domingo, 13 de maio de 2012

Algo incompreendido e incompreensível

O Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas, no Porto, é um caso de resistência e de sucesso no ensino das Clássicas. Quando em concursos internacionais, onde os melhores alunos europeus marcam presença, os nossos têm brilhado, ainda que com menos tempo de aprendizagem do que os restantes (ver aqui vídeo com os protagonistas do corrente ano). Nesta circunstância, é evidente que o ensino e, antes disso, a determinação em manter vivas as "línguas mortas" faz toda a diferença. Uma das professores que tem sido responsável por esse ensino e que tem mantido essa determinação é Alexandra Azevedo. É dela o texto que se segue.

As competições de latim, os «certamina», são um modo que os vários países europeus encontram para premiar o gosto pela cultura clássica, bem como o saber linguístico. Com a exceção da Espanha e da Grécia, onde o estudo do latim também tem perdido adeptos, a verdade é ser o latim uma disciplina de lugar inquestionável na maior parte dos países. Assim, e apenas para enumerar alguns, Itália, Bulgária, Roménia, Sérvia, Croácia, Suiça, França, Inglaterra e os eternos campeões destas competições, Áustria e Alemanha, são alguns dos países em que se estuda latim obrigatoriamente durante um período variável de 4 a 8 anos, consoante o país e as ambições de carreira dos alunos.

Recentemente, a Inglaterra tentou a introdução do latim no primeiro ciclo. Na Áustria, por exemplo os alunos de Medicina que não tiveram latim, por se encontrarem numa escola técnica (e são poucos !), terão obrigatoriamente de o estudar por um ano letivo na faculdade: um latim mais centrado no estudo vocabular e etimológico.

Também no resto do mundo, lembrando apenas México ou Estados Unidos, se comemora o estudo das línguas clássicas com provas deste género e até competições de caráter mais infantil e lúdico durante o período de férias de verão, em formato de acampamentos clássicos. São muitas as Universidades Americanas que incluem provas de latim e grego em jeito de concurso.

Em Itália, descendente mais direta de Roma, capital do Império, realizam-se provas comemorativas de autores latinos: César, Tito Lívio, Ovídio, Horácio, Cícero, Tácito, Séneca, sendo que só algumas delas são abertas a estrangeiros. Assim, a Europa estudiosa do latim inicia o seu ano letivo com competições nacionais para a escolha dos melhores candidatos, dado o elevado número de alunos que estudam esta língua, dividindo-se principalmente pelas três maiores – Certamen Ciceronianum, Certamen Horatianum e o Certamen Ovidianum Sulmonensis, provas comemorativas de Cícero, Horácio e Ovídio respetivamente. Estes testes pretendem sempre a tradução de um excerto da obra do autor, um comentário literário e, muitas vezes, um comentário gramatical.

Quem já viveu esta experiência sabe o entusiasmo que é chegar a Arpino, por exemplo, e observar cerca de 600 participantes, num convívio verdadeiramente salutar e europeu, e descobrir que afinal a raridade do estudo do latim só existe no nosso país. Essa constatação tem tanto de incómoda e triste, como de apanágio para a alma: afinal, a solidão e incompreensão que os latinistas sentem a nível do ensino no nosso país é apenas isso mesmo, algo incompreendido e incompreensível, sinónimo de um grande atraso cultural.

Alexandra Azevedo

1 comentário:

Tânia Santos disse...

Infelizmente no nosso país não se estuda o latim, algo que eu considero que deveria ser obrigatório. Na minha opinião, o estudo desta língua clássica seria uma mais valia para uma melhor aprendizagem e compreensão da nossa língua materna por parte dos alunos. Talvez desta forma, a nossa querida língua não seria tão "assassinada" como é...

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