domingo, 6 de maio de 2012

Don't worry, be happy

Quando respondia a mensagens de correio electrónico surgiram-me no écran do computador vários títulos: “Exames nacionais de matemática”, “Testes intermédios”, etc. Cedi à tentação, fui ver... e o que vi é, digamos… esclarecedor: definitivamente, a sociedade não sabe que rumo há-de dar à educação escolar!

Uns querem dela substância, invocando o compromisso que lhe é inerente de levar todos os alunos a conhecerem matérias relevantes e a desenvolverem capacidades cognitivas, afectivas, morais, de expressão motora… Afirmam que isso implica disciplina, envolvimento e esforço desde os primeiros passos de escolaridade, pedem aos professores que façam adquirir essa atitude às crianças e aos jovens, que se empenhem em ensinar e que sigam a par-e-passo a aprendizagem de todos e de cada um.

Outros, adoptam a lógica oposta… E qual é ela? Exemplifico com alguns títulos que “apanhei” nessa “olhadela” na internet (sublinho, a negrito, o mais “interessante”):
- Descobre o “Já passei” – plataforma de educação online - Resumos de todas as matérias de mais de 50 disciplinas. Os nossos resumos são desenvolvidos por professores altamente qualificados que utilizam uma linguagem clara e acessível de modo a que os alunos facilmente os compreendam.
- AGORA É MAIS FÁCIL ESTUDARES.
- A forma fácil, rápida e gratuita de encontrar o melhor explicador. Deixa-nos o teu contacto que iremos procurar o melhor explicador para ti. Depois, és contactado rapidamente. Não tens que procurar e ligar para imensos centros e explicadores. Nós pomos os melhores em contacto contigo. 
As mensagens subjacentes são “pérolas”:
- Passagem dada como adquirida (a passagem descarta o carácter a posteriori e assume o carácter a priori, ao contrário, portanto);
- Facilidade no estudo (parece-me que "estudar" não está, nunca esteve e se calhar nunca estará entre as coisas mais fáceis… afirmá-lo não será enganar os mais miúdos e os mais graúdos?) e na “compreensão” (não sabia que a “compreensão”, a compreensão, repito, como processo cognitivo, pode ser fácil!?);
- Rapidez (claro que não podemos deixar os miúdos à espera, já se sabe que eles querem ter tudo imediatamente!);
- E, o mais desconcertante, descanso (enquanto alguém trabalha para  os mais miúdos e os mais graúdos, eles não têm de fazer rigorosamente nada!).

Guardei o melhor para o fim: o anúncio de uma técnica de cábula, “A cábula perfeita”. Entre outras frases publicitárias inacreditáveis, estavam as que se seguem:
- E se te dissessem que existe um método de copiar nos exames que só depende de ti (…) acreditavas? E se te dissessem que existe um método que nunca mais precisavas de gastar tempo a decorar todas aquelas fórmulas, datas e nomes, acreditavas? 
Esta última lógica, esta lógica descarada, que anda por aí, não tenho dúvida alguma que é a que colhe!

Sendo ela a alma de um negócio, o raciocínio a fazer é simples: estamos perante produtos de mercado como outros quaisquer, existem porque têm clientes e devem ser muitos. Afinal, quem resiste à tentação: não te rales, diverte-te!

Imagem retirada da internet.

15 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

É a tal "lógica oposta"...
Que vinga. Extraordinariamente.
E não faltam depois todos aqueles que dizem aos professores como é que eles devem trabalhar. Porque eles é que sabem. De um saber esclarecido, sem dúvidas.
Agora os "professoreszecos" não estão à altura. Claro que não estão.
Definitivamente.
E o sentido da escola é o sentido que cada um lhe quer atribuir. E não pode haver uma escola à vontade de cada pai/mãe, que, em muitos casos, ignoram completamente o que seja educar um filho. Como vamos vendo...
Por isso faz sentido exigir a liberdade de ensino, esperando eu que não se comece a exigir também a liberdade de aceitar ou recusar a escola...
Sendo que, em pano de fundo, está sempre a perspetiva da barbárie, por exemplo sob a forma de escravatura, seja de ignorância ou outra.
Dificílimas, as coisas...
Até por haver milagreiros para tudo. Sempre disponíveis.

Carlos Pires disse...

Muitas pessoas estranharão se ouvirem dizer que há algo de errado nesses métodos.

regina disse...

Em poucas palavras...
Este facilitismo é assustador.
Regina Gouveia

Areia às Ondas disse...

