A PRIMEIRA ONDA iniciou-se há uns 30
anos, sendo o resultado nas alterações internas de poder dentro do Partido
Comunista Chinês. A missão dos comunistas pós-Mao era transformar uma
China essencialmente agrícola e de subsistência numa potência industrial
mundial. Preservando o sistema de governo, o plano deveria obter para a China
algo que não tinham, a tecnologia, em troca de algo que tinham em grande
abundância, a mão-de-obra.
Foi quando começou por lá um
insipiente processo de industrialização, com a manufatura de cópias de produtos
simples e a venda destas cópias ruins a preços baixos ao redor do mundo. Aqui,
no Brasil, estas quinquilharias chinesas aportaram basicamente por contrabando,
via Foz do Iguaçu, nas décadas de 80 e 90 e eram uma febre entre os
camelôs. Produto chinês era então sinônimo de “porcaria”. Isto, porém, era
só um treinamento para o que viria depois. A primeira onda era um plano
piloto de preparação para as demais ondas.
Na SEGUNDA ONDA, já dominando os
rudimentos de uma estrutura industrial, os chineses então abriram o seu
território para receber indústrias que quisessem se beneficiar de sua
mão-de-obra semi-escrava e muito barata. A única exigência feita foi a entrega
obrigatória ao governo chinês da tecnologia (know-how) que fosse empregada nas
indústrias que quisessem se instalar em solo chinês. Ninguém se importou com
isso e a tecnologia foi toda entregue. Não era crível que os chineses
fossem saber fazer algum uso daquele conhecimento. O que importava aos
industriais ocidentais, enfim, era calcular os lucros que iriam receber sugando
a energia da mão de obra barata dos trabalhadores chineses, ainda mais num país
em que não há, praticamente, legislação laboral com maiores restrições ao
limitações ao empregador.
A TERCEIRA ONDA é a que está em
andamento hoje. Envolve a criação de indústrias totalmente chinesas, que
manufaturam os mesmos produtos das empresas estrangeiras que se instalaram na
China. Neste estágio, os produtos feitos 100% por chineses passam a
concorrer diretamente com seus similares nos locais de mercado mundial destes
produtos. Como o processo de absorção de tecnologia é gradual, os chineses
começaram a vencer os concorrentes através de preço baixos e da qualidade, cada
vez maior, dos produtos. É aqui que os pólos industriais dos países
estrangeiros começam a entrar em declínio, pois não conseguem concorrer com os
produtos chineses.
Aqui no Brasil, são exemplos típicos
a destruição e desmonte dos pólos calçadistas do RS e de SP, assim como os pólos
cerâmico e têxtil de SC.
Os industriais estrangeiros com
fábricas na China, após lucrarem bastante, ainda possuem um trunfo: a
propriedade das marcas mundiais. Eles não mais se ocupam com o processo
produtivo, em si: os chineses fazem tudo e colocam as marcas deles nos
produtos que são distribuídos ao redor do mundo. Melhor exemplo de produto
com estas características: os tênis da marca Nike.
Na QUARTA ONDA, que já se inicia, a
China começa a dar o “golpe de misericórdia” nos mercados, para desequilibrar e
tornar-se dona de todos os parques produtivos mundiais.
Neste estágio, é quando passam a ser
criadas as marcas chinesas, as quais são lançadas nos mercados, associadas a
produtos agora mais complexos e sofisticados, de alta qualidade e a
preços em média 30% mais baixos do que os similares da concorrência.
Exemplo recente no Brasil: automóveis chineses da JAC Motors.
Este percentual a menor nos preços é
meticulosamente calculado, pois esta é a margem média de ganhos dos ocidentais
na cadeia de todo o processo industrial até a colocação do produto na
loja. Os pólos industriais concorrentes passam então a vivenciar o
dilema de escolher entre produzir seus produtos sem lucratividade ou fecharem as
portas. Evidente, eles têm fechado as portas, pois o sistema
capitalista, como o nome já diz, vive do lucro.
