quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MAPAS ANTIGOS ENRIQUECEM BIBLIOTECA


Meu artigo saído hoje no semanário "C" (na imagem o mapa de Portugal publicado por Ortelius):

A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, que já era uma das mais ricas bibliotecas nacionais, acaba de ficar ainda mais rica, com a aquisição da maior e melhor colecção de mapas antigos portugueses, que estava de posse do Doutor Carlos Alberto Nabais Conde, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia apaixonado pela cartografia antiga.

Entre os espécimes cartográficos, bem mais de mil, que passam a pertencer aos fundos da Universidade, destaca-se o mapa mais antigo de Portugal Continental. Foi seu autor Fernando Álvares Seco, um geógrafo envolto em mistério. O original manuscrito, hoje desaparecido, foi um presente de uma embaixada portuguesa a um cardeal italiano que na Santa Sé protegia o reino português, no início do reinado de D. Sebastião. O editor italiano Michele Tramezzino, de Veneza, imprimiu-o numa gravura à escala de 1: 1.340.000, que saiu, com privilégio papal, em 1561. Há, em todo o mundo, muito poucas cópias em bom estado deste mapa, como a que agora ficou de posse da Biblioteca Geral (a Biblioteca Nacional adquiriu há pouco tempo uma que se encontra truncada). O que mais salta à vista a quem observa esse mapa é a disposição do país na horizontal, com a costa ocidental virada para cima. Como essa costa se assemelha a uma cabeça, tal representação poderá ter inspirado Luís de Camões, quando ele escreveu nos Lusíadas: Eis aqui, quase cume da cabeça/ De Europa toda, o reino lusitano. Lembra-se que Os Lusíadas, com primeira edição de 1572, é dedicado a D. Sebastião, sendo quase contemporâneo do mapa de Álvares Seco (a Biblioteca Geral possui um exemplar dessa preciosa edição). Um ano antes da impressão dos Lusíadas em Lisboa era publicada em Antuérpia, um atlas, da autoria de Abraham Ortelius, com uma outra versão do mais antigo mapa português, que assim conseguiu ampla circulação nos meios cultos da Europa (também o atlas de Ortelius se encontra na Biblioteca Geral).

Mas o primeiro mapa nacional é apenas uma das peças de uma vasta colecção reunida ao longo dos anos por um coleccionador que não se poupou a esforços para conseguir um património cartográfico único. Além de muitos outros mapas do actual território português, encontram-se diversas cartas de territórios coloniais, que mostram como foi aumentando o conhecimento das novas terras num império muito vasto. Alguns desses mapas estarão em breve patentes numa exposição na Biblioteca Joanina, nos espaços de um circuito turístico recentemente ampliado. Nessa verdadeira arca de tesouros que é a Joanina mostrar-se-ão os novos tesouros entrados na Universidade. Ao mesmo tempo, procurar-se-á realizar um trabalho de digitalização dos mapas, para ampliar o sítio da Alma Mater e tornar a Biblioteca Geral acessível em todo o lado. Qualquer pessoa, em qualquer lugar, poderá então desfrutar da beleza dos mapas antigos: apesar de estes não serem tão fiéis ao terrreno como o Google maps são incomparavelmente mais belos...

1 comentário:

Anónimo disse...

O Prof. Sebastião Pinho do CIEC, num dos encontros internacionais de Lusitanistas provou que o famoso verso de Luís de Camõesn'Os Lusíadas - Eis aqui, quase cume da cabeça/ De Europa toda, o reino lusitano - teve antes a influência de um mapa de Sebastião Münster, muito difundido posteriormente, com a Europa representada com a forma de uma mulher em que a Península Ibérica era a cabeça e Portugal a Coroa.

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