O vídeo aqui ontem publicado por Desidério Murcho, “Sugata Mitra:
deixem as crianças aprender”, conduz à conclusão de que toda a moeda tem anverso e
reverso. Ou seja, todas as
metodologias de ensino têm prós e contras, ainda que limitadas, segundo o seu
próprio autor, “a lugares na terra, em cada país, onde por razões várias, boas
escolas não podem ser construídas e bons professores não podem ou não querem
ir”.
Aliás, o primeiro exemplo apresentado pelo autor no vídeo tem como ”mestre” um rapaz de oito anos a
ensinar a navegar na Net uma menina de seis anos. Logo aqui se fica sem saber quem o ensinou nos
segredos e meandros, mesmo que rudimentares, dos computadores.
De entre muitos outros posts de crítica que aqui publiquei sobre
computadores, que poderei referenciar, caso algum leitor se mostre interessado
- o primeiro, intitulado “A entrega dos
portáteis nas escolas” (15/09/2007) - transcrevo parte de um outro, também meu, intitulado “O Homem Contemporâneo do Futuro” (03/05/2001):
“Mas, por seu turno, os computadores, com o seu
incomensurável poder de armazenamento de informação, não estão (ainda?)
capacitados para substituirem a emoção e sentimentos - que, segundo António
Damásio, ‘constituem
a base daquilo que os seres humanos têm descrito desde há milénios como alma ou
espírito humano’ -, com
trunfos que o levam a um jogo ganho à partida. É este o drama de um mistério
com que se debate a nossa era e que só o devir se encarregará de desdramatizar
ou não! Mas, como nos ensina Eric Hoffer, 'a única forma de prever o futuro
é ter poder para formar o futuro!'”
Mas nada melhor que nos reportarmos ao caso do
nosso país e das suas crianças. Para o efeito, e possível tema de uma discussão
interessante, transcrevo, na íntegra, de um artigo da “Lusa”
(17/10/2008):
“A maioria dos
estudantes entre os nove e os 14 anos utiliza a Internet para conversar em
‘chats’, apesar de 44,1 por cento dos pais pensarem que o fazem para procurar
informação, segundo um estudo que será divulgado hoje.
‘A comparação
das respostas dadas pelos estudantes e pelos encarregados de educação é
extraordinariamente interessante. Na utilização da Internet, as crianças
respondem que o fazem para conversar ou descarregar músicas e os pais estão
convencidos que elas a utilizam para pesquisar informação e como apoio aos
trabalhos escolares.’, disse à Lusa o coordenador geral do ‘Estudo de Recepção
dos Meios de Comunicação Social’ José Rebelo.
Outros factos
salientados pelo coordenador geral do estudo, é o de 11,1 por cento dos jovens
inquiridos confessarem quer usam a Intenet para visitar sites pornográficos,
facto admitido apenas po 0,7 por cento dos pais.
Quase metade das
crianças inquiridas (42,5 por cento) usa a rede para publicar fotografias ou
informações, questão que é apontada por 75,9 por cento dos pais quanto a
preocupações ao uso da net.
Refira-se que as
visitas a sites pornográficos preocupam também 70,6 por cento dos encarregados
de educação que responderam ao inquérito.
De acordo com
outro estudo, do Projecto Eu Kids Online, revelado em Setembro, Portugal é, a
par da Polónia, o único em 21 países europeus onde os pais portugueses menos
conhecem o que os seus filhos fazem on-line.
Na parte do
estudo dedicado aos jovens, ficou também claro que ‘o investimento das famílias
em equipamentos é inversamente proporcional ao seu estatuto socioprofissional’.
É nos sectores
da pequena burguesia de execução que encontramos investimentos maiores e os quartos
das crianças enchem-se de quinquilharias diversa. Em contrapartida, nos
sectores mais privilegiados do ponto de vista social e profissional, os
investimentos são menores’, explicou José Rebelo”.
São duas posições, de certo modo antagónicas, até porque analisadas em contextos diferentes, mas merecedoras, todavia, de uma reflexão cuidada de professores e pais (e
não só!). Com respaldo numa citação de Erich Fromm (psicanalista, filósofo e sociólogo
alemão, 1900-1980): “O problema
não é que os computadores possam pensar como nós, mas que nós possamos pensar
como os computadores”. Servindo-me, agora, uma vez mais, e tanto a meu gosto, da voz do
povo: “Não há bela sem
senão”. Por mais bela que ela seja, mesmo!
11 comentários:
Caro Rui Baptista:
Os dados que apresenta em nada contradizem a possibilidade de os computadores poderem ser usados na educação com resultados positivos. Por outro lado compara o incomparável: as crianças a quem Sugat Mitra se dirige com o seu projeto com as crianças de países desenvolvidos que possuem escolas e computadores pessoais em suas casas.