Junte-se-lhe ainda os magistrais locais de promessas:
http://www.ajuda-trabalhos.com/
http://www.monografiaspt.com/
http://www.trabalhos-academicos.com/
Os ‘Serviços de apoio à realização de trabalhos para cadeiras, monografias e teses de mestrado’ são comuns na internet.
Apreciem-se os preços em http://portocity.olx.pt/trabalhos-academicos-em-portugal-fazemos-sua-monografias-por-100-euros-pague-com-carta-iid-64864531
E atente-se no comentário da ‘Maria’ que deixa o seguinte alerta: “sim. é verdade é uma fraude. Paguei e fiquei sem nada.” Coitada… porém, aplicar-se-á o ditado popular ladrão que rouba a ladrão…?
Há ainda quem garanta fazer os trabalhos e sem plágio… isto é que é qualidade!
Depois da acção promovida pelo ISCTE “O Plágio no Ensino Superior
Contextos, Estratégias e Ferramentas de Prevenção” desapareceram certas informações na internet, divulgadas naquela acção, como determinados locais que asseguravam sigilo absoluto. Provavelmente já nem precisarão de se auto-promover, pois o boca a boca funciona muito bem, não dá trabalho e é gratuito. Gratuito, como tudo o que se quer…

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;


Desculpe-me mas tenho que a tentar corrigir neste seu post, aqui, “Outros, adoptam a lógica oposta…”


Na verdade não há aqui nenhuma lógica oposta, - reconhecerá certamente isso com facilidade - nada disto têm características de lógica, é algo que facilmente se poderia prever; trata-se por isso, e apenas da constatação de um facto previsível, (como se bastantes outros não houvesse?!); e inexorável que é também este, - o do fracasso de uma educação suportada em exames... é por sinal tudo muito bem elucidativo.


Peço-lhe portanto que não veja aqui lógica oposta nenhuma aqueles que “pedem aos professores que façam adquirir essa atitude às crianças e aos jovens, que se empenhem em ensinar e que sigam a par-e-passo a aprendizagem de todos e de cada um.”


Peço-lhe que veja aqui uma lógica oposta sim, mas aqueles que querem contemplar os exames como elementos integrantes da formação do aluno, ou como elementos definidores do andamento da acção educativa do professor. Isto é que é.



Cordialmente,

Helena Damião disse...

Estimado Leitoe Joaquim Manuel Ildefonso Dias

Talvez a palavra "lógica" não seja a mais adequada. Usei-a, no sentido de "modo de pensar...", "modo de encarar...", no caso, a educação escolar.

Muito obrigada,
Maria Helena Damião

Cláudia S. Tomazi disse...

Creio que este seja o desafio. De raiz, ética.
Uma bolha forjada em conhecimento. Concluo de surreal. Transformando e desmerecendo;a qualidade em esforço. Temo do compromisso com a responsabilidade ao pensamento sã.

A prática(infla) da virtual leitura versus da composição (sem) limite. O aprendizado enquanto experiência (independente) favorece o despreparo.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;


Tenho assistido aqui no DRN a algumas ideias do Professor Desiderio Murcho e do Professor José Batista da Ascensão como sejam:


A ideia do “Pluralismo Educacional”;
A ideia dos “exames como elemento para a formação do aluno”;
A ideia dos “exames como elemento condutor da acção educativa do professor.


Coisas que, como se costuma dizer de tão absurdas que são “nem lembra ao menino Jesus”, que me desculpem os Senhores Professores, mas é o que é.


E porque há outros assuntos importantes com as quais importa perder tempo, um deles é esta ideia que retiro do Professor Sebastião e Silva, (entrevista ao jornal a Capital 4 de Dezembro de 1968) que cito;

“Este sistema do quem-dá-mais, aplicado aos professores universitários, poderá chocar a nossa sensibilidade de lusíadas. Mas a verdade é que explica, em parte, a extraordinária vitalidade de certas universidades americanas, o grande numero de prémios Nobel que tem sido atribuídos a professores dessas Universidades e ainda o fenonemo da fuga de cérebros, que atormenta hoje grandes países da Europa.
Eu creio que, de futuro, teremos de nos encaminhar para um tipo de recrutamento semelhante ao americano, adaptado às circunstancias e às possibilidades do nosso País.”


Gostaria se me permite, de deixar este assunto aqui para discussão;


Cordialmente,

José Batista da Ascenção disse...

Senhor Engenheiro Ildefonso Dias

Uma correção e um pedido:

A correção: nunca defendi os exames como elemento condutor da ação do professor, nem mesmo os destaco como elementos fundamentais da formação dos alunos; apenas não lhes nego as vantagens que, em minha opinião, os tornam imprescindíveis, se bem feitos, e em número não excessivo, e se realizados em finais de ciclo (não em todos os anos nem a todas as disciplinas). E sou obviamente contra qualquer ideia de "escola única".

