domingo, 2 de dezembro de 2012

PREFÁCIO A "OUTRAS TERRAS NO UNIVERSO"


Prefácio, escrito pelos próprios autores, de "Outras Terras no Universo. Uma história da descoberta de novos planetas" de Nuno Cardoso Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato (Gradiva), que foi lançado a 24 de Novembro no Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra:


"A procura vai começar
Um planeta é o berço da mente, mas ninguém
pode viver num berço para sempre."

KONSTANTIN E. TSIOLKOVSKY
(1911; russo, pioneiro da astronáutica)


O fascínio do homem pelo espaço faz da astronomia uma das áreas que suscitam mais curiosidade em todos nós. Esta curiosidade é atestada pelas notícias de descobertas de novos planetas, de supernovas, buracos negros ou de estranhas galáxias, que frequentemente são difundidas pela comunicação social. Saber qual é o nosso lugar no infindável cosmos, perceber como se formou o Sol, a Terra e os outros planetas do sistema solar, ou compreender se existe vida noutros sítios do universo, são alguns dos assuntos que esta área da ciência aborda. A resposta a estas questões está intimamente ligada à compreensão de nós próprios, das nossas origens, enquanto seres humanos. A curiosidade que estes assuntos desperta ultrapassa mesmo os limites da ciência, criando um misticismo que inspirou artistas e pensadores ao longo da história.

Curiosamente, mesmo após séculos de investigação e contrariamente ao que seria de esperar, muitas das questões que aparentam ser simples ainda não têm uma resposta cabal. A definição de planeta é disso um bom exemplo. Afinal quantos planetas existem no sistema solar? No final do século XX a resposta era clara: nove era o número mágico. De Mercúrio a Plutão. Pouco importava se os planetas do sistema solar eram profundamente diferentes entre si. Afinal não existia sequer uma definição formal de planeta. Mercúrio, Vénus, a nossa Terra e Marte, são rochosos. Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno são gigantes gasosos ou gelados. E havia ainda Plutão, uma «pedra de gelo» no sapato dos astrofísicos que em nada se parecia com os restantes oito planetas. E no meio deste cortejo estava o Sol, a «nossa» estrela, uma de entre as mais de 100 mil milhões que compõem a nossa galáxia, a Via Láctea.

Aos planetas juntavam-se milhares de outros pequenos corpos, os mais conhecidos formando a célebre cintura de asteróides que povoa a região entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Outros estavam a ser descobertos, pequenos corpos gelados parecidos com Plutão, a orbitar numa cintura para além da órbita de Neptuno. E, claro, os satélites naturais que enfeitam alguns dos planetas, dos quais a nossa Lua é um belo representante.

Mas nem sempre foi assim. O sistema solar foi sendo progressivamente descoberto ao longo dos séculos, com  o auxílio de novas técnicas e com a ajuda preciosa da sempre presente matemática. Os planetas foram rodando em torno do Sol, mas aos olhos do conhecimento humano pareceram entrar e sair várias vezes das suas órbitas. As teorias apareceram e caíram enquanto aos poucos fomos desvendando os mistérios do universo que nos rodeia. Este processo ajudou-nos a descobrir as leis da física que governam o cosmos e novos elementos químicos para preencher a tabela periódica. O estudo do sistema solar e a mais recente busca de planetas em torno de outras estrelas ajudaram-nos a perceber cada vez melhor o nosso lugar no universo. Tirou-nos do centro do mundo e colocou-nos na humilde situação de seres humanos.

Já no século XXI todo este paradigma sofreu novas alterações. A descoberta de mais e mais objectos semelhantes a Plutão na chamada cintura de Kuiper, juntamente com a detecção de centenas de planetas a orbitar outras estrelas (os chamados planetas extra-solares, ou exoplanetas - uma lista completa e actualizada de exoplanetas conhecidos pode ser encontrada em http://exoplanet.eu ), obrigou os astrofísicos a (re)formular a definição de planeta. Durante este processo Plutão foi despromovido, mas em contrapartida aprendemos que o sistema solar não é único no universo, e que talvez a maioria das estrelas que vemos no céu tenha o seu próprio cortejo de planetas.

Neste livro retratamos alguns episódios da aventura que levou à procura e à descoberta de novos planetas no nosso sistema solar e à busca de novos mundos a orbitar outras estrelas. Começamos na antiga Grécia, um palco onde alguns grandes filósofos iniciaram esta fantástica viagem. Depois, ao longo dos capítulos, vamos descrever os vários passos, por vezes dolorosos, que foram e vão sendo dados para descobrir planetas dentro e fora do sistema solar. Damos uma ênfase maior a estes últimos, os chamados planetas extra-solares, mas não deixamos de parte algumas das mais relevantes descobertas e polémicas sobre o nosso próprio sistema planetário.

