terça-feira, 7 de outubro de 2014

As figuras de cera no ensino médico

 Próximas Conferências das Lojas de Saber no Exploratório de Coimbra:

                                                                
                                                                                   A Poiares Baptista (Prof. Jubilado da UC)


24 de Outubro de 2014, 18:00 horas, auditório do Exploratório Centro Ciência Viva / Coimbra


As figuras de cera são conhecidas desde a antiguidade egípcia e romana, utilizadas para fins mágicos, religiosos ou procurando reproduzir imagens. Na idade média eram utilizadas essencialmente como ex-votos, tradição que permanece. Foi nos fins do séc. XVII que surgiram as primeiras figuras reproduzindo modelos anatómicos, procurando dar-lhes uma maior “objectividade” que os desenhos, embora estes fossem já de grande qualidade, a exemplo dos efectuados por Leonardo da Vinci, Rafael ou Miguel Ângelo, no séc. XV. Tinham a vantagem de procurarem reproduzir as características naturais, serem de tamanho real, terem relevo e cor. Embora a ceroplastia fosse de difícil e demorada execução os modelos tornaram-se muito apreciados e considerados como objectos de curiosidade, com marcado cunho demonstrativo, utilizados essencialmente nas ciências humana e zoológica. Eram reunidos em museus, os chamados “Gabinetes de Curiosidades” que na época pretendiam mostrar o progresso da ciência. São exemplos o Museu da Zoologia (Dominico Vandelli - Univ. Coimbra, 1735-1816) ) e a “Câmara de Raridades” ( S. Petersburgo – Pedro o Grande, 1682-1725). A primeira escola de ceroplastia aplicada ao ser humano foi iniciada em 1771 pelo Padre G. Zumbo, em Bolonha, tendo durado até 1893. A expansão dos modelos de cera no ensino médico, quer na anatomia normal quer em diversas patologias (doenças cutâneas, malformações, patologia tumoral, etc) foi enorme. Numerosas são as colecções existentes nas Universidades e Faculdades de Medicina; as mais famosas, seja pela quantidade seja pela qualidade dos modelos, são as do museu do Hospital de S. Luís (Paris) que conta com 4807 exemplares essencialmente dedicados ás doenças cutâneas e venéreas, e a do “Museo La Specola Florence” pela qualidade artística dos 513 modelos anatómicos humanos.

Em Portugal há três colecções de algum valor. Na Faculdade de Medicina de Coimbra existe , com início em 1861, o Museu de Anatomia Patológica, com 196 peças ( 161 de patologia cutânea, 10 de patologia cardíaca e 25 de patologia variada) e, no Instituto de Anatomia Normal, 36 modelos. A totalidade são de origem francesa. No Museu da Faculdade de Medicina do Porto há uma colecção de 112 peças variadas, também de origem francesa. Nos Hospitais Civis de Lisboa há o Museu Sá Penela, dedicado às doenças dermatológicas, com 245 exemplares por artistas portugueses. 

O recurso aos modelos de cera no ensino da matéria médica foi diminuindo com o aparecimento dos modelos em “papier maché” , mais resistentes, mais acessíveis, mais fáceis no fabrico e permitindo os modelos clásticos (modelos desmontáveis) e sobretudo, e naturalmente, com o rápido desenvolvimento da arte e ciência fotográfica. O método da plastificação de cadáveres humanos, recentemente utilizado, não parece ter tido sucesso científico-pedagógico, mas como curiosidade museológica discutível. 

Hoje a ceroplastia é utilizada quase que exclusivamente nos chamados “Gabinetes de cera” reproduzindo com fidelidade as celebridades artísticas, desportivas, politicas ou cientificas, ou procurando recrear figuras históricas.
São exemplos bem conhecidos, o Museu Grévin, em Paris, criado em 1889, e o Museu Mme Tussaud, em Londres, da mesma época, com 13 filiais no mundo.

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