O pedido: o meu último nome não é Ascensão, é Ascenção.

Muito obrigado.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor José Batista da Ascenção;


Em primeiro lugar peço-lhe desculpa pelo engano na forma de escrever o seu nome.


E peço-lhe ainda desculpa por outro erro que cometi – o de ter referido no meu comentário que as ideias eram suas, o que não é verdade, trata-se somente do pensamento do Professor Desidério Murcho; Assim é que é;


E porque o pensamento é do Professor Desidério Murcho, repito - (não é demais para corrigir um erro) transcrevo-o aqui como foi exposto:


“Penso também que é importante dissociar os exames, e o que eles visam, da entrada na universidade. E o pluralismo educativo permitiria também fazer isso. Uma associação de professores de biologia pode considerar importante fazer exames nacionais de biologia sem qualquer preocupação com a entrada na universidade, mas apenas para melhor formar os alunos — e para orientar os professores na direção da excelência educativa.”


E ao pensamento do Professor Desidério Murcho, chama-lhe o Professor José Batista da Ascenção, em imediata resposta no seu comentário, de ideias (transcrevo também o comentário):


“José Batista da Ascenção5 de Maio de 2012 14:50

Muito bem, caro Desidério. Excelentes, estas (suas) ideias.
Concordo inteiramente consigo.”


Quanto à incorreção que o Senhor Professor descreve, fico sem saber quem a cometeu na expressão das ideias ou de pensamento, se a assinala à minha pessoa, concedo-lhe a razão, e corrijo já em baixo, e da única forma que me é permitida, com o rigor das palavras de cada um;


1ª Correcção: substituir o meu texto “os exames como elemento condutor da ação do professor” pelo texto do Professor Desiderio Murcho [exames]"... e para orientar os professores na direcção da excelência educativa”;


2ª Correcção: substituir o meu texto “exames como elemento para a formação do aluno”” pelo texto do Professor Desiderio Murcho “ importante fazer exames nacionais de biologia sem qualquer preocupação com a entrada na universidade, mas apenas para melhor formar os alunos”


É como é.


Cordialmente,

José Batista da Ascenção disse...

Senhor Engenheiro Ildefonso Dias

O excerto do texto de Desidério Murcho (a que se refere) é este:

..."Penso também que é importante dissociar os exames, e o que eles visam, da entrada na universidade. E o pluralismo educativo permitiria também fazer isso. Uma associação de professores de biologia pode considerar importante fazer exames nacionais de biologia sem qualquer preocupação com a entrada na universidade, mas apenas para melhor formar os alunos — e para orientar os professores na direcção da excelência educativa."

Assim é que é.

Para melhor formar os alunos, sim, concordo.
E para orientar os professores, sim, também concordo.
E concordo inteiramente. Esperando que não seja crime. E exigindo a possibilidade e a liberdade de concordar.
Mas orientar-me é apenas orientar-me, usando todos os instrumentos que possam ajudar-me a desenvolver a melhor minha ação...

De resto, orientar não é propriamente conduzir. Mas isto é matéria que não me é grato discutir... Nem com que goste de perder tempo.

Também não vou discutir quem é que cometeu incorreção...

Mas não gosto, não gosto mesmo que me atribuam o que não disse.

Sou inteiramente responsável pelo que penso. Sou, faço questão de ser, inteiramente responsável pelo que digo. Mas não sou responsável pelos pensamentos ou palavras que me queiram atribuir.
Não sou.

Espero ter sido claro.

Só mais uma pequena coisa: como este diálogo (me) é penoso, não estou disponível para o continuar.

José Batista da Ascenção disse...

Atenção, reparo agora que o excerto que fui buscar ao texto de Desidério Murcho já estava citado pelo Engenheiro Ildefonso Dias. Foi da pressa e do cansaço. Mas daí não vem mal ao mundo, penso.
Já agora, vejo também que, onde escrevi "ajudar-me a desenvolver a melhor a minha ação" devia estar "ajudar-me a desenvolver melhor a minha ação". Apresento desculpas.
E pronto, era só isto.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;


A minha atitude em denunciar (os exames como meio de melhor formar alunos ou como meio para orientar os professores na direcção da excelência educativa) tem por único objetivo a defesa dos interesses das crianças, reforço, de todas as crianças, em relação a esse mal que é os exames; todo o meu pensamento se desenvolve sobre a forma como eu interpreto os escritos do Professor Sebastião e Silva. (eu que não sou professor, apenas tento perceber as coisas da mesma forma que o publico em geral quando aprecia uma obra de arte, pois a arte não serve só aos seus fazedores, a todos é permitida a apreciação e critica/discussão, melhor ou pior)


