domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Fui-me às palavras, roubei-as e, com elas, fiz cantigas"

Manuel Freire ficará sempre ligado a António Gedeão. Vai para meio século que a bela música de um (nos) tem dado a ouvir as belas palavras de outro. Mantendo-se as palavras do poeta, a música do trovador reinventa-se e surpreende. Talvez porque tais palavras apelam a múltiplas formas de as cantar.

Em 1996, no Jornal de Letras (Educação, página 20) Manuel Freire explicava como tinha "tropeçado" nas palavras de um tal senhor de nome António Gedeão...

"Um dia ao praticar um dos meus desportos favoritos, a leitura, tropecei num livro de poesia de um senhor chamado António Gedeão. descobri depois que este senhor, por mistério jeckillydiano, era também o autor de um compêndio liceal, pelo que era suposto eu estudar (pouco)...

Mas, mais do que tropeçar no livro, aconteceu-me esbarrar frontalmente com alguns conjuntos de palavras que lá vinham, choque esse acompanhado de comichão nos dedos, vibrações nas cordas vocais, tremores e palpitações (estes e estas internos).

Abreviando; fui-me às palavras, roubei-as e, com elas, fiz cantigas.

Depois houve discos, um programa de televisão muito importante chamado Zip-Zip e passaram trinta anos. Trinta anos durante os quais aquelas palavras e outras que o mesmo senhor escreveu foram correndo mundo, tocando ouvidos, aquecendo muitos corações, saindo de muitas bocas, entrando até talvez em alguns cérebros!...

Ao longo desses trinta anos, de terra em terra, fui companheiro de viagem dessas palavras, cantando-as, dizendo às pessoas que as havia escrito por mim e, até, imagine-se!, ganhado algum dinheiro com isso!...

A essas palavras devo amigos e tantas outras coisas, que, por nunca as poder pagar e por prudência ou pudor de caloteiro, não referirei. A essas palavras e a quem as juntou, a quem lhe deu música que eu não inventei, mas só descobri.

Num mundo cada vez mais feio, porco e mau, as pessoas especiais como António Gedeão são as que nos fazem acreditar que esse mundo pode ser, que o podemos fazer, que temos de o fazer, um pouco mais lindo, mais limpo, melhor são os imprescindíveis!

O António Gedeão não merecia este texto; mas que fazer? Eu sou bom é com as palavras dele e estas são as minhas."

Mais do que escrever palavras em forma de poema, mais do que dar-lhes som em forma de música, Gedeão e Freire envolvem, chamam alunos para as ler e as cantar, como aconteceu ainda recentemente na Escola EB 2/3 de Ansião (ver aqui).

3 comentários:

joão boaventura disse...

Porque se fala de amigos e de amizade, e a esse propósito, parece oportuno ouvir a música que partilhou a realização dos Jogos Olímpicos de Barcelona, para nos alegrarmos com as coisas sérias da humanidade:

Amigos para siempre.

Anónimo disse...

era também o autor de um compêndio liceal, pelo que era suposto eu estudar (pouco)...

Por favor não faça cantigas com o "era suposto", a menos que queira falar inglishnol. Nunca encontrei tal barbaridade escrita pelo Gedeão.

Peço desculpa, mas estou velho para aturar cantigas destas.

joão boaventura disse...

Neste apelo humanista vem a propósito relembrar a não muito velha cantiga de José Afonso Traz outro amigo também, para revivermos e reouvirmos os versos de António Gedeão, na voz de Manuel Freire, a sempre agradável Pedra filosofal.

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