Crónica de Santana-Maia Leonardo no jornal As Beiras de hoje:
Já estive, por duas vezes, no corredor
da morte e, por duas vezes, a Vida foi
condescendente comigo, ao contrário
do que sucedeu com a minha sobrinha por
quem não teve qualquer misericórdia, apesar de ser bastante mais nova do que eu.
Tudo isto para dizer que, fazendo eu parte
do grupo de risco à COVID-19, não me posso
queixar se a Vida não me amnistiar de novo.
Devo confessar, no entanto, desde já, a minha absoluta ignorância relativamente a uma
matéria sobre a qual a esmagadora maioria
dos portugueses evidencia sinais de enorme
sabedoria, a fazer fé na convicção com que
se expressa nas redes sociais, ainda que com
muitos erros de ortografia e de gramática.
Aristóteles, Edmund Burke, Einstein e Karl
Popper, meus professores à distância, ensinaram-me que o ignorante tem certezas
onde o sábio tem dúvidas. Por isso, é sempre bom ouvir os conselhos dos ignorantes
que são os únicos que verdadeiramente
sabem de tudo e mais alguma coisa. E é isso
precisamente que eu faço, ainda que, por
espírito de contradição, nunca siga os seus
conselhos.
Aliás, em qualquer circunstância (boa ou
má), tenho sempre presente a parábola do
Mestre Zen. Quando alguém o procurava
para lhe dar conta da sua alegria (“Mestre,
veja a sorte que eu tive! O meu filho fez
anos e deram-lhe um cavalo!”) ou de uma
desgraça (“Mestre, veja a grande desgraça que me aconteceu! O meu fi lho caiu do
cavalo e partiu uma perna!”), o Mestre Zen,
na sua imensa sabedoria, a todos respondia:
“Veremos!”.
Ora, como ensina o mestre Zen, muitas
vezes são os acontecimentos, as circunstâncias e as decisões que aparentemente
parecem ser as piores, como é o caso da
queda do cavalo, que acabam, a curto ou
médio prazo, por se revelarem excelentes
(por ter partido a perna, o filho já não foi
chamado para a guerra que, entretanto,
rebentara) e vice-versa.
E há uma regra que me habituei a seguir
que raramente falha: quando a maioria dos
portugueses, hoje tão bem representada por
Marcelo Rebelo de Sousa, defende convictamente uma solução, eu desconfi o dela...
(“Veremos!”, como diz o Mestre Zen).
No entanto, em situações de “alerta
vermelho”, como é o caso, respeito sempre
a cadeia de comando, como aprendi no serviço militar, apesar de saber que o “espírito
de corpo” é um conceito desconhecido por
estes lados.
quarta-feira, 25 de março de 2020
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1 comentário:
Tirando dúvidas: O COVID 19 não tem cura - não há vacina e não há tratamento. Cada qual com o vaso que tem, mais a respetiva capacidade de imunidade. Espero ter um corpo cientificamente sábio cheio de placebo curador se ou quando me tornar viral.
O "veremos" é o conceito mais lógico para responder à imprevisibilidade, pois em situações de extrema gravidade caótica, prefiro um ignorante a responder "não sei" (fundamento do "veremos" Zen) do que um sábio a dizer o que não é, é, ou nem é e depois desmentir as três versões.
Os medicamentos ministrados são os anti-malária, sendo que o vírus não é o da malária, nem temos esses medicamentos. Paracetamois e antibióticos também não servem. Resta-nos os tubos paliativos que não há em número suficiente e parece que a escolha vai para os mais novos, com médicos infetados na viragem do frango, 13 a 16 vezes por dia.
Se não for isto, há de ser o vírus da economia que todos iremos contrair por muitos e longos anos, de bolsos vazios, empresas fechadas e casas devolutas.
Sei lá! Talvez o amor.
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