Ao longo do livro tentamos descrever de forma simples os principais métodos utilizados, usando analogias para tentar dar ao leitor um cheiro da física que está por trás de cada um. Para cada caso vamos também explicar os principais resultados e os maiores sucessos alcançados. Num domínio de investigação tão vasto, é naturalmente impossível ser exaustivo, e muitos resultados de grande interesse foram propositadamente deixados de lado para não tornar o livro demasiado maçudo e repetitivo. Procuramos em todo o caso dar ao leitor uma visão o mais abrangente possível do tema, sempre com uma abordagem científica e objectiva.

Nesta área, em que as descobertas se fazem a um ritmo estonteante, temos igualmente de nos limitar a descrever os resultados conhecidos na altura em que o livro está a ser finalizado (Setembro de 2012). Notamos no entanto que a maior parte dos capítulos são intemporais, já que relatam acontecimentos e factos que o tempo não poderá apagar.

Uma vez que um dos autores deste livro está directamente envolvido na procura de novos planetas e participou directamente em algumas das descobertas mais recentes, algumas passagens do livro estão escritas na primeira pessoa. Achamos que esta abordagem também ajuda a pôr o leitor na posição do investigador. No mesmo sentido, são relatados vários episódios desta aventura científica, por vezes com algum romantismo, mas sempre com o maior rigor possível. Esperamos que esta abordagem permita ao leitor perceber que os cientistas são homens e mulheres como qualquer de nós, e não seres extraterrestres sem sentimentos, como tantas vezes são (erradamente) retratados na literatura e no cinema. Esperamos igualmente que desta forma nos seja possível mostrar que os cientistas têm um lado emocional, capaz muitas vezes de se sobrepor à racionalidade, e sentido crítico, que a ciência normalmente exige. Sem esse lado tão genuinamente humano a ciência seria provavelmente pouco interessante.

A busca inacabada de planetas parecidos com a Terra tem um relevo especial neste livro. Na verdade, esta busca está intimamente ligada a uma pergunta que a humanidade se tem feito desde sempre: estaremos sós no universo?

Como apenas na superfície de um planeta podemos imaginar as condições necessárias para que a vida se desenvolva, pelo menos a vida como a conhecemos, a procura de outros mundos está estreitamente ligada à procura de vida extraterrestre. Por esse motivo não pudemos deixar de abordar esta questão, embora de forma relativamente resumida.

Apertem-se, por isso, os cintos. Deixemo-nos levar por uma aventura humana e científica que, apesar de perdurar há séculos, está ainda longe do seu término.

Nuno cardoso Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato

13 comentários:

José Batista disse...

Estou curioso.
Em dezanove de Novembro procurei este livro em Braga, mas ainda não estava disponível...

Guardei(-me) para o Natal.

O prefácio aguçou-me o apetite.

Mas agora estou cheio de testes.

Vou apertar o cinto...

Se houver oportunidade, e se eu o ler a tempo, direi alguma coisa sobre o livro.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Outras terras, outros mares, casulos ou gases. O universo, poderia ser uma experiência exótica. Compreender da extensão, seria respeitar da dimensão e, o universo?! Este, orientado universo seria diverso e, composto de sistemas, planetas ainda por explorar. Do fascínio ao limite, está par de condicções as letras, palavra à saber. Pois, desta possibilidade, consiste o fluir idéias em: realçada ciência. O labor do enunciado proporciona a perspectiva o precioso assimilar; significado por desfrutar da potencialidade humana e, descreve-nos do empenho ao conhecimento. Ao domínio da evolução humana a consciência. Ora, o entusiamo é estudo e, a natureza enquanto fluxo de vida ao espaço, depende e avança e, nem escapa-nos da saudável leitura aos três autores.

Ildefonso Dias disse...

Aos autores:

Nuno Cardoso Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato, quero expressar o excelente prefácio que disponibilizam aos leitores do DRN.

Quero-lhes também dizer-lhes que o prefácio constitui uma excelente resposta* ao senhor Professor José Baptista da Ascenção quando aqui no DRN e no post "Da maldade de cada dia nos livrai hoje: A propósito de uma ilustração" escreveu o seguinte:

"Por exemplo, foi Bento de Jesus Caraça, ou é (ou foi) alguém no mundo, perfeitamente consciente da sua posição no cosmos?
Dúvida minha."

