sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Congresso Luso-Brasileiro de História da Ciência


Entrevista que dei à jornalista Barbara Lacor sobre o Congresso Luso-Brasileiro de História da Ciência, que se vai realizar em Coimbra em Outubro próximo:

P - Que importância teve a criação da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (UC), em 1911?

R- Em 1911, um ano após a implantação da República, houve uma refundação republicana da UC. As Faculdades de Matemática e de Filosofia, criadas com a Reforma Pombalina em 1772, foram fundidas para formar a Faculdade de Ciências, que, embora hoje tenha o nome de Ciências e Tecnologia, vai portanto agora fazer cem anos. Na mesma altura são fundadas as Universidades de Lisboa e Porto, com Faculdade de Ciências novas, que ficaram herdeiras das anteriores escolas politécnicas que existiam nas duas principais cidades do país. O ideal republicano, que tem uma ligação forte às ciências do século XIX, mostrou, com a criação de três Faculdades de Ciências, a sua esperança nas ciências para ajudar a formar um país novo. Essa foi uma das maiores contribuições da República para a nossa modernidade, apesar de todas as vicissitudes e contradições da 1ª República.

P - Quais são os momentos mais marcantes da História da Ciência na UC? Porquê?

R - Não se pode falar de ciência em Portugal sem falar de ciência na UC. Na época dos Descobrimentos, quando o rei D. João III coloca definitivamente a Universidade em Coimbra, um dos maiores cientistas portugueses, o astrónomo e matemático Pedro Nunes, vem para Coimbra ensinar. Pouco depois estudou em Coimbra o maior astrónomo mundial entre Copérnico e Galileu, o jesuíta alemão Christophorus Clavius, que foi o principal responsável em Roma pela reforma que levou à adopção do calendário gregoriano. No século XVIII é um estudante de Coimbra, o brasileiro Bartolomeu de Gusmão, que efectua a primeira ascensão mundial em balão, embora não tripulado. No mesmo século, o marquês de Pombal executa um verdadeiro "terramoto" intelectual, ao promover em Coimbra o ensino experimental das ciências. Manda construir o Laboratório Chimico e e reúne colecções nos gabinetes de Física Experimental e de História Natural, hoje no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, além de criar um Observatório Astronómico e um Jardim Botânico. Além dos mestres estrangeiros que contratou, chamou grandes cientistas nacionais como, na matemática, Monteiro da Rocha e Anastácio da Cunha. No século XIX, grandes cientistas de Coimbra foram o botânico Avelar Brotero e o metalurgista brasileiro Andrada e Silva. Outro grande cientista português do século XIX, o matemático Gomes Teixeira, ensinou no Porto depois de ter estudado em Coimbra. No início do século XX, o Prémio Nobel da Medicina Egas Moniz começa por estudar e trabalhar em Coimbra antes de se transferir para a nova Universidade de Lisboa. E este é só um brevíssimo resumo, claro.

P - Que interesse tem este congresso para o público em geral?

R - O congresso dirige-se em primeiro lugar a especialistas portugueses, brasileiros e outros estrangeiros interessados na história da ciência, com particular foco na ciência realizada na Universidade de Coimbra e nas relações científicas luso-brasileiras. Mas está aberto a todos os interessados, em particular às pessoas curiosas pela história da ciência que se desejem inscrever. O interesse para o público será sempre a melhor compreensão que resultar sobre o nosso passado científico. Só conhecendo melhor quem fomos, poderemos saber quem somos e, acima de tudo, quem queremos ser.

P - O Congresso contará, para além dos trabalhos apresentados pelos investigadores, com as intervenções de especialistas convidados? Já está confirmada a presença de algum orador?

R - Sim, é um congresso aberto à participação, com submissão de trabalhos on-line, de quem trabalhar na área e tem também apresentações de convidados. Estes incluem cientistas portugueses, como o historiador de ciência Henrique Leitão, que falará sobre Pedro Nunes, o historiador Fernando Catroga, que falará sobre as ligações à ciência da ideologia republicana, e o médico João Lobo Antunes, que falará sobre Egas Moniz. E cientistas brasileiros como os historiadores de ciência Jaime Benchimol que falará sobre a medicina nos trópicos no século XIX, e Augusto Passos Videira, que falará sobre a teoria das cores no século XVIII. E ainda cientistas europeus como o italiano Ugo Baldini, que falará sobre Clavius, a francesa Bernadeth Bensaúde Vincent, que falará, neste Ano Internacional da Química, sobre a recente e gradual transformação da química em nanotecnologia, e ainda o belga Robert Halleux, que falará sobre a escola dos jesuítas na UC que antecedeu a Reforma Pombalina.

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