sábado, 8 de agosto de 2009
"PASSIONATE MINDS"
O escritor científico David Bodanis tem traduzidos, em português, os livros "E=mc2" e "Universo Eléctrico", ambos na Gradiva. O seu último livro, "Passionate Minds" surgiu há três anos na Crown Publishers, de Nova Iorque, e, talvez injustamente, só agora me prendeu a atenção. A história que Bodanis conta é a da grande paixão que o filósofo e poeta Voltaire teve por Madame Châtelet. O grande subtítulo, bem à maneira do século XVIII, explica: "A grande paixão do Iluminismo, com a cientista Emilie du Châtelet, o poeta Voltaire, duelos de espada, queima de livros, vários reis, versos sediciosos e o nascimento de um mundo novo".
Sempre achei que o encontro desses dois grandes personagens que são Madame Châtelet, a tradutora e comentadora de Newton para francês, e Voltaire, entre muitas outras coisas o grande divulgador de Newton em França e no mundo, merecia um grande livro. O nome Châtelet vem do marido, um aristocrata francês de quem ela teve três filhos. O casamento, embora à distância, conservou-se ao longo da longa relação que ela teve com Voltaire, cujo intensidade parece ter sido tanto física como intelectual ("Porque chegaste tão tarde a mim? / O que aconteceu à minha vida antes? /Procurei o amor, mas só encontrei miragens, / Só encontrei a sombra do nosso prazer.", escreveu o poeta pouco depois de se apaixonar).
Châtelet era, no que diz respeito à física e matemática, muito mais capaz do que Voltaire, embora não deixe de ser um exagero a afirmação de Bodanis de que o quadrado na famosa fórmula de Einstein se deve a ela (participou nas discussões sobre a "força viva", a que chamamos hoje energia cinética). Os seus conhecimentos físico-matemáticos eram impressionantes numa época em que poucas mulheres tinham educação superior.
Como acabou a paixão? Pois teve um fim trágico. Madame Châtelet, uma "femme fatale", ficou grávida aos 42 anos de um outro poeta, muito menos conhecido do que Voltaire, não tendo sobrevivido por muito tempo ao trabalho de parto. Voltaire, chamado à pressa, ficou transtornado: "Perdi uma parte de mim mesmo - uma alma para a qual a minha foi feita". Mas também é atribuída a Voltaire, numa carta ao imperador da Prússia, uma frase algo misógina:
- "Perdeu-se um grande homem, cujo único defeito foi ter sido mulher".
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