Senhores Professores, Nuno Cardoso Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato, da leitura do vosso prefácio tudo fica muito claro para os leitores do DRN; e imediatamente fica a descoberto tudo aquilo que de ridículo há na pergunta formulada pelo senhor Professor José Baptista da Ascenção.

* A melhor resposta, a que eu gostaria de ter dado.

Bem Hajam pelo vosso trabalho, pois o país bem precisa de livros que tragam cultura ás pessoas.

P.S: É esta mentalidade, esta forma de actuar (que Eça de Queirós denunciou com toda a acutilância na sua Obra) e que está tão enraizada na sociedade portuguesa, que nos impede de avançar e vai com toda a certeza deixar-nos ficar sempre para trás.
Mas estas maneiras de estar e de intervir devem ser fortemente denunciadas, é isso que deve ser feito, é o meu contributo.

Ildefonso Dias disse...

Esta minha controvérsia com o Professor José Baptista teve origem num comentário em que afirmava que é possível a existência de uma pessoa culta e má.

Ao que primeiramente, o autor do post, o Professor João Boavida, respondeu: “Meu caro José Batista da Ascenção, obrigado pelo seu comentário, inteligente e equilibrado.”

Ora, a controvérsia iniciou-se logo depois, e porque eu considero não ser possível a existência de uma pessoa culta e má (e só porque não é essa a compreensão que eu tenho da cultura, como abaixo vou referir).

Talvez por já ter dito que o comentário era inteligente, o Senhor Professor João Boavida nada mais disse!!! (não será esta uma boa imagem à moda do porreirismo nacional?!), ... ou talvez` não porque, convenhamos, pode o Senhor Professor João Boavida ter uma noção do significado da cultura, muito diferente do meu, o qual, lhe permite, por conseguinte, aceitar e até concordar com a perspectiva do Professor José Batista. Mas a verdade é que nada mais disse!!!



Senhor Professor João Boavida;

Eu penso, e digo-lhe com franqueza, que o significado da cultura, e nas suas linhas gerais, pode muito bem ser compreendido nestas duas citações que lhe transcrevo:

“A aquisição da cultura significa uma elevação constante, servida por um florescimento do que há de melhor no homem e por um desenvolvimento sempre crescente de todas as suas qualidades potenciais, consideradas do quadruplo ponto de vista, físico, intelectual, moral e artístico; significa numa palavra a conquista da liberdade.[Bento de Jesus Caraça]

"(...) se a cultura lhe não servir para se fazer mais reflectido, mais tolerante, mais compreensivo e mais humano, para nada lhe servirá então a cultura:"[Abel Salazar]

Pensando desta forma, não posso concordar com a existência de pessoas cultas e más.

Pensando desta forma, só posso discordar com o que escreveu o Professor José Batista.

Pensando desta forma, só posso criticar, igualmente, e pelo silencio, o Professor João Boavida.


P.S.: A responsabilidade de escrever para o publico, ainda que seja num blog, deveria levar a uma clarificação da posição do Senhor Professor João Boavida.
É isso que lhe peço que clarifique a sua posição. Nos tempos difíceis que vivemos deveria ser uma exigência para com as pessoas com responsabilidade - clarificar inequivocamente ideias e opiniões.

Ildefonso Dias disse...

Professor João Boavida;

Se considerar-mos que existem pessoas cultas e más, isso significaria que a maldade seria qualquer coisa que contribuiria também para o enriquecimento da sociedade. E não é assim, pois não?

O Professor José Batista, nas suas palavras parece circundar o conceito de cultura só a conhecimento. Não lhe parece isso?

Transcrevo-lhe agora umas palavras de Álvaro Cunhal, para uma melhor compreensão do que eu pretendo explicar:


"O próprio conceito de cultura exige determinadas definições e concepções. A cultura é só conhecimento? É só isso a cultura? A cultura não é também algo que diz respeito à formação moral do individuo? A cultura não é qualquer coisa que se refere não só àqueles que mais sabem, mas também àqueles que sabem menos? E que, portanto, têm um modo de viver e uma contribuição para a sociedade que enriquece em termos directos a cultura geral da sociedade?"


Professor João Boavida, e porque este blog trata sobre a naturezas das coisas, estou eu aqui, num post dedicado à apresentação de um livro, que me parece muito interessante, a pedir-lhe uma lição, a sua lição, não tenho é a certeza que irá ler estas palavras.

Obrigado.



joão boaventura disse...

Caro Ildefonso Dias

A sua argumentação é válida quando procurou definir o âmbito da cultura, e as consequências benéficas que da sua definição se tiram.

