
Memorial do Convento, de José Saramago,
Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett,
Os Maias, de Eça de Queirós,
Os Lusíadas, de Luís de Camões,
A mensagem, de Fernando Pessoa.
Sim, confirmei, todas estas obras, que o currículo preceitua como leitura obrigatória no Ensino Secundário, foram devidamente resumidas para uso em telemóvel.
A iniciativa é de um importante grupo editorial de livros escolares, que, como o leitor pode constatar se carregar aqui, nos informa que cada obra está "Também disponível em livro".
4 comentários:
Penso que a nota "Também está disponível em livro" se refere ao iivro de resumos que aiás, é uma ferramenta que existe há largos anos. Esta é apenas uma forma diferente e que me parece ter muitas vantagens para faciitar o estudo. Poder ter resumos em termos audio é fantástico sem falar na componente da mobiidade...
Não tenho qualquer problema com os livros de resumo/análise. Há resumos e explicações de todas as matérias lecionadas, porque não também as obras? A avaliação feita pelos docentes ao longo do ano é que tem de ser séria e rigorosa para aferir se os discentes leram realmente a obra (coisa fácil de fazer se houver um acompanhamento da dita leitura nas auas).
Vai ser só copiar!
A arte de cabular com o telemóvel está cada vez mais desenvolvida. Eu sou professora do secundário e já apanhei alguns alunos a fazê-lo, inclusive uma aluna que, sem que eu visse, colocara todas as perguntas do meu teste (de filosofia) num sms e as enviara a uma colega (aluna de 18) que estava a ter aula de português na turma ao lado e que, sem a professora se apercebesse (e, segundo o que me contou a minha colega, ao mesmo tempo que se mostrava atenta e até participava oralmente), escreveu todas as respostas e as reenviou à minha aluna. Quando eu a apanhei fiquei pasmada com o tamanho do ecrã onde estavam escritas por extenso, com todas as vírgulas e afins, as respostas adequadas a cada pergunta do teste.
Senti-me uma parola, à espera de encontrar um papelinho em letra miudinha, como nos meus anos 90, em que fui aluna (mas não cabulava), e afinal me deparo com toda aquela tecnologia ao serviço da desonestidade.
Dado este contexto, e as nossas cabeças ainda não devidamente aculturadas, será cada vez mais difícil controlar a fraude.
Com livros destes, vamos ter o Camões a escrever "ramanses" de hora a hora.
Conheço (vários) bons alunos que frequentaram o ensino secundário com distintas classificações que nunca pegaram em "Os Maias" ou no "Memorial do Convento" ou na obra poética de Pessoa. Estudaram, claro está, pelos livros de resumos.
E eu tive que fazer alguma insistência para que os meus filhos seguissem uma via diferente, mesmo com eventual prejuízo de algumas classificações.
Agora, qual é o professor, nos tempos que correm, que se atreve a dar "notas" baixas a alunos que tenham obtido boas classificações em elementos (documentos) escritos, com respostas impecáveis?, sujeitos a reclamações que os deixariam sob suspeita, para além de implicarem uma carga de trabalhos?
Estão a ver o que quero dizer?
Foi aqui que a Escola chegou. E o deslize pelo plano inclinado continua, com "demónios" diversos, mas eficazes, a empurrar.
O que fazer com a Escola? O que fazer da Escola?
Primeiro temos que saber o que queremos fazer das nossas crianças e jovens... E a probabilidade de voltarmos a seguir caminhos tortos não será pequena...
Sendo que é preciso cuidado com as "inovações" a que nos habituaram...
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