Relativamente à utilização que os nossos adolescentes fazem da internet em casa isso depende da supervisão dos seus pais (que devem ser ajudados nessa tarefa). O bloqueio a sites pornográficos ou a outros que nada têm a ver a educação é algo muito fácil que inviabiliza uma má utilização da internet.
PJ
Nunca percebi por que é que os sites pornográficos são pecaminosos e nada têm a ver com a educação. Mas pensando bem, compreende-se: há países em que olhar uma mulher (ou homem se o observador for mulher) pouco vestida é vedado e condenado. Cada um tem as suas manias.
A visão indiscriminada ou de elemento (desprepeparado) encaminha estímulos de forma a organizar aspectos que corrompem o lúdico na formação infantil. Da advertência: a curiosidade em aprendizado desperta o sentido enquanto acção. O reconhecimento de si em cenas ( por analogia de cumplicidade) de imagens, orientam impressões e projecta actos (civilizados ou não) em contínua formação. A experiência precoce é uma forma de agressão (em contagem regressiva) compromete a descoberta do sentido ético (enquanto natureza instintiva libera para o condenável). A considerar, que refrear a forma de abordagem é imperativo para converter do êxito a formação em preparar uma geração que invista a energia em compromisso solidário e que (persiga) alavanque esforços não dissipando-os as disputas.
A pornografia compromete o estímulo criativo e emerge confusão de ordem prática. O indivíduo mau resolvido é um problema social, principalmente o masculino.
Prezado JP: Do seu comentário reproduzo: “Os dados que apresenta em nada contradizem a possibilidade de os computadores poderem ser usados na educação com resultados positivos. Por outro lado compara o incomparável: as crianças a quem Sugat Mitra se dirige com o seu projeto com as crianças de países desenvolvidos que possuem escolas e computadores pessoais em suas casas”.
Se reparou, isso mesmo são situações por mim previstas e, como tal, abordadas no meu post. Por duas vezes, até, como sejam ( e passo a citar-me):
Primeira: “O vídeo aqui ontem publicado por Desidério Murcho, “Sugata Mitra: deixem as crianças aprender”, conduz à conclusão de que toda a moeda tem anverso e reverso. Ou seja, todas as metodologias de ensino têm prós e contras, ainda que limitadas, segundo o seu próprio autor, “a lugares na terra, em cada país, onde por razões várias, boas escolas não podem ser construídas e bons professores não podem ou não querem ir”.
Segunda:” São duas posições, de certo modo antagónicas, até porque analisadas em contextos diferentes, mas merecedoras, todavia, de uma reflexão cuidada de professores e pais (e não só!).”
Quanto ao bloqueio de sites pornográficos, receio ser um batalha perdida por parte dos pais, muito menos familiarizados com as novas tecnologias do que os filhos nascidos e criados na era das tecnologias computacionais. Isto, claro, sem querer fazer generalizações sem perigosas. Obrigado pelo seu comentário que perspectiva o mesmo problema visto por ângulos diferentes.
Cordialmente,
Caro anónimo: se o Senhor Rui Baptista lesse certos poemas do Bocage ... diria que era um ordinário e não um poeta?
Correcção: Na antepenúltima linha do último §, "sem perigosas", corrijo para "sempre perigosas".
Nunca!
Cara Cláudia: eu dava dinheiro para entender o que você diz. Mas a minha inteligência não chega lá. Não lhe vou descrever o que eu e os meus amigos fazíamos e procurávamos em matéria de sexo quando tínhamos 12 ou 13 anos. Se descrevesse você ficaria horrorizada. Os homens que já tiveram 12 e 13 anos adivinham facilmente. Quanto a raparigas, confesso que estou mal informado. Suponho que posso concluir das suas teorias que eu e os meus amigos somos uns monstros e uns problemas sociais etc. etc. etc. Se calhar, sem o sabermos, fomos os causadores da actual crise. Obrigado pela sua informação, eu não sabia quão rasca eu sou.
Atenciosamente, seu
Um dos muitos anónimos.
Primeiro - nem tire de própria conclusão, outrem.
segundos - sois produto de vossa consciência (quiça inconsequencia).
terceiro - se foste fruto doce no honesto, o és agora.
quarto é intimidade.
Do monetário - a educação é preciosa! sabeis, mas quanto pesa?
Não creio que sejais arrependido, o que tomba é o instrumento não a fé.
Não há monstros, não há.
É da natureza o facto de possuir ou aliviar-se, porém não só.
Ouso da resposta, é necessária.
Não chego lá, o que me diz está para além da minha inteligência Cláudia. Obrigado.
Como tenho vergonha de ser tão ignorante assino como Anónimo.
Confesso, cúmplice do seu dilema. Por vezes, conhecemo-nos menos, ao dever. O difícil é quase necessário.
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