A minha contribuição para o think thank Contraditório, acerca da tema:
Acho que a questão que está subjacente a este debate é qual é o futuro do jornalismo. É evidente que ninguém irá pagar por conteúdos que possa ter gratuitamente ou que não tenham um valor objectivo para si. E mesmo que a diferença exista, entre o pago e o gratuito, ela pode não ser suficiente.
Veja-se o caso da enciclopédia Britannica (em vários volumes em papel), que tinha sem duvida muito mais informação do que a Encarta da Microsoft (em CD-ROM), e que custava a mesma coisa do que um computador pessoal (que vinha já com a Encarta). A Britannica, como a conhecíamos, desapareceu, a Encarta também desapareceu e hoje temos a wikipedia.
Uma possibilidade - levantada há mais de dez anos quando as tecnologias de informação estavam mesmo na moda e todos achavam que iam ficar ricos com os banners publicitários na Internet (afinal ficou só o google) - é que os mediadores entre os produtores de conteúdos e o público passarão a ser plataformas tecnologias sistemáticas de agregação de conteúdos, passando cada consumidor a ser o seu próprio editor. Isto dita o fim da industria discográfica, das distribuidoras de filmes, dos jornais, etc. Os leitores poderiam escolher subscrever um determinado jornalista (que já não trabalha num jornal) pagando por isso algo que apenas paga o jornalista e uma comissão à plataforma agregadora (o Google News ou a Apple Store, por exemplo), que é quem passa a ter o poder.
Não sei se isto é bom, nem se é o que vai acontecer. Mas não posso deixar de pensar que o futuro das notícias não seja de editores e projectos editoriais, mas de programadores e plataformas tecnológicas. E que o consumidor irá continuar a pagar: seja com um valor monetário (apenas para os jornalistas e autores que escolher e não para um pacote editorial) ou seja com os seus dados pessoais e preferências de consumo.
O caso da wikileaks também merece reflexão. Por um lado ilustra bem como a programação pode esvaziar em grande medida o poder dos editores e jornalistas passando-o para os agregadores sistemáticos de conteúdos. Por outro lado, com desenvolvimentos recentes, a propria wilileaks a fazer acordos com jornais de vários países, a edição e análise jornalista sai revalorizada.
Penso que a transferência do modelo de negócio dos jornais em papel para o on-line é improvável. Surgirá outro modelo de negócio, que poderá ter diferenças significativas em relação ao que é o jornalismo actual. Penso que haverá sempre algo parecido com jornalistas locais em Portugal, que podemos subscrever talvez através do iTunes, agora já não tenho a certeza quanto a jornais portugueses.
1 comentário:
Pagar por traduções, muitas vezes péssimas, de outros jornais? Pagar para ler "opiniões" disfarçadas de notícias? etc. etc.
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