“Há uns tempos li nos jornais que um grupo de professores encontrou por acaso um inquérito que foi enviado nos anos trinta a um certo número de escolas de todo o país. Incluía um questionário sobre quais os problemas mais graves que aconteciam nas escolas. E encontraram também os formulários de respostas, que tinham sido preenchidos e devolvidos dos quatro cantos do país. E os problemas mais graves que os professores apontavam eram coisas como conversar nas aulas e correr pelos corredores. Mascar pastilha elástica. Copiar os trabalhos de casa. Coisas desse género. Então eles policopiaram uma data de exemplares e enviaram-nos para as mesmas escolas. Passados quarenta anos. Bom, algum tempo depois receberam as respostas. Violações, fogo posto, homicídio. Drogas. Suicídios. E eu ponho-me a pensar nisto. Porque muitas das vezes que eu digo que o mundo está a ir direitinho para o Inferno ou alguma coisa do género, as pessoas limitam-se a fazer-me um sorriso e dizem-me que eu estou a ficar velho. Que este é um dos sintomas. Mas cá no meu entender, se alguém não vê a diferença entre violar e assassinar pessoas e mascar pastilha elástica é porque tem um problema muito mais grave do que o meu. Quarenta anos também não é assim tanto tempo. Talvez os próximos quarenta anos façam acordar algumas pessoas da anestesia em que caíram. Se não for demasiado tarde.”
quarta-feira, 17 de março de 2010
"Se alguém não vê a diferença..."
No passado dia 14, um leitor do De Rerum Natura - Wegie - enviou-nos, em comentário, uma passagem do livro Este País não É para Velhos, de Cormac McCarthy. Aqui lhe damos destaque pelo facto de pôr em evidência manobras relativistas e subjectivistas a que muito se recorre quando se analisa a educação, desvalorizando os problemas, por mais graves que eles se afigurem, em vez de os encarar, estudar e procurar superar.
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1 comentário:
De alguma forma torna-se urgente legislar e regulamentar muito rigorosamente as condições da eutanásia. Ou talvez nem valha a pena...
Do jeito que as coisas levam corre-se o risco de se criar uma situação real do conto de Torga chamado "Alma Grande", em que os instrumentos de eliminação não vão ser (apenas)as fortes manápulas de alguém em particular..., mas toda a atitude de uma geração de indivíduos que, habituados ao (ou viciados em)prazer imediato, podem não ter qualquer disponibilidade ou paciência para lidar com o incómodo de aturar tantos velhos. Velhos que seremos nós, os que escrevemos estes comentários, dentro de poucas décadas...
E espero sinceramente que, agora, como daqui por poucos anos, não sejam poucos a chamarem-me pessimista. Se me deixarem viver para ouvir a "acusação".
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