quinta-feira, 20 de agosto de 2009

UMBERTO ECO SOBRE A BIBLIOTECA JOANINA


No último livro de Umberto Eco publicado em Portugal e do qual já aqui publicámos excertos ("A Obsessão do Fogo", em colaboração com Jean-Claude Carrière, Difel, 2009), ele retoma o depoimento sobre os morcegos na Biblioteca Joanina (na imagem, uma das mesas que se cobrem por causa dos morcegos) que há anos prestou a um jornal canadiano. Ouçamo-lo (p. 281):

"Agora vou contar-lhes uma história divertida. Visitei a biblioteca de Coimbra, em Portugal. As mesas estavam revestidas de um pano de feltro verde, um pouco como mesas de bilhar. Pergunto as razões dessa protecção. Respondem-me que é para proteger os livros dos excrementos dos morcegos. Porque não eliminá-los? Muito simplesmente porque eles comem os vermes que atacam os livros. Ao mesmo tempo, o verme não deve ser radicalmente proscrito e condenado. É a passagem do verme pelo interior do incunábulo que nos permite saber de que modo as folhas foram ligadas, se não há partes mais recentes do que outras. As trajectórias dos vermes desenham por vezes estranhos padrões que emprestam um certo carácter a livros antigos. Nos manuais destinados a bibliófilos, encontramos todas as instruções necessárias para nos protegermos dos vermes. Um destes conselhos é utilizar o Zyklon B, a mesma substância usada pelos nazis nas câmaras de gás. É certo que mais vale empregá-la para matar insectos si que homens, mas faz uma certa impressão.

Um outro método menos bárbaro consiste em colocar um despertador, daqueles que possuíam os nossos avós. Parece que o seu ruído regular e as vibrações que transmite à madeira dissuadem os vermes de sair dos seus esconderijos."

1 comentário:

Américo Oliveira disse...

No Verão de 1873, a inglesa Lady Jackson visitou Coimbra. Eis o que ela conta da sua visita à Biblioteca Joanina:
"Mas, a meu ver, a mais notável peça da universidade é a biblioteca. Consiste em vistosa fileira de salas, com galerias repartidas em secções de livros das diferentes línguas. A solenidade de tom dos ornatos diz ao propósito a que são destinadas as salas - um certo silêncio em que se compraz o espírito, e favoneia o estudo. Há gabinetes distintos para os académicos premiados que queiram estudar em separado. É grande a livraria, rica de edições raras e MSS dos extintos conventos, livros góticos, iluminuras em pergaminho, e colecção de gravuras, algumas antigas e exemplares únicos." ( A Formosa Lusitânia - Portugal em 1873 ).

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