quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
O ÁLBUM GENÉTICO
Crónica publicada no "O Despertar":
Avô e neto passeiam os olhos pelo álbum genético da família. É um álbum em que não há rostos de pessoas mas histórias de genes e da sua relação com a história de vida de cada um.
Registos coloridos de interacções fluorescentes desdobram-se em anotações com informações sobre determinados genes que marcaram determinado momento da vida. Desde os que estiveram mais activos durante as diferentes etapas do desenvolvimento embrionário de cada membro da família até aqueles que determinaram momentos cativos em que uma doença trespassou o silêncio celular e explodiu em dor.
Comparando os perfis genéticos com fotos, é engraçado comparar as parecenças fisionómicas com as semelhanças de actividade de certos genes em determinadas alturas da vida da avó e da mãe.
Cada registo está ainda emoldurado com uma outra história: a da interface modeladora do percurso bioquímico de cada um com o meio ambiente, numa espécie de moldura epigenética. “Foi aqui que o pai começou a fumar. Nota-se pelo aumento da actividade destes genes que transcritos activam defesas antioxidantes”. “Foi aqui que comecei a ter mais pelos no corpo, nota-se pelo aumento da actividade dos genes que codificam as proteínas que sintetizam as hormonas masculinas como a testosterona.”
É um álbum repleto de esperança. Foi através da sua análise e interpretação que o médico do tio percebeu o seu genótipo bioquímico e ajustou a terapêutica adequada à sua incipiente propensão para o síndrome metabólico que o levaria a uma diabetes tipo 2 galopante, se não fosse tratado precocemente.
É um álbum hoje de ficção científica, de impressões mágicas, como eram mágicos os primeiros daguerreótipos, depois as primeiras fotografias (e ainda não o são?), depois as radiografias, depois as ressonâncias magnéticas...
Mas é uma janela aberta para um futuro muito próximo, quiçá já neste primeiro quartel do século XXI, propulsionado pelo desenvolvimento de tecnologias de sequenciação genómica e de metodologias bioanalíticas cada vez mais sensíveis, robustas e económicas.
Estamos à porta de uma revolução que nos trará imagens dos nossos genes em acção.
António Piedade
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3 comentários:
faltam as quimeras genéticas
há um António Piedade fora da Antropologia
neste caso a genética dá jeito
MULHERES DO MEU CLÃ
Ao Dr. António Piedade
Agora sei, Doutor, por que razão
na minha numerosa descendência
existe um predomínio de excelência
do lado feminino, em profusão.
É que minha mulher tinha feições
de incomparável formosura, além
de, quanto ao resto, não haver ninguém
que a superasse por quaisquer razões.
Agora sei, preto no branco, ao certo,
depois de ler o seu soberbo artigo,
por que motivo isto se deu comigo.
Foram seus genes que, de longe ou perto,
marcaram, com carácter genuíno,
o meu tão belo ramo... feminino!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Lindo!
Descobrem-nos a alma. Alguém ficará surpreendido ao descobrir quem foi na realidade o verdadeiro amor da sua vida?
Adorei o predomínio de excelência das mulheres do clã de "anónimo"
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