domingo, 20 de maio de 2012

LÉON PAUL CHOFFAT (1849-1919)

Texto de A.M. Galopim de Carvalho que o De Rerum Natura muito agradece.

GEÓLOGO suíço radicado em Portugal a partir do ano de 1878, na Secção dos Trabalhos Geológicos de Portugal, veneranda instituição que, ao sabor das modas passou por várias designações oficiais, entre as quais, Serviços Geológicos de Portugal, Instituto Geológico e Mineiro e, actualmente, Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia.

Cursou Química e Ciências Naturais na Universidade e na Escola Politécnica Federal de Zurique onde, concluído o curso, foi nomeado professor agregado de Paleontologia Animal. As excursões geológicas que então realizou tiveram lugar, sobretudo, no Jura francês e esse facto habilitou-o com um valioso capital científico que, mais tarde, utilizou no estudo dos terrenos jurássicos de Portugal. Durante o Congresso Internacional de Geologia de Paris, em 1878, foi convidado por Carlos Ribeiro, então director da referida Secção dos Trabalhos Geológicos, a deslocar-se a Portugal a fim de, em especial, estudar a estratigrafia e a paleontologia dos terrenos jurássicos.

Aceite o convite, Choffat chegou a Lisboa em 1878 e aí encontrou, como colega da Instituição, outro grande geólogo, Joaquim Filipe Nery Delgado, que lhe proporcionou todas as condições necessárias ao desempenho do trabalho projectado, já iniciado por Carlos Ribeiro. Em 1883, por morte de Carlos Ribeiro, o novo director, Nery Delgado, encarregou-o do estudo de todos os terrenos mesozóicos de Portugal. Durante quatro décadas ofereceu à geologia portuguesa, então a dar os primeiros passos, o melhor do esforço e saber, que foi muito.

Como homem de ciência e como cidadão tornou-se um dos vultos mais assinalados no Portugal de finais do século XIX e inícios do século XX. A sua actividade científica está expressa em múltiplas memórias e comunicações publicadas pela respectiva instituição e em jornais e revistas da especialidade, nacionais e estrangeiros. Entre eles avultam quatro volumosas memórias: "Étude stratigraphique et paléontologique des terrains jurassiques du Portugal - Le Lias et te Dogger au Nord du Tage" (1880), "Recueil de Monographies stratigraphiques sur le système crétacique du Portugal - 1er. étude - Contrées de Cintra, de Bellas et de Lisbonne" (1885), "Récueil de Monographies Stratigraphiques sur le système Crétacique – 2ème. étude - Le Crétacique au Nord du Tage" (1890) e "Essai sur la Tectonique de la Chaîne de l'Arrabida" (1908), além de outros de menor desenvolvimento sobre estas temáticas, com destaque para o levantamento da Carta Tectónica de Portugal e um interessante estudo sobre as estruturas geológicas a que chamou vales tifónicos.

No conjunto dos seus trabalhos, Choffat estabeleceu a seriação estratigráfica dos terrenos mesozóicos do território português, descreveu a litologia e a fauna fóssil das diferentes assentadas e identificou as respectivas fácies. Propôs a criação do andar Lusitaniano para o conjunto estratigráfico Oxfordiano superior – Kimeridjiano, temporariamente aceite pelos seus pares. Definiu o andar que designou por Belasiano (termo entretanto caído em desuso), representado na região de Belas, nos arredores de Lisboa. Este andar de valor local constituído por margas e calcários com uma série siliciclástica na base, correspondente a parte do Cenomaniano. Deve-se-lhe ainda a separação entre o Trias e o Infralias.

O seu prestígio dentro e fora de Portugal foi muito o que levou alguns dos seus pares a homenageá-lo na nomenclatura paleontológica, com designações como Choffatella, um género de foraminífero, Choffatia, um género de amonite, Perisphinctes cf choffati, uma espécie de amonite, Callavia choffati, uma espécie de trilobire, entre outras.

