Disseram-me que António Coutinho, conhecido como "grande podador" devido à autoria da ideia de que o sistema português de ciência e tecnologia devia ser cortado em 50%, foi de novo ao programa de Medina Carreira, que acha pouco pois não se importaria de cortar 100%.
Não vi, mas disseram-me que se da sua primeira aparição no mesmo programa o imunologista desdenhou das ciências sociais e humanas da segunda desdenhou das engenharias, em particular das que se aprendem e fazem no Instituto Superior Técnico. Quanto às Universidades, para ele só se salvam a de Lisboa e a do Minho, deduzindo-se que as outras todas poderiam ser podadas. A ciência portuguesa, para Coutinho, apesar dos erros monumentais e demonstrados da actual FCT, tem de se reduzir à viva força aquilo que ele chama "excelência". Além de "grande podador" afirma-se também como "grande avaliador", uma vez que já sabe onde está a dita cuja "excelência": está no Instituto Gulbenkian de Ciência, que ele dirigiu e aconselha, e está na Fundação Champalimaud, que ele também aconselha, curiosamente as duas na área da biomedicina no sector privado e na região de Lisboa. Quer dizer, Coutinho não consegue ver mais do que o seu umbigo. Não sabe que a ciência disciplinar, toda ela mas principalmente a excelente, se caracteriza por uma humilde consciência das suas limitações. Não sabe que só o trabalho interdisciplinar nas várias áreas permite hoje em dia avançar sobre o desconhecido. E não sabe que a cultura científica é a argamassa que deve cimentar a comunidade científica com a sociedade e que a unidade das ciências está na base dessa cultura.
Não sei se ainda existe um órgão colectivo intitulado Conselho Nacional para a Ciência e Tecnologia ou se esse órgão passou a ser unipessoal, falando agora pela boca do seu presidente. Talvez não fosse má ideia haver um Conselho Nacional da Ciência e Tecnologia que defendesse a ciência e a tecnologia por inteiro e não apenas uma fatia dela, principalmente agora que elas estão seriamente ameaçadas por uma política inculta e irresponsável.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
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12 comentários:
pois eu caí na asneira de começar a ver: ao fim de alguns minutos tive de desligar, tal era o enjoo ... lamentável!
Vale a pena ver, para nos apercebermos não só da pobreza de ideias mas principalmente da desonestidade intelectual: a asneiras tantas, quando questionado sobre a experiência da ESF para fazer este tipo de avaliações, AC indica que esta agência fez avaliações (que se presume semelhantes) na Noruega e na Alemanha!
A lista de "grandes avaliações" da ESF pode ser encontrada na página da FCT
https://www.fct.pt/apoios/unidades/avaliacoes/docs/ESF_PR_Eval.pdf
ou aqui
http://www.esf.org/fileadmin/Public_documents/Publications/evaluation.pdf
Os países onde houve qualquer coisa que ainda se poderia aproximar (se não se vir do que de facto se trata e não se lerem os relatórios...) do tipo de avaliação que está a ter lugar em Portugal seriam a Bulgária, a Eslovénia e a Lituánia...
Também gostei da dos morcegos no fim.
Com o devido respeito pelos podadores, a poda sempre foi inventada por um burro...
Havia uma videira que não dava uvas, só ramos. O agricultor votando a videira ao desprezo, prendeu-lhe o burro à cepa. Como o tempo foi muito, o burro acabou por roer a videira toda. Mas no ano segunte rebentou com nova vida passando a produzir uvas. Estava inventada a poda...
O Dr Coutinho disse foi a verdade na avaliação anterior os avaliados escolheram os avaliadores e agora.é o descalabro que nem todas as unidades foram visitadas como anteriormente....pois claro acabou o compadrio e as palmadinhas nas costa não gostaram!
Pode explicar como é que a totalidade das unidades que tiveram Bom, Muito Bom ou Excelente nas avaliações anteriores fizeram para escolher os painéis? É que mesmo que seja verdade que algumas delas o fizeram, é muito improvável que todas o tenham feito, não é? Por outro lado, as unidades a que pertencem os investigadores que anteriormente poderiam ter tido o poder de fazer isso estão todas na segunda fase, pelo que nada disso faz muito sentido.
Mas estamos de acordo que nesta avaliação claramente algumas das unidades não escolheram os painéis: caso contrário não teríamos pessoas de física molecular a avaliar matemáticos, peritos em literatura italiana a avaliar psicólogos, engenheiros civis a avaliar biólogos, etc
De qualquer forma tudo isto é escamotear a verdadeira questão: Coutinho, Seabra e Parreira (todos da mesma área) estão a levar a cabo uma operação premeditada de canalização de fundos públicos para unidades onde têm interesses, duas das quais privadas, utilizando a desculpa que 50% das unidades são mediocres. Só que foram eles próprios que decidiram que 50% das unidades deveriam ser mediocres. Não interessa quais são, desde que as deles passem e tenham acesso ao financiamento que eles próprios vão decidir via FCT.
Seria também útil que se soubesse onde é que o Dr. Coutinho foi buscar a ideia que a ESF fez avaliações semelhantes na Noruega e na Alemanha.Essa sim, parece ser uma mentira descarada.
As verdades do Dr. Coutinho incluem dizer que a ESF fez avaliações semelhantes na Alemanha e Noruega...
