Meu depoimento à revista "C" sobre a final da Taça entre a Académica e o Sporting:
Eu sou da Académica, embora não frequente o estádio (sou contra aquele estádio, que parece um gigantesco OVNI e que custou uma fortuna e contra as trafulhices dos dirigentes e empresários do futebol). Sou da Académica desde pequeno, pois lembro-me de, estudante do liceu, assistir aos treinos no velho campo de Santa Cruz (dos pés de Rui Rodrigues saíam mísseis teleguiados com uma precisão incrível e dos pés de Manuel António saíam meteoritos letais para as balizas adversárias). Lembro-me também de assistir a alguns jogos de binóculos, da Cumeada para o Calhabé, com um interesse maior do que o de um astrónomo por uma supernova. Lembro-me ainda da minha excitação quando havia um frenesim geral na cidade por aqui virem jogar equipas internacionais para as provas europeias (Taça das Taças e Taça das Cidades com Feira, não sei onde era a feira...). Depois, estudante na Universidade, senti que o clube foi deixando de ser o que era, com jogadores que deixaram de ser estudantes.
O último jogo que fui ver em Coimbra foi com o Salgueiros, no tempo em que ainda havia Salgueiros, para o meu filho aprender algum vocabulário que não conhecia de casa. Houve de tudo: não só insultos, como também penaltis e expulsões que justificavam os insultos. O futebol é irracional e a irracionalidade faz parte da vida.
Hoje, apesar da minha relação com o futebol ser mais distante, desejo que a Académica ganhe. A ligação do clube com a academia continua hoje a ser ténue, mas sei que há uma relação com a cidade. A Universidade vai bem e recomenda-se em muitas áreas, mas a cidade nem por isso. A Briosa, tal como a cidade, anda tão apagada há tanto tempo que esta Taça daria muito jeito para acender a chama.
Carlos Fiolhais
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Na foto: equipa da Académica dos anos 60 com Ruio Rodrigues e Manuel Antónjio (os outros também eram muito bons).
1 comentário:
Não tive o privilégio de ser estudante de Coimbra (nascido em Luanda, foi na “Capital do Império” que prossegui os meus estudos). Nesta Cidade do Mondego, vivo desde 75 depois da Independência de Moçambique e nela encontrei um acolhimento que não esqueço e novos amizades. Quanto a simpatia futebolística ela sempre se inclinou para o Sporting do tempo e da magia dos "5 violinos": Peyroteu, Jesus Correia, Vasques, Travassos e Albano.
Este post trouxe-me, uma vez mais, à lembrança a saudosa Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques, onde iniciei a minha vida docente. E digo porquê: nela fui professor dessa esperança nacional do desporto-rei que os ventos de uma habilidade nata trouxeram para a Associação Académica de Coimbra, de seu nome Nene. Quis a vida madrasta de um estúpido desastre de automóvel , em plena juventude, que ele abandonasse a sua morada terrena.
Realiza-se, no próximo sábado, dia 19 de Maio, a final da Taça de Portugal entre a Académica e o Sporting, que coincide com dia de meu aniversário. A singela homenagem que presto a Nene é que a Académica levante bem alto aos céus a Taça.
Nene, esteja onde estiver, muito gostará e aplaudirá comovido. Um abraço Nene!
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