Quando li a informação que abaixo exponho, pura e simplesmente não acreditei no que estava a ler, pensei estar a deturpar as palavras, as frases, quem sabe até a entrar numa qualquer “dimensão paralela” da realidade. O leitor fará o seu próprio juízo…
Receberam ou estão a receber as escolas/agrupamentos de escolas portuguesas, públicas e privadas, uma mensagem electrónica do Instituto Nacional de Estatística. Nessa mensagem, dirigida ao Director, esclarece-se que se vai realizar, em Março e Abril próximos, uns "Censos" que se querem bem sucedidos.
Começo aqui a estranhar… Porque é que este Instituto manda uma mensagem às escolas com tal declaração?
Passo ao parágrafo seguinte e leio, incrédula, que se solicita a “colaboração empenhada dos professores e alunos, dos vários níveis de ensino”. A colaboração destes sujeitos para quê? Uns estão na escola para ensinar, os outros para aprender o que consta do currículo e dos programas e, nestes documentos, que me lembre, nunca vi os tais Censos referidos.
No terceiro parágrafo, do estado de incredulidade passei ao de estarrecimento, quando li e voltei a ler tantas as vezes quantas foram necessárias para perceber que não tinha entrado num processo alucinatório, que aos professores se pedia (ou melhor, se determinava) que “ministrassem uma aula sobre a temática dos Censos”.
Mais: este Instituto com a Equipa de uma tal ALEA – Acção Local de Estatística Aplicada –, que não interessa para o caso o que seja, “concebeu três tipos de aulas” onde os professores devem explicar "o que são, para que servem e como se fazem os Censos 2011"… Não fosse isto o bastante para qualquer pessoa dar um grito de revolta, acrescenta-se que, “foram previstas pequenas tarefas” que os alunos devem realizar no final de cada aula, para “os ajudar a compreender e a consolidar melhor algumas das matérias tratadas”.
Devia ter voltado a mim e ficado descansada quando li que “o Ministério da Educação foi previamente consultado sobre este processo, tendo-lhe dado o seu total apoio por Despacho de Sua Excelência o Secretário de Estado da Educação”, mas foi precisamente nesse momento que tive a estranha impressão da gravidade do que os professores têm de fazer.
(continua)
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6 comentários:
Sou professor e tenho um programa para cumprir que não tem nada a ver com Censos. Se os ditos senhores me entrarem pela sala adentro com o que refere no texto, corro-os, não a pontapé porque não têm culpa, mas com a proibição de porem lá os pés.
Sou professor, não as outras quinhentas coisas que querem que seja este governo.
Helena
mal está a escola que se esgota nos "programas", mal está a escola que vive numa redoma alheada do que se passa cá fora. Mal estão os professores que não se podem ocupar a não ser dos programas. Como mãe fico contente quando a escola promove a inserção dos meus filhos na sociedade e não lhes ensina apenas matemática ou história. Pois parece-me esta iniciativa do INE (independentemente de como foi transmitida às escolas) como um excelente exercício de cidadania de que todos podemos vir a benificiar. Talvez um dia a abstenção nas eleições baixe dos 50%.
Isabel Prata
Ó céus!, pois não se está a ver que a escola deve servir para tudo?
Até mesmo para ensinar.
E esta coisa dos censos deve ser tratada com senso. Daí levarem-na para as escolas.
Não querem também levar para lá os cadernos eleitorais? Assim, os professores iam dando baixa dos mortos que por ali figuram a aumentar estatisticamente a abstenção.
Vá lá, tudo o que não consigam resolver, levem para a escola. Não se acanhem.
Cara Professora Helena Damião
Lamento que se recuse a ver a escola em geral e os professores em particular como parte activa e abertamente envolvida na vida contemporânea do país.
Mais lamento a sua opinião negativa, pejorativa e desmoralizante quanto a uma solicitação de colaboração feita por um organismo público no âmbito de uma actividade com um grande envolvimento de cidadania.
Por ultimo espero que consiga eventualmente entender a oportunidade e importância da intervenção de uma elite intelectual (os Professores)numa área de evidente valor científico e humanitário e abandonar uma visão redutora do ensino (do papel da escola, dos alunos, dos professores, dos pais e da comunidade) que me parece subjacente à sua opinião.
Imaginem um professor que tem um programa, todo com temas importantes, que precisa de 120 aulas para o poder dar correctamente (e que é avaliado pelo cumprimento do programa...).
Depois conte-se as aulas que efectivamente tem para a sua disciplina por ano - e são menos de 100.
Em seguida acrescente-se que tem de aflorar temas com educação sexual e para a saúde e muitas outras coisas, tem de ceder aulas para o desporto escolar, para as festas de fim de período, visitas de estudo, concursos e olimpíadas, para o diabo a quatro e assim sucessivamente.
Conclusão: m... para os censos, para quem fez os actuais programas e para os parvos que aqui vêem dizer o que não sabem ou que lhes pagam para dizer, defendendo o indefensável.
Não transformem os docentes em administrativos
Venho reforçar as palavras do único representante do professorado que aqui apareceu e que relatou com todo o rigor o cataclismo que desabou sobre a escola pública, onde tudo tem prioridade sobre a aquisição de conhecimentos no domínio das varias disciplinas.
As aulas devem ser ocupadas a tratar dos conteúdos programáticos.
Outros assuntos importantes na vida dos alunos e das famílias devem ser tratados fora das aulas pelos dois directores-adjuntos, director de biblioteca, coordenadores de escolas do 1º ciclo, coordenadores de ano nas escolas do 1º ciclo, coordenadores dos directores de turma do 2º ciclo, coordenadores dos directores de turma do 3º ciclo, directores de turma (um por cada turma), directores de projectos, assessores técnico-pedagógicos, ... , nas reduções de horário para exercerem as suas funções.
Nesta lista não inseri os 6 coordenadores de departamentos porque parto do princípio que se orientam por um referencial de ética e põem o dever de ensinar à frente de qualquer ideologia política.
Se gostam dos vossos filhos, não transformem os (poucos) docentes que sabem e querem ENSINAR em funcionários administrativos.
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