Talvez fosse de mencionar neste ótimo blog, no interesse do equilíbrio, o comentário publicado pela ESF na Nature (http://www.nature.com/nature/journal/v514/n7523/full/514434e.html).
De particular relevância é o parágrafo: "During the course of the independent research evaluation implemented for the Foundation for Science and Technology in Portugal, the ESF has witnessed an unprecedented level of direct interference with peers and panel members in the performance of their work. Even while the review process is ongoing, many have received intimidating communications designed to discourage them from completing their agreed tasks. This practice is unacceptable and damaging to science".
Esta afirmação deixou-me muito preocupado. Seguramente que enquanto investigadores todos concordamos que este tipo de prática é eticamente e moralmente repreensível, pondo em causa todo o conceito de "peer-review" através duma espécie inaceitável de "bullying" aos avaliadores, por parte dos próprios avaliados. Acima de tudo, este tipo de prática lesa grandemente a imagem da nossa comunidade científica internacionalmente, pintando os nossos investigadores como muito menos maduros do que são.
O Prof. Fiolhais, no seu artigo de 2009 (http://dererummundi.blogspot.pt/2009/02/como-obter-financiamento-para-um.html), cita o Prof. Darret “If your first application is rejected, read the reviewer's comments carefully. When you first read them you will be sad and angry, so spend a week being angry - write nasty rebuttal letters, but DON'T SEND THEM TO ANYONE - they are for therapy only! Don't call anyone at the funding agency."
Deixo aqui o pedido ao de rerum natura, enquanto excelente ferramenta de comunicação de ciência que re-afirme a importância de não intimidar avaliadores.
Intimidar os avaliadores quer dizer chamar-lhes à atenção que o que estão a fazer não é a avaliar um simples projecto mas sim o total financiamento de fundos públicos a que as unidades terão acesso durante os próximos anos e que lhes tendo a FCT dito para cortarem metade dos projectos, continua a afirmar publicamente que não o fez?
Ou intimidar os avaliadores é lembrar-lhes que assinaram um non-disclosure agreement que poderá ser activado legalmente caso digam que foram, de facto, obrigados a cortar metade das unidades?
Penso que tivemos oportunidade de ver recentemente quem é que usa tácticas intimidatórias.
Evitando discursos inflamatórios ou insinuações, parece-me que há canais apropriados para manifestar as nossas opiniões, entre as quais este blog. Tenho de concordar com o Prof. Fiolhais, qualquer contacto com os avaliadores durante a avaliação é inapropriado e poe em causa o processo de peer-review, um pilar da ciência moderna.
Curiously enough, the first reaction of biologist Alain Trautmann when he learnt about what was going on was also to contact some panel members:
http://www.urgence-emploi-scientifique.org/content/requiem-pour-la-recherche-portugaise-r%C3%A9cit-dune-destruction-organis%C3%A9e-sous-les-auspices-de
Maybe there is something about this evaluation that prompts scientists to do this.
Actually, I am beginning to feel an urge to do the same myself. After all, it might be the best way to find out what it was that FCT/ESF really told them.
As a matter of fact, I suggest anyone really wanting to find the truth to do the same. Their names may be found in
http://dererummundi.blogspot.pt/2014/08/facts-about-fctesf-science-evaluation_29.html
together with the reasons why this evaluation is not what it seems.
Dear sir, Alain Trautmann was not being evaluated. I'm afraid that your previous comment inviting the harassment of the evaluators reveals your disrespect and ignorance of how science is conducted. Prof. Fiolhais would surely be ashamed by your conduct.
Dear Madam,
I am afraid you are making some assumptions here which might prove to be wrong. There are, by now, many people who, like Alain Trautmann, are not being evaluated and are interested in following this process. And you may rest assured that within each area of the European scientific community there is much less than 6 degrees of separation.
Alain Trautmann wrote
“On serait curieux de connaître l'opinion de ces chercheurs (que j'ai contactés directement) sur cette opération de massacre de la recherche portugaise, à laquelle ils ont participé. En toute conscience, ou sans s'être rendu compte des conséquences ?”
Curiosity is the basis of science. I am also very curious about the answer to the above questions.
Were these evaluators aware of the consequences of what they were doing from the start? - and whether or not you speak French, I am sure you understand the meaning of the word “massacre” in the above paragraph.
If they were aware of the consequences, I wouldn't be surprised that many of the scientists with an interest in the future of science in Europe will, as Alain Trautmann and myself, be curious about their opinions on the subject. Of course they don't have to reply, but the question still stands and I am not sure that, under the circumstances, they will be in a position to complain about this.
If they were not aware of the consequences, it is my belief that they were misinformed and are now trapped. The way I see it, there is only one way out, but I am sure each one of us will have his (or her!) own opinion on the subject.
In any case, I, like Alain Trautmann, believe that the answer to the above questions lies with the panel members. Not with ESF, not with FCT, not with the panel chairs, but with all panel members. And, as such, it is my belief that there is only one way of finding the truth.
ps If half of what is alleged about this evaluation is true, I am not sure I am the one who is revealing disrespect and ignorance about how science is conducted. A process is not an evaluation just because some people decide to call it so. It deserves to earn such an accolade. That is only possible after it has been evaluated itself. And for that we need to know the facts, like any proper scientist, and not be satisfied with the waving of empty sentences and threats.
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