Assim:
Quando alguém defende, os exames como meio de formar alunos, eu não ignoro, e penso no que diz o Professor Sebastião e Silva; e não vejo como eles podem ser utilizados como meio de formar o aluno;

Cito:
“Todos nós sabemos que os exames são a parte ingrata (de certo modo negativa) do ensino; (…) É evidente que se trata de um mal necessário, mas, por isso mesmo que é um mal, conviria reduzi-lo ao mínimo necessário. Neste ponto, são de invejar os germanos, cuja psicologia lhes permite fazer um uso moderadissimo dos exames”


Quando alguém defende os exames como meio para orientar os professores na direcção da excelência educativa, eu não ignoro, e penso na forma de ensinar que tinha o Professor Sebastião e Silva; e concluo que todo o Professor deve ter a formação cientifica e pedagógica que lhe permita uma condução esclarecida e inequívoca do ensino, e não o contrário, que é esperar ser os resultados dos exames a ditar o resultado da actuação do Professor (consequência da pouca preparação cientifica e pedagógica, numa espécie de método por tentativas);

Cito:
“(…) Depois lá vou seguindo, a pouco e pouco, a inspirar-lhes alguma confiança quanto aos meus propósitos – e então aparece geralmente aquilo que eles se esforçavam por ocultar: as lacunas, muitas vezes graves, que só pelo dialogo podem ser detectadas e devidamente corrigidas.”


E penso sobretudo desta forma, que não são as crianças, que devem pagar pelas incapacidades dos adultos. Mas a verdade é que sempre pagaram e continuarão a pagar.


Professora Helena Damião; Tenho esta sempre esta exigência comigo, que é um direito, dele não abdico, que é de haver bons Professores, (ou o mesmo que, a existência de Professores com preparação pedagógica e cientifica).

Por isso lhe pergunto:

Que valor devemos atribuir aos Professores, e subtrair nos exames, (ou como outros querem, atribuir aos exames e subtrair nos Professores «também aqui chamo o pluralismo educativo») quando sabemos que existem nos alunos lacunas graves “que só pelo dialogo podem ser detectadas e devidamente corrigidas”?


Os meus pensamentos sempre foram aqui postos na defesa dos interesses de todas crianças;


Cordialmente,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;

Tornou-se evidente para mim, que existe a necessidade de escrever no DRN sobre o que significa a Escola Única. Transcrevo a definição que mostra a concepção da Escola Única, tal como a li na Conferencia do Professor Bento de Jesus Caraça – Escola Única;

“O que é a Escola Única?

Adotaremos, para a caracterizar, a definição do pedagogo alemão Erich Witte - «É um sistema, estabelecido sobre uma instituição básica comum, reunindo todas as crianças, e organizado de forma tal que, qualquer que seja o sexo, a posição económica e social dos pais, assim como a religião que professam, proporcione a cada um dos educandos a instrução que corresponde às suas aptidões, capacidade e profissão futura».

A animar este sistema escolar encontra-se, por consequência, o princípio de igualdade de todos perante a Escola, principio que Kerschensteiner, um dos grandes obreiros da Escola Única na Alemanha, formulara, já antes da guerra, do modo seguinte - «O primeiro dever do Estado é o de realizar, na medida do possível, o princípio do direito igual para todos. Toda a criança tem o direito de receber educação e a instrução que merecem as suas capacidades, e nenhuma deve ser prejudicada nesse direito primordial».


(…) A concepção que orienta a Escola Única é, como resulta da definição que acabamos de dar, a da abolição de privilégios perante a cultura – privilégios de sexo, privilégios de dinheiro, privilégios de crenças. A natureza humana é una e todo o ser humano é, por consequência, portador dos mesmos direitos; a todos deve, portanto, ser proporcionada a completa aquisição dos conhecimentos que lhe permitam viver dignamente a vida, conforme as suas capacidades – uma só condição, uma só dignidade, uma só escola.”

Helena Damião disse...

Estimado Leitor Joaquim Manuel Ildefonso Dias
Agradeço a sua atenção nas perguntas que formula. Nenhum delas é fácil de responder, requerendo ponderação. Ao contrário do que possa parecer, quem trabalha na área da pedagogia, como é o meu caso, terá de pensar bem antes de emitir uma opinião, tantos são os aspectos que elas convocam. Prometo, porém, responder proximamente a cada uma delas o melhor que posso e sei.
Cordialmente
Helena Damião

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