sábado, 20 de março de 2010

VPV e o PEC


Texto recebido de Augusto Kuettner Magalhães:

Sempre com o seu tom crítico, quer se goste ou não dele, Vasco Pulido Valente (VPV), por vezes, muitas vezes, acerta no alvo. Uma vez mais o consegue fazer na sua opinião publicada ontem no "Público" sobre o Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), designadamente ao afirmar que é pouco, mas é o possível. E. começando pela sua conclusão: “o importante é consolidar as finanças públicas, reformar o Estado e restabelecer a confiança na lei. Infelizmente a ambição do PEC não excede a imaginação do finório indígena! Resolver o sarilho do dia e esperar que o futuro trate do futuro”. E, por outro lado, quanto aos funcionários do Estado – em número que arrepia! - foca e bem: “…rever, caso a caso, a utilidade das funções que o Estado sob vários pretextos tomou para si e eliminar as que são supérfluas, quando não nocivas. Em grande parte, a enorme classe média que o Estado sustenta não dá qualquer espécie de contribuição para a prosperidade e progresso do país. Vive dele, o que é diferente. E não devia viver.”

Convenhamos que isto é escrito com uma frontalidade e, por certo, com tremenda consistência. Muitos políticos o poderão pensar, mas não se atreveriam a fazê-lo, dado que não adquiririam votos, não ganhariam eleições. Não há que indispensavelmente se atacar sempre e só Sócrates, o seu péssimo PEC, e tudo o resto que já todos nós conhecemos! Fugimos a querer ver a realidade e arranjamos unicamente um alvo para atacar e atacar, ainda que esse alvo tenha culpas no cartório, que as tem evidentemente, sem ser o único. E acrescenta VPV: “O crescimento português… só virá e com atraso, depois do crescimento sustentado e garantido da América e da Europa (e dentro da Europa, da Espanha)” .

Por vezes VPV diz claramente o que muitos não querem avocar, ou acham melhor não o fazer. Convém, de facto, olhar o País com frontalidade e sem preconceitos, não seguindo a moda de só apontar o dedo a quem, no momento, é o alvo fácil, a culpa de todas as desgraças, como se o País não tivesse um passado longínquo e bastante tortuoso. Depois de reconhecer os erros de percurso, é necessário ver qual é o futuro possível, que não deve estar sempre e só ligado a uma qualquer pessoa – passada, presente ou futura - , mas sim, interiormente, a todos nós e, claro, ao País.

Augusto Kuettner Magalhães

3 comentários:

Anónimo disse...

O PEC é mau, já sabemos
de salteado e de cor:
o pior é que não temos
quem apresente melhor!

JCN

Rui Diniz Monteiro disse...

Às vezes penso que vivo num país de lunáticos sem memória.
É que eu já ouvi este palavreado velho mais vezes do que a paciência suporta! Não houve governante que, desde há 30 anos ou mais, não tenha vindo com esta treta de fazermos sacrifícios para garantir um futuro melhor. José Mário Branco, já em 1979, gritava, farto desta mesma conversa:
"(...)Sempre a merda do futuro!! E eu que me quilhe!!! Pois, pá!! Sempre a merda do futuro, a merda do futuro!!! E eu, hem!? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá! E eu!? (...)" (FMI)

Conheço vários casos de funcionários que foram postos fora, literalmente ou empurrados para a reforma, que depois foram outra vez contratados, agora a serem pagos pelo triplo ou pelo quádruplo, para fazerem exactamente o mesmo trabalho que faziam antes quando eram funcionários. Como é possível que ninguém seja capaz de tirar uma lição disto? Como é que ainda há gente capaz de dizer com inocência o que vem escrito neste post? Eu só consigo ficar assombrado!!!

lichinho disse...

Continuam a querer acreditar que a culpa da crise é dos funcionários públicos, e que a "classe média" (ou seja, aqueles que trabalham e pagam os seus impostos, sustentando muito mais do que a sua justa parte) é que vive à custa do Estado?

Junto a minha voz à do Rui, que comentou anteriormente... como é possível tanta ingenuidade?

Portugal não tem mais funcionários públicos (por habitante) do que a média europeia, nem mais bem pagos. São dados que constam de estatísticas oficiais, conhecidas publicamente. Os salários dos funcionários públicos têm sido várias vezes congelados, e muito mais as progressões nas carreiras, resultando em elevadas perdas, em termos reais - de novo, dados disponíveis publicamente.

Mas na hora de cortar, os salários dos funcionários aparecem logo à cabeça. Curiosamente, das faustosas ajudas de custo de ministros e deputados não se ouve dizer que sejam cortadas... como o egrégio caso da deputada Inês Medeiros, que "mora" em Paris e que por isso ganha, só em "ajudas de custo", mais de 1500 euros por dia. E eu, que sou da classe m édia, é que vivo à custa do Estado...

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