No mês de Agosto em que o mar é um apelo, passa-me pelas mãos o livro Mar Greco-Latino, que reúne as comunicações apresentadas num congresso internacional realizado no âmbito da Semana Cultural da Universidade de Coimbra de 2006. Trabalho apurado do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da mesma Universidade, revisita poetas antigos – Homero, Eurípedes… – poetas que nos cantam como povo – Luís de Camões – poetas modernos ou contemporâneos – António Nobre, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fiama Hasse Pais Brandão… Poetas que no mar procuraram inspiração para escrever textos que nos traçam a identidade.
Dessa obra deixo um extracto, do texto O mar na poesia portuguesa contemporânea, da autoria de Maria do Céu Fialho.
“Para um país cujas fronteiras são predominantemente marítimas, situado no estremo ocidental da Europa, confinado por terra, à presença próxima de um só país vizinho interposto entre nós e a garganta estreita e escarpada que representa as portas para o centro do velho continente europeu, o mar abre-se, desde sempre como espaço de temores, espaço de evasão e liberdade, ou de invasão e ameaça, de interrogação, mistério, fascínio, rebeldia. O mar, olhado mais de perto, representa o trabalho, com as suas compensações e a sua fatalidade, a que a escrita neo-realista tão expressivamente dá voz, o limite que confina com a solidez da terra, a voz da distância sussurrante aos pés, o puro prazer sensual ou o gesto ritual do banho transfigurado, elo com um outro mar do Ser absoluto, da Grécia-poesia, como para Sophia de Mello Breyner (…).
Estabelecidas essas novas rotas, vencidos os temores e consolidada uma auto-afirmação que há-de marcar épica e tragicamente o rosto lusitano, entre os Lusíadas e o preço pago pelos naufrágios e ausências de toda a História Tragico-marítima, o mar surge quando algures, longe, do lado de lá, se fixam raízes que nos foram apartadas, como espaço de dor e de separação – o das lágrimas da outra face de Mensagem, o de uma épica perdida, na partida não das naus para a Índia, mas do emigrante empurrado pela necessidade, do soldado arrancado às leiras da terra mãe, para guerras sem futuro sem sentido, a que Adriano Correia de Oliveira ou Manuel Alegre tão expressivamente deram voz” (páginas 397-398).
Referência completa:
Oliveira, F.; Thiercy; Vilaça, R. (Coordenação) (2006). Mar Greco-Latino. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.
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