Meu artigo que acaba de sair no número de aniversário de "As Artes entre as Letras":
O tempo tem muita pressa. Foi o que pensei
quando recebi o convite da Nassalete Miranda para a festa do 3.º aniversário do
jornal cultural As Artes Entre As Letras.
Ainda outro dia assistíamos, com a saída do número um, ao parto, e já temos a
criança, desenvolta, no jardim de infância, qualquer dia a entrar para a
escola. Está a crescer e a aparecer. Precisa, claro, de mais alimentação e
mimos, mas vai crescer ainda mais.
Tão pouco tempo volvido e já As Artes Entre as Letras ganhou um lugar
destacado no nosso panorama cultural, um lugar que é reconhecido por todos que
o têm visto crescer e aparecer. Como, afinal, as publicações crescem bem mais
rapidamente do que as pessoas, o jornal pode já ser considerado adulto, pelo
lugar que alcançou no espaço público. Hoje não se pode ter uma ideia do que é a
cultura portuguesa, especialmente a norte, sem o ler com a devida atenção. É um
jornal que reflecte a cultura e faz cultura, verdadeiramente imprescindível num
tempo de crise.
A cultura é vista pelo jornal no seu
sentido mais amplo, que é o único que hoje faz sentido. As artes em geral mas
também as ciências são parte da “cultura humana” (a expressão, título de um
livro do filósofo espanhol Jesús Mosterín, parece pleonástica, mas reflecte o
moderno conhecimento científico de que outros seres vivos, com quem partilhamos
muitos genes, são capazes de manifestações culturais). Na sociedade humana contemporânea,
bem mais do que na sociedade pretérita, artes e ciências convivem, informando-se e
enriquecendo-se mutuamente. Longe vamos dos tempos da polémica das “duas
culturas” do literato e cientista C. P. Snow. Ao contrário do que essa refrega
sugeria, a cultura humana não são duas, mas uma só. Apesar da pluralidade
das suas formas, a origem e o destinatário dela é sempre o ser humano. Foram as
artes e as ciências que ajudaram o homo a
ficar sapiens. O dramaturgo e poeta
romano Terêncio não perdeu actualidade: Sou homem pois nada do que é humano
me é estranho. Por outro lado, tem-se alargado a ideia de que sentidos e sentimentos
estéticos estão no âmago não só das obras artísticas mas também das obras
científicas: Na ciência, reconhece-se muitas vezes o verdadeiro apenas porque é
belo.
Parabéns à Nassalete Miranda, que tem
liderado a equipa que tem feito crescer o jornal. Parabéns a todos os
colaboradores. Eu próprio, que, por férias sabáticas, tenho andado arredio da
colaboração regular, prometo voltar em breve, para ajudar a promover o convívio
entre as artes e as ciências.
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