Texto na sequência de um outro intitulado Um Nobel para a Educação - 1: O sonho de Malala.
Nesse texto notei que o Prémio Nobel da Paz atribuído no presente ano poderia ser o Prémio Nobel da Educação, caso ele existisse. Referi-me a Malala Yousafzai e agora refiro-me a Kailash Satyarthi.
Kailash Satyarthi é um engenheiro indiano que muito cedo, ainda rapaz, percebeu a iniquidade da desigualdade social e não se conformou com isso. Não se conformou sobretudo com a realidade do trabalho infantil, um trabalho escravo que sacrifica os mais pobres. Rouba a infância, rouba vida a muitos milhões de crianças não apenas na Índia, mas um pouco por todo o mundo.
O seu esforço de três décadas tem permitido libertar alguns milhares e levá-las para a escola. A educação é o seu fim.
O presidente do Comité Nobel traduziu esse esforço da seguinte maneira "As crianças devem ir à escola e não serem exploradas financeiramente". E é aqui que me detenho.
Na Europa o trabalho infantil, existindo, não tem uma expressão comparável à de outras partes do mundo: a luta pela "educação para todos" deu frutos inequivocamente positivos mas não se pode considerar terminada, afinal tudo o que é civilizacional pode regredir e de modo rápido. Não devemos, pois, respirar fundo e descansar.
Além disso, as crianças constituem uma imensa população sugestionável e, nessa medida, muito apetecível em termos financeiros. Por isso mesmo, grandes empresas têm rondado os sistemas de ensino, as escolas, os professores e os próprios pais para, dizem, colaborarem, participarem na educação. A sua demagogia é apresentada como altruísmo, apoio, cooperação; as ofertas são da mais variada natureza; a técnica é sofisticada e subtil. Ninguém tem resistido.
Esta é uma forma de exploração igualmente inaceitável: também aqui a criança deixa de ser vista como pessoa para ser ver vista como objecto de interesse alheio. Mas, como se pode fazer compreender isto numa sociedade tão refém da economia e de tudo o que gira à sua volta?
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