A partir do implante desta
política em cada segmento, são necessários entre 10 e 15 anos para que a China
se torne detentora de 100% de cada pólo industrial, em cada tipo de
produto. Exemplo disso, no Brasil, é que há determinados produtos
hoje em que todas as marcas disponíveis no mercado são chinesas. É a China
concorrendo com a própria China, um verdadeiro atentado à lógica ocidental sobre
os mercados, quando se sabe que todas as fábricas chinesas possuem um mesmo
dono, o Partido Comunista Chinês.
A QUINTA ONDA será aquela em que a
China se tornará o único país a produzir os bens de consumo que abastecerão
todos os mercados globais. Produtos que terão o selo de marcas chinesas e este
selo se afirmará como uma garantia de qualidade e de procedência confiável.
Nesta última onda, o valor das benchmarks globais hoje tão consagradas
despencará e o processo de dominação chinesa estará quase completo.
No último ato destas 5 ondas, o
governo da China passará a utilizar-se de um novo discurso
sócio-econômico. Dirá ao mundo que, durante décadas, os países ocidentais
capitalistas e suas populações se aproveitaram e exploraram o povo trabalhador
chinês. E que ninguém se importou com o sofrimento dos trabalhadores chineses,
com as jornadas de trabalho longas e sem descanso, com os baixos salários e com
o fato de adolescentes, quando não crianças, serem obrigados a trabalhar duro em
fábricas não raro insalubres e inseguras. E que tudo isso ocorreu, sob os olhos
de todos, porque os ocidentais só quiseram obter altos lucros e as
populações de seus países só se preocuparam em adquirir bens de
consumo a preços baratos, para o seu proveito e conforto próprios.
E que, assim sendo, terá chegado
então o momento histórico do mundo ocidental passar a trabalhar, a seu turno,
para os lucros das indústrias chineses e para o conforto e bem-estar do povo
chinês. Que é chegado o momento da população chinesa ser dispensada de
sofrer e de submeter-se a condições degradantes de trabalho.
Esta será a senha. Detendo o
controle de todos os parques produtivos mundiais sobre todos os bens de consumo
do planeta, sendo detentores das marcas e de todo o processo de distribuição
destes produtos, os chineses não terão concorrentes. Desta forma, estarão livres
para elevar os preços de todos os produtos de consumo o quanto quiserem.
Isto irá gerar, num primeiro momento, uma enorme transferência da riqueza
econômica para a China, ao mesmo tempo em que empobrecerá, dramaticamente, as
economias mundiais de todo o mundo ocidental capitalista. Nos países ocidentais,
a recessão e o desemprego atingirão níveis sem precedentes, em escala três vezes
superior aos níveis que se abatem hoje nos EUA e na Europa.
Este cenário será perfeito para
a instalação de fábricas chinesas em todo o mundo capitalista.
A mão-de-obra ocidental será necessariamente barata e as condições de trabalho
oferecidas serão muito precárias, em muitos casos idênticas aos padrões
sub-humanos que ainda hoje são impostos aos trabalhadores chineses.
Evidentemente, além dos salários baixos, serão ainda implantados padrões típicos
de produção do sistema comunista de trabalho nas fábricas chinesas montadas em
territórios ocidentais. Patrimônios imobiliários em larga escala serão
adquiridos pelo governo da China, já que seus cidadãos não terão permissão para
adquirir propriedades individualmente, enquanto cidadãos chineses.
Em países ocidentais onde a
legislação laboral não for atenuada para adaptar-se à nova realidade as fábricas
chinesas não se instalarão. Nestes países, o quadro recessivo e de
dificuldades econômicas será ainda bem mais dramático, beirando aos caos.
Com estas 5 ondas, o maior país
comunista do planeta, a China se tornará também o país mais rico (talvez, o
único país rico) e alcançará a dominação política e econômica mundial. A
moeda planetária passará a ser o iene e o idioma padrão no mundo será
o mandarim.
