domingo, 9 de agosto de 2009

Os professores não devem saber ensinar tudo

A propósito do meu texto Uma lei que merecemos!, Fernando Martins, leitor do De Rerum Natura, chamou-me a atenção para declarações que Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, prestou ontem ao jornal Correio da Manhã.

À pergunta do jornalista Bernardo Esteves “Os sindicatos de professores criticam a formação de professores, que está por fazer” respondeu o referido pai: “Os sindicatos de professores dizem sempre a mesma coisa. Os professores são pedagogos, por isso devem saber ensinar tudo. E há que fazer protocolos com instituições que têm técnicos para superar a falta de formação.”

O senhor Albino Almeida está errado. Profundamente errado. Explico porquê:

1.º - Os professores não são pedagogos, são professores.
Pedagogo, na actual acepção da palavra, é alguém que tem por tarefa o estudo do ensino e da aprendizagem, bem como das condições em que estas actividades ocorrem. Professor é alguém que tem por tarefa ensinar. Há pedagogos que são professores? Sim, há. Há professores que são pedagogos? Sim também há. Mas, caso desempenhem ambas as tarefas, devem desempenhá-las de modo distinto.

2.º - Um pedagogo não sabe ensinar tudo.
Um pedagogo pode, até, nem saber ensinar nenhuma área curricular do ensino básico e secundário. Porque para se ensinar uma área curricular é preciso, antes de mais, o domínio dos conteúdos disciplinares em profundidade e, depois, saber usar com mestria a metodologia/ didáctica que ela requer para que os alunos aprendam.

3.º - Os professores não devem saber ensinar tudo.
Os professores devem saber ensinar a área ou áreas curriculares da sua especialidade. Não se lhes pode exigir que ensinem o que não sabem, nem se lhes pode exigir que estejam sempre em formação para ensinarem mais isto e mais aquilo, qualquer matéria que, como sociedade, nos lembremos de reivindicar. Era este argumento que, no meu entender, os sindicatos deveriam ter afirmado de modo assertivo, nesta como noutras matérias, pois é ele que imprime especificidade e identidade à docência, que a consolida e dignifica.

4.º - No caso da educação sexual, é duvidoso que alguém a saiba concretizar.
E é duvidoso porque não há conteúdos estabelecidos e os objectivos definidos na lei são inoperacionais; acresce que os especialistas não se entendem quanto à metodologia/didáctica a que se deve recorrer. Não, o problema não se resolve com a tomada de decisões ao nível da escola, partindo daquilo que, em primeiro lugar, alunos e encarregados de educação consideram certo: a organização e consubstanciação do currículo requer saber e pensamento que vai além das opiniões esporádicas, por muito letradas que sejam as pessoas que as emitem.

Em suma, para que as crianças e jovens, desenvolvam as suas capacidades cognitivas, afectivas, morais, motoras, estéticas, com base em conhecimentos, temos de permitir aos professores que se concentrem na tarefa de ensino, e não numa multiplicidade de outras tarefas paralelas, e que, nessa tarefa de ensino, temos de permitir que adquiram e mantenham uma destreza de especialistas.

Preocupante é ter sido o presidente das Associações de Pais a fazer estas afirmações, pois se poderá presumir que todos os pais as corroboram. Estou em crer que não.

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