Artigo da jornalista Raquel Lito, publicado hoje na Sábado, acerca do meu novo livro "Pseudociência", que transcrevo.
Cuidado com os génios com síndrome de Galileu. Atenção às agulhas de acupunctura: são ineficazes. As interrogações de quem já tomou medicamentos homeopáticos - e ficou na mesma.
Por Raquel Lito
Houve um alegado génio, de origem iraniana, Fereydoon Batmanghelidj, que entre 1979 e 1982 se gabou de ter curado 600 companheiros de prisão com água. Mais outro candidato ao título de génio, desta vez britânico, Andrew Wakefield fez uma curiosa associação em 1998: a vacina tríplice (contra o sarampo, papeira e rubéola) poderia causar autismo.
São dois casos fraudulentos apontados por David Marçal, de 37 anos, doutorado em Bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa, que até faz o diagnóstico: sofrem de "síndrome do novo Galileu". Apresentam-se como figuras de autoridade, com uma ideia inédita, usando linguagem científica, na tentativa de se colarem à ciência. Num patamar abaixo, refere uma médica "chica-esperta" que, em 2002, anunciou algo bombástico: exames de mamografia por satélite a mulheres de São Bartolomeu de Messines.
Tudo isto entra no mesmo saco: pseudociência, o termo com que o autor intitula o seu novo livro, da colecção de Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos e que é apresentado esta sexta-feira, dia 31, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
Overdose de placebos
"Num nível erudito, a pseudociência manifesta-se através de cientistas que realizam deliberadamente erros. Noutro extremo ficam os curandeiros, que usam um grande comboio de títulos honoríficos", diz o autor à SÁBADO. Exemplifica com o professor Karamba, "Grande e Poderoso Médium Africano".
Os partidários das medicinas tradicionais e alternativas provavelmente não vão gostar de ler o que se segue. Feito o aviso, o cientista analisa, na página 25 do ensaio, os medicamentos homeopáticos. "Não são bebidos aos litros, mas em gotinhas, que podem ser escorridas para cima de umas bolinhas de açúcar [comprimidos]". Sim, são placebos que dão a ilusão de melhoras, de forma transitória "porque somos alvo de atenção médica."
A prová-lo, o próprio, juntamente com Carlos Fiolhais (professor catedrático da Universidade de Coimbra), tomou uma caixa de um medicamento deste tipo contra a gripe, diante de 30 pessoas, em Novembro de 2012. "Foi uma overdose homeopática", conta, mas sem efeito. Ficaram na mesma.
Sobre a acupunctura (estimulação de pontos específicos do corpo com agulhas), David Marçal também é céptico. Primeiro, porque tem um efeito insignificante e apenas em algumas condições clínicas, como a dor. Ou não tem efeito nenhum, além do placebo - quando comparado com tratamentos simulados, "em que se espetam agulhas em sítios não indicados para a condição clínica."
Depois, porque a organização internacional Cochrane Collaboration concluiu que os ensaios clínicos para tratar insónias, dores menstruais e no pescoço eram inconclusivos e pouco rigorosos.
4 comentários:
O Marçal "transcreve com a devida vénia" (!!) uma entrevista feita a Marçal sobre um livro do Marçal.
O Marçal em pouco mais de uma semana publicou aqui três entradas sobre o livro de Marçal (e não publicou nada mais).
E o mais interessante aqui nem sequer é isto. É que o livro do Marçal não vem acrescentar uma linha um assunto que é mais velho que a Sé de Braga e sobre o qual existem centenas de livros. Uns excelentes, outros mais ou menos e outros como o do Marçal, que é uma espécie de enchido de lugares comuns. Ou seja, o Marçal faz exactamente o mesmo à epistemologia que um astrólogo faz à ciência. Procede exactamente da mesma forma. É curioso.
"...a pseudociência manifesta-se através de cientistas que realizam deliberadamente erros"
Não, neste caso chama-se fraude científica (com dolo). Um contabilista que comete erros deliberadamente não manifesta pseudocontabilidade; pratica uma fraude. O João Vale e Azevedo não foi condenado por manifestar pseudodireito, mas por praticar fraudes.
Tanta confusão que vai nessa cabeça.
Porra que é ... ou candidato a génio!!! Outra vez o Andrew Wakefield, já vi que não se informou novamente... misturar tudo o que se refere neste artigo e no mínimo, meter tudo no mesmo saco ou então é deliberada má fé.
Entretanto, desapareceu sorrateiramente a vénia que o Marçal fazia à entrevista ao Marçal. Não lamento que o Marçal não tenha reconhecido o erro; lamento que o resto não tenha tido o mesmo destino da tal auto-vénia.
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