à frente de médicos e enfermeiros.Este cavalheiro, já foi candidato autárquico pelo PSD.
Actualização: Os deputados do Bloco de Esquerda, PAN, Chega, Iniciativa Liberal e a deputada não inscrita Cistina Rodrigues comunicaram que não pretendem entrar na lista.
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