Quando esta época chegar, não
passarão de lamentos hipócritas as críticas direcionadas à China pelos
economistas e analistas econômicos ocidentais, já então desempregados, os mesmos
neoliberais papas-de-mercado de hoje, que não se cansam de supervalorizar
o lucro como bem supremo, em nome do qual tudo se
justifica. E todos nós, ocidentais, assim como nossos filhos e netos,
trabalharemos para sustentar o life style do povo chinês e ratificar o
poder do Partido Comunista Chinês.
Os dirigentes chineses, é claro, não
perderão a oportunidade de se vangloriar. Afirmarão, com convicção, sem
ninguém que os possa contrariar, que o comunismo, ao final das contas,
mostrou-se o mais efetivo e mais inteligente regime político já criado pelo
homem. Dirão que a liberdade, tão apregoada como valor máximo pelas
civilizações ocidentais capitalistas, nunca passou de uma ilusão, de uma
ferramenta de dominação utilizada pelos mais fortes e egoístas, na exploração,
sem piedade, dos mais fracos, mesmo os seus compatriotas. Dirão que o
sistema capitalista ocidental é desumano e iníquo ao concentrar a riqueza nas
mãos de poucos.
Caso chegarmos a este dia (o que
espero que nunca ocorra), o pior de tudo será nos darmos conta, nos cinco
minutos de intervalo durante as jornadas de trabalho de 14 horas diárias que
enfrentaremos nas fábricas chinesas, que o Partido Comunista Chinês terá toda a
razão.
Texto: Rogério Guimarães Oliveira, advogado militante em Porto
Alegre/RS
4 comentários:
Não foi pensado o seguinte: quando a mão de obra chinesa começar a consumir, o que já esta começando, o mundo não terá materia prima e produtos para abastecer a China.
Caro Rerum
Estou surpreendido com o relaxo dos critérios de rigôr na publicação deste "post".
Além de erros monetários evidentes, já que o Iene é a moeda do Japão, quando se queria referir o Yuan. Ou da ignorância sobre a língua mais falada na china que é o Cantonês.
A arrumação da história recente da china em ondas está errada, no que toca à sua cronologia bem como no que se refere ao prognóstico.
Quanto ao prognóstico apocalíptico para o capitalismo ocidental, revela (tal como a maioria dos actuais líderes europeus) um desconhecimento profundo da História e da aritmética económica básica.
Só há capitalismo com lucros, se houver mercados e estes só existem (como elemento económico) se houver poder de compra. Ora com salários miseráveis, não há mercados.
O autor apresenta um argumento circular para justificar a escravização dos mercados ocidentais, que sendo escravos não constituem qualquer mercado e deixam de poder fornecer qualquer rentabilidade para os investimentos.
Aliás, é exactamente pela manutenção artificial de condições de trabalho esclavagista que a China tem de vender para os mercados externos (com poder de compra) e não vende para o seu mercado interno (inexistente) porque os 1.000 milhões de camponeses não consomem nada do que a china industrial produz.
A ideia é plenamente plausível, porém, o consumo do mundo não poderá ser atendido pela China, uma vez que a exemplo da Inglaterra, que dominou o mundo em uma determinada época, o mesmo ocorreu com os Estados Unidos e, vai ocorrer com a China.
O mundo vive de ciclos e estamos vendo que mais um está se iniciando, sempre haverá dominadores e dominados, o importante, é que nós ainda não estamos nem no caminho de nos tornarmos a potencia que podemos ser, ainda estamos pensando que realizar uma copa do mundo onde alguns tentam se locupletar-se, com o evento.
Talvez se todo este gasto fosse investido em nossas Universidades,o retorno seria maior.
Como as ondas do mar, as ondas econômicas também não são previsíveis, estando sujeitas a fatos novos, como os recentes da Europa, que com certeza deverão mexer nos planos chineses. Ainda temos as guerras religiosas, em pleno andamento, que também deverão interferir no nosso ambiente econômico. Qualquer previsão de 5 anos, é chute.
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