segunda-feira, 31 de julho de 2023

UM RESUMO ANIMADO MUITO DESANIMADOR! ENTRE MUITOS, MUITÍSSIMOS!

O texto de Marco Mendes, acabado de publicar, levou-me a procurar na internet "resumos de..." Detive-me n` Os Maias". De entre uma infinidades deles, abri um "Resumo Animado", que tinha o aviso "não é objetivo deste vídeo substituir (de maneira alguma) a leitura da obra". Certo! Explicava-se, a par, que as fontes usadas foram (evidentemente) a obra e um resumo da obra de uma editora escolar (claro!)

Dos muitos comentários, retirei os seguintes:
De alunos: "Para todos os que têm avaliação amanhã e tão a ver isto de madrugada, não estão sozinhos" | omg ahaha tou a viver para o sarcasmo, eu tenho uma ficha de leitura amanhã e deixei tudo para a última e obrigada por não estares a fazer disto uma seca..damn preach | fodass amigo salvaste me a vida tenho apresentacao esta semana, nem sabia que era para ler o livro | tu falas-te muito depressa...

De professores (?!): "trabalho incrível!! Vou partilhar com os meus alunos e pedir que subscrevam o canal"; "Genial! Adorei e vou usar para introduzir a obra com os meus alunos"...

De alunos? Ou de professores (?!): "O livro é genuinamente bom leiam-no não se restrinjam a resumos"; "A bandeira portuguesa "republicana" está errada... (à data ainda se estava em monarquia)"...

Idem: "Podem fazer animações acerca de outras obras?"

Ah, sim... vale a pena ver pelo menos um ou dois minutos do dito resumo animado... A conclusão, garanto, não é animadora!


3 comentários:

Marco Mendes disse...

É um resumo espremido, muito espremido, como um limão apertado e, como este, deixa um azedo na boca. É muito bem feito no sentido de ser rápido, de ser quase entretenimento com as piadas que se inserem, mas atinge o objetivo? Duvido, seriamente, que após verem o vídeo consigam compreender tudo o que Eça quis transmitir, que compreendam todo o ambiente, todos os pormenores que constam no livro. Que adquiram vocabulário novo, que elevem o seu espírito. Na realidade, atinge o objetivo, porque este nunca passou para além de facilitar a vida ao estudante num exame ou teste (e mesmo nisto é questionável).
A reação dos possíveis docentes é arrepiante! O único animo é a salvaguarda na descrição do vídeo, mas enfim, estar ou não estar será igual a quem vê o vídeo, suspeito.

Carlos Ricardo Soares disse...

Para quem gosta de enredos, este resumo facilita imenso, é como ouvir contar em cinco minutos uma história. Para mim, que não costumo ligar a enredos e que me interessa quase só uma leitura imersiva na própria escrita, se ela o permitir, caso contrário, fico mesmo pela notícia do enredo, a leitura de os Maias e de outros livros do Eça, obras notáveis de leitura imersiva, ganham imensa perspetiva de vista e de significado se tentarmos decalcar os enredos e tivermos o cuidado de os considerar como opções, entre outras, do autor. Os enredos também são, no caso do Eça, uma forma de linguagem com a potencialidade de, sem mais nada, colocarem no palco e comunicarem realidades e representações sociais, mais ou menos carregadas de intencionalidade. Ao ver este resumo animado de Os Maias, a parte mais chocante para mim, que me comprazo quase só com a própria linguagem verbal, os ambientes, os pensamentos, a densidade dos personagens, os problemas e a forma da sua representação poética, ao ponto de me desligar dos enredos, é que, se trocássemos os nomes, pensaríamos que podíamos estar a ser introduzidos a uma qualquer telenovela, ou mesmo literatura de cordel, com mais ou menos faca e alguidar. Aliás, ao ver esse resumo, muito interessante, não o nego, tive a ideia de que, com algumas adaptações, muitos escritores poderão ser tentados a escrever uma estória original baseada nesse enredo. E com a vantagem, relativamente a Eça, de o poderem tomar para comparação, numa espécie de navegação à vista. Este é um dos motivos pelos quais os enredos, normalmente, não me entusiasmam.

Isaltina Martins disse...

Isto só como paródia. Pode sempre fazer-se um pouco de paródia e, assim, tem alguma graça. Mas nunca apresentar esta paródia como motivação para os jovens lerem Os Maias. Aliás, duvido muito que isto desperte qualquer jovem para a leitura. Não vamos infantilizar mais os nossos jovens, tratá-los sempre como crianças a quem se contam historinhas simples e breves. A obrigação da escola é incutir neles o gosto pela leitura, pela reflexão, pela análise do texto, pela plurissignificação da linguagem, levá-los a imaginar ambientes de outras épocas através da descrição que o livro apresenta, a compreender o enredo e a complexidade das personagens, provocando-os a estabelecer confrontos, a emitir opiniões, a compreender ambientes e épocas diferentes da nossa. Um resumo deste tipo só pode ser entendido criticamente depois de conhecida a obra e não antes.

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