Mas, não explorando a definição de "pessoa má", nos seus diversos âmbitos, a argumentação ficou incompleta e parcial.

Cordialmente

Ildefonso Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ildefonso Dias disse...

Professor João Boaventura;

Em primeiro lugar quero agradecer-lhe a leitura dos meus comentários e a sua resposta; o Senhor nem imagina a satisfação que me deixa.

A verdade é que eu pensei naquilo que o Senhor Professor me diz no seu comentário.

E pensei desta forma, o que não será uma 'pessoa má' isso eu sei. Não sendo nós seres perfeitos, quem o é, uma 'pessoa má' não é de certeza alguém que tem opiniões ou comportamentos diferentes do nosso. Isto pareceu-me claro.

Mas, contudo, falta dizer o que é realmente uma 'pessoa má'.
Aqui é que é parece que a coisa é mais difícil definir; mas eu inclino-me para que seja o conceito de cultura que deverá dizer o que é uma 'pessoa má'.
Também por isso, o meu pensamento me leva a excluir a possibilidade de existência de uma pessoa culta e má.
É a própria cultura que a define e a rejeita a 'pessoa má'.

Obrigado.

joão boaventura disse...

Caro Ildefonso Dias

A falar é que a gente se entende, e as trocas de ideias permitem clarificar os pensamentos.

O pressuposto de que a cultura implica automaticamente a exclusão da maldade não tem sustentação porque a cultura dá-nos muitos conhecimentos a seco, isto é, independentemente do nosso carácter. A Cultura alarga-nos os horizontes mas não melhora o nosso carácter.

Onde o carácter se manifesta é, não na cultura, mas na Civilização que implica humanismo, civismo, respeito pelo outro, esforço colectivo de convivência social.

Julgo que estará aqui a separação das águas.

Cordialmente
joão boaventura

Ildefonso Dias disse...

Professor João Boaventura;


Sem dúvida que o carácter se manifesta na civilização.
Mas eu tenho a ideia de que é a cultura quem deverá ditar e proporcionar as determinantes da actividade psíquica de um individuo.

Mas quando o Senhor Professor diz “Civilização que implica humanismo, civismo, respeito pelo outro, esforço colectivo de convivência social.” ai eu penso que esta-se a confundir cultura com civilização.

Veja-se o esclarecimento, do Professor Bento de Jesus Caraça na “A Cultura Integral do Individuo”;


“(…)
Não deve também confundir-se cultura com civilização.

O grau de civilização de um povo mede-se pela quantidade e qualidade dos meios que a sociedade põe à disposição do indivíduo para lhe tornar a existência fácil; pelo grau de desenvolvimento dos seus meios de produção e distribuição; pelo nível de progresso científico e utilização que dele se faz para as relações da vida económica.

O seu grau de cultura mede-se pelo conceito que ele forma do que seja a vida e da facilidade que ao indivíduo se deve dar para a viver; pelo modo como nele se compreende e proporciona o consumo; pela maneira e fins para que são utilizados os progressos da ciência; pelo modo como entende a organização das relações sociais e pelo lugar que nelas ocupa o homem.

Assim, um povo pode ser civilizado e não ser culto e vice-versa. Não pode, por exemplo, comparar-se o nível desenvolvido de civilização do povo americano actual com o incipiente do povo ateniense do período áureo, como não podem também comparar-se os seus respectivos graus de cultura, muito superior o deste ao daquele (1). Entre um Péricles e um Hoover medeia uma distância enorme, aquela mesma que separa o povo que aplicava a lei do ostracismo para evitar que um indivíduo influente pudesse exercer coacção sobre a liberdade dos cidadãos, daquele outro povo em que há anos foi possível que um grupo de homens metesse outro homem, porque era revolucionário, dentro de uma gaiola e o andasse mostrando de terra em terra, a tanto por cabeça.”

(1) Fala-se, evidentemente, do tipo médio da classe superior num ou noutro caso. se nos reportarmos às classes inferiores, não sei se haverá grande diferença entre a condição de um negro das plantações de algodão e a de um escravo grego, fosse ele escravo de um Aristóteles...


Cordialmente,

Ildefonso Dias disse...

Professor João Boaventura;


Este homem ímpar, brilhante e de cultura que foi Bento de Jesus Caraça, a sua acção cívica e politica, constitui um legado impressionante cujo valor infelizmente poucos ainda conhecem.

E é um legado que nos permite ver mais longe, «abrir o olho», sobretudo para as 'guitarradas ao luar de outros'.
A realidade, contudo é tal qual Bento de Jesus Caraça a refere na sua conferencia Escola Única “Vivemos no meio duma realidade que é mais forte do que as construções metafisicas ou as guitarradas ao luar doutros.”