                                                                   Perisphinctes cf choffati

No sector da geologia aplicada, são dignos de referência o seu “Étude Geologique du Tunnel du Rocio” (1989) e vários estudos de hidrogeologia visando abastecimento de água a Lisboa, Guarda, Guimarães e outras localidades do país, e estudos sobre as águas minerais dos terrenos mesozóicos, registados como alguns dos melhores trabalhos neste domínio.

A cartografia geológica mereceu-lhe particular atenção. Assim, de colaboração com Nery Delgado, procedeu à actualização da Carta Geológica de Portugal, na escala de 1/500 000, publicada em 1899, em substituição da que fora publicada por Carlos Ribeiro e Nery Delgado, em 1876. Deve-se-lhe, ainda, a realização dos trabalhos de campo que levaram à produção de várias cartas geológicas regionais, em escalas de maior pormenor, como as das regiões de Lisboa, Cascais Sintra, Loures, Leiria, Arrábida, Buarcos-Verride e Montejunto.

Doutor honoris causa, em 1892, pela Universidade de Zurique, Paul Choffat foi condecorado, em 1892, com o grau de Comendador da Ordem de Isabel a Católica e, em 1896, com o grau de Comendador da Ordem de S. Thiago. Em 1900, a Sociedade Geológica de França concedeu-lhe, e pela primeira vez a um estrangeiro, uma das suas maiores recompensas, o prémio Viquesnel.

Pelo seu trabalho, Paul Choffat foi feito sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, da Real Academia das Ciências de Madrid, da Sociedade Geológica de Londres e da Real Academia das Ciências e Artes de Barcelona, sócio honorário da Sociedade Belga de Geologia, Paleontologia e Hidrologia, e sócio do Instituto de Coimbra, da Academia das Ciências e Belas Artes de Besançon, da Real Sociedade Espanhola de Ciências Naturais de Madrid, da Sociedade de História Natural de Basileia, da Sociedade de Geografia de Genebra, da Sociedade de História Natural de Toulouse, da Associaçâo dos Engenheiros Civis Portugueses, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, da Sociedade Jurássica de Porrentruy (Suíça), da Sociedade de Física e Historia Natural de Genebra, da Sociedade Helvética de Ciências Naturais, da Sociedade de Química e História Natural de Zurique, da Sociedade Russa de Mineralogia e da Sociedade de Ciências Naturais de Lauzane.

A.M. Galopim de Carvalho

7 comentários:

Joachim disse...

Trilobite, aquela imagem?

José Batista da Ascenção disse...

Bolas, aquilo é uma amonite.
E não foi o Professor Galopim que se enganou. Tenho a certeza.

José Batista da Ascenção disse...

É a amonite "Perisphinctes cf choffati". Fui confirmar ao blogue do Professor Galopim. Lá a imagem (que é a mesma) está bem legendada. Aqui: http://www.sopasdepedra.blogspot.pt/

Helena Damião disse...

Muitas desculpas aos leitores e ao Professor Galopim de Carvalho. E os meus agradecimentos pela detecção do erro (derivado da minha grande ignorância em matéria de geologia).
Cordialmente,
Helena Damião

Cláudia S. Tomazi disse...

Como dizem por ali: faz água a barba.

Belíssima homangem a lembrança, doutora Helena Damião.

José Batista da Ascenção disse...

Bom, agora já se podiam apagar os comentários ao texto, quer dizer, refiro-me especificamente aos meus.
Pode ser?
Agradecia.

Cláudia S. Tomazi disse...

Uma curiosidade a respeito da imagem: choffati

Es fácil ver en la “sucesión de Fibonacci” que cada término es la suma de los dos anteriores. Pero existe entre ellos otra relación curiosa, el cociente entre cada término y el anterior se va acercando cada vez más a un número muy especial, ya conocido por los griegos y aplicado en sus esculturas y sus templos: el número áureo: 1.618039....

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