quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Química das coisas banais: lápis e borracha

Os romanos escreviam com estiletes de chumbo em papiro e não podiam apagar ou corrigir. Esse meio de escrita foi usado até ao século XVI, altura em que foi descoberta na Grã-Bretanha uma grande jazida de grafite quase pura que possibilitou o fabrico de lápis a partir deste material. Tornou-se assim possível apagar, mas só após a descoberta da vulcanização da borracha se atingiu a qualidade de hoje.

A grafite é uma forma alotrópica do carbono como o diamante ou os fulerenos. No processo actualmente usado para produzir lápis, grafite e argila são pulverizadas e misturadas em água. E é a proporção relativa de argila e grafite que determina a dureza do lápis: mais argila, mais duro. A massa resultante é feita passar por orifícios redondos, levada a alta temperatura e finalmente mergulhada numa cera. A madeira dos lápis é de cedro que não lasca e tem cheiro e cor de nobreza ancestral. O aroma é devido ao cedrol e outros terpenos, mas saber isso não retira sabor às memórias de infância.

Para fazer os lápis, placas de madeira de cedro com sulcos semicirculares recebem os cilindros de grafite e argila. Estes conjuntos são colado a outras placas com sulcos e os lápis são finalmente separados (veja-se este poster da Viarco ou o site da Faber-Castell).

O lápis é económico, a ligação da grafite ao papel é muito estável e a escrita com lápis não é sensível à humidade, luz e agentes químicos. O seu único ponto fraco são as borrachas de apagar que, no entanto, têm um segredo. A borracha natural, mesmo após o processo de vulcanização, não se liga bem à grafite. Por isso as borrachas de apagar têm na sua composição óleos vegetais vulcanizados, também chamados factice, que ligam bem à grafite. No processo de apagamento são arrancados pedaços da borracha que vão levando esse material junto com a grafite, mantendo a borracha utilizável. Actualmente, existem borrachas de polímeros sintéticos, por exemplo policloreto de vinílo (PVC) e copolímero de estireno-butadieno, que são muito eficientes e menos abrasivas para o papel.

A Viarco Fábrica Portuguesa de Lápis, uma empresa portuguesa de que nos devemos orgulhar, faz 75 anos em 2011 (tal como a Sociedade Portuguesa de Química faz 100 anos) e está a preparar uma surpresa para quem gosta de química...

6 comentários:

Anirac disse...

goste muito da este artigo. O blog e muito interessante, tambem.
Prabens

Anónimo disse...

Acaso o lápis e a borracha de apagar podem ou devem ser ser culturalmente incluídos na categoria das "coisas banais"? Quantas obras-primas da literatura universal terão sido caldeadas ao correr do lápis deslizando em vulgaríssimas folhas de papel, riscadas umas vezes e safadas outras! JCN

Anónimo disse...

Gostei do artigo. São coisas banais em termos de complexidade, não quer dizer que não sejam importantes e não continuem a ter o seu lugar. Neste mundo cada vez mais digital é bom sentir texturas, cheiros, formas e até cores que não as de um monitor.

Anónimo disse...

Caro JCN,
Concordo completamente. O título quer na realidade dizer "coisas aparentemente banais"...

Sérgio

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Neste caso passamos, latex.

Eu sou a sua mãe disse...

goste muito da este artigo. O blog e muito interessante, tambem.
Prabens

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