Vêm isto a propósito de uma outra controvérsia que mantive com o Professor José Batista, e que tem precisamente a ver com a “Escola Única”.
Aqui trata-se de uma espécie de 'guitarrada ao luar' da autoria do Professor José Batista, oferecida muitas vezes aos leitores do DRN, e que é preciso denunciar.

Dá-se o caso que o Professor José Batista, em muitos dos seus comentários aparece muitas vezes a chamar a atenção para a realidade dos mais necessitados, colocando-se inclusivamente no papel daqueles para quem a igualdade de todas as crianças deveria ser um imperativo nacional, independentemente das condições económicas e sociais dos pais.

Mas, por outro lado o Professor José Batista é contra a “Escola Única” e escreve o seguinte:
“Nada de "escola única". Isso nunca.
É o que penso.”

Analisemos então o que escreve o Professor Bento de Jesus Caraça:

“Dos confins da história caminham, ao encontro do homem de hoje, aquelas grandes correntes fecundantes – laicismo, interesse colectivo, democratização integral da cultura – que hã-de fazer dele o homem novo, criador da cidade nova.
Essas grandes correntes confluem na organização escolar da 'Escola Única' que, como tal, constitui, não uma varinha mágica, como alguns supõem, nem uma obra diabólica, como outros pretendem, mas sim, uma necessidade humana, uma etapa histórica.
E por ser obra humana, ela vem perene de tudo aquilo que é inerente às obras humanas – uma parte de verdade, uma parte de erro, uma grande aspiração para a luz, em resumo – uma condição necessária ao progresso da civilização.”

Professor João Boaventura, repare só no que faz o senhor Professor José Batista:

1 – O senhor Professor José Batista aparece à primeira vista, aos leitores do DRN como um defensor das grandes correntes de que acima nos fala o Professor Bento de Jesus Caraça. Sem duvida que isso está bem explicito no seu discurso.

2 – Depois ignora de propósito que essas correntes confluem todas numa instituição como a 'Escola Única' e para isso presta-se a diabolizar a 'Escola Única'; Nem que para isso tenha de deformar e deturpar o conceito de 'Escola Única'. (neste link poderá o senhor pode ver o que eu já lhe escrevi:
http://dererummundi.blogspot.pt/2012/11/escolas-novas.html )

Professor João Boaventura, felizmente existiram e sempre existirão homens que como o Professor Bento de Jesus Caraça, que trabalharam para levar a cultura ao povo, e que ajudam a libertar das nuvens de fumo que nos lançam constantemente, como o faz o Professor José Batista.

Termino este longo comentário com as últimas palavras da conferencia 'Escola Única'

“E agitar ideias, a despeito do que dizem certos escribas abafadores de cultura, agitar ideias é mais do que viver, porque é ajudar a construir a vida”.



Cordialmente,

joão boaventura disse...

Caro Ildefonso Dias

Acaba por transcrever de Bento de Jesus Caraça, no seu comentário de
6 de Dezembro de 2012 11:13, esta ideia:

"Não deve também confundir-se cultura com civilização."

Agora veja o que escrevi em 5 de Dezembro de 2012 14:08:

"Onde o carácter se manifesta é, não na cultura, mas na Civilização que implica humanismo, civismo, respeito pelo outro, esforço colectivo de convivência social.

Julgo que estará aqui a separação das águas."

Donde se prova que, o que é do conhecimento geral, há uma marcada diferença entre Cultura e Civilização, já debatida por Norberto Elias no "Processo Civilizador", ou "A Sociedade dos indivíduos", e também por Leonel Franca, no volume "A crise do Mundo Moderno".

Cordialmente

Ildefonso Dias disse...

Professor João Boaventura;


Eu considero que a diferença entre cultura e civilização talvez não seja assim tanto do conhecimento geral das pessoas, ou pelo menos o desejável. São muitos os sinais que recebemos e que consentimos e que são um retrocesso civilizacional.

Para confirmar isso transcrevo o Professor Rui Baptista num post, pedindo-lhe antecipadamente desculpa por isso, mas que me parece exemplar:

"Sinais dos tempos e de uma sociedade que corre o risco de ser vítima da decadência romana sem ter conhecido sequer o apogeu de uma cultura grega. Depois a utopia, como li algures, é um sonho por realizar. Enfrentemos, pois, a realidade nua e crua sem perder o dever de nos manifestarmos porque, como escreveu Miguel Torga, “o homem quando perde a capacidade de se indignar perde a própria razão de ser”!"


Cordialmente,

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...