terça-feira, 4 de julho de 2023

UMA SINGELA HOMENAGEM AO PROFESSOR NUCCIO ORDINE

Disponibilizo aqui a ligação para o mais recente texto que escrevi para o Ponto SJ - Portal dos Jesuítas Portugueses. É uma singela homenagem a alguém que, com a sua voz, renovou a esperança na educação, na escola, nos professores e, por inerência, no mundo, na humanidade. É dever dos que se têm por educadores não deixar apagar esta voz e outras que, como ela, abrem uma fresta da janela que dá para o conhecimento que nos permite pensar livremente.


3 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

Tento compreender o idealismo e a frustração de Nuccio Ordine e parece-me haver relação directa entre um e outra. Quanto mais idealismo, mais frustração. Mas a realidade é algo que, invariavelmente, resiste e é por isso que nascem os ideais. No fundo, estes exprimem uma relação conflituosa e não satisfatória com a realidade. Os níveis de conciliação ou de reconciliação entre eles podem também indicar até que ponto os ideais se vão concretizando e vão sendo alimentados por vitórias.
Estes tempos, em que vivemos, são vertiginosos, extenuantes, ruidosos e, até por tudo isso, confusos e propícios à alienação.
São tempos sem tempo para aprender a adquirir perspectivas, tempos em que se prescinde disso em troca da garantia de um grupo, de um clube, de um partido, de uma religião, de uma corrente, de uma capela, de um movimento, de um sindicato, de uma bandeira, de um hino, de um ritual, de uma droga, farmácia, medicina. Todo e qualquer corpo social, até as associações de criminosos, tem para oferecer uma estrutura de poder e de justificação e de legitimidade e não abdicam do seu direito de existirem, como se o existirem precedesse o direito e como se esse direito contemplasse a opção, ordem ou anarquia.
Quem quer saber de razões são os tribunais. As turbas e as turbamultas agem e reagem emotivamente, incendiariamente, desproporcionalmente, embora não aceitem e reclamem um tratamento “educado”.
Vou tentar simplificar para melhor me entenderem, ainda que, porventura, me não assista grande razão.
Quando comparamos um professor com um director, ou com um comandante militar, ou com um instrutor, ou com um treinador, ou com um fabricante de lantejoulas, ou com um “chef” de culinária, ou com um publicitário, ou com um pastor religioso, ou um líder político, sindical, chefe de orquestra, apresentador de tv, vendedor de seguros, polícia, podemos surpreender mais facilmente alguns dos equívocos em que labora o discurso acerca do que é um professor e tentar resgatar da confusão de estereótipos sociais essa figura ímpar e quase improvável a cujo dever de ofício nunca ficaria mal ser tudo o que referi, e mais alguma coisa.
Nada mais próximo da ideia do sábio que plana acima das necessidades e contingências terrenas, incólume e imune a todo o contágio, blindado pela sua sapiência e sabedoria. E invejado como o mendigo a quem os lobos docilmente farejam os pés descalços.
Mas não, um professor é uma espécie de não existente e quanto mais professor for, menos existe como pessoa. E precisa um sábio de alguma coisa?
É uma espécie de neutrão, cuja influência depende menos da sua vontade de ser outra coisa do que da realidade daquilo que é.
Até pode ser um robot, desde que se apresente como “olá, não sou um robot, sou um professor”.
Há comandos, palavras, que têm mais poder e efeitos de mobilização do que outras formas de apelos e o apelo do professor é o mais ininteligível num mundo dominado pela ciência experimental e pela tecnologia, na óptica de utilizadores educados segundo o princípio de que “a preguiça é a mãe de todas as coisas” e nem todas são boas.
Um professor que não seja suficientemente realista, quer sobre a importância do seu papel, quer da realidade em que está envolvido e à qual está vinculado, vai ser vítima das suas ilusões de mensageiro de quem esperam que seja capaz de mudar o mundo com as suas palavras e a sua presença.

Anónimo disse...

"Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?!..."
Florbela Espanca

Antes de de frequentar o liceu, não compreendia como os cientistas conseguiam saber tanto sobre as estrelas que podia ver brilhar, à noite, nesses tempos de pouca poluição luminosa. Por exemplo, como chegaram à sua composição físico-química?
Com a educação que recebi no Liceu e na Universidade, compreendi que, através da análise espetroscópica da luz que nos vem da estrelas, conseguimos identificar os elementos químicos que lá existem. Por exemplo, o hélio foi identificado no Sol, antes de ser descoberto na Terra.
É preciso acreditar que a educação, que nos põe em contacto com a beleza de "A Cidade e as Serras", de Eça de Queirós, da lírica de Camões, ou do Teorema de Pitágoras, eleva-nos espiritualmente, porque, como seres racionais que somos, precisamos muito mais do que apenas pão para nos alimentarmos bem.

Helena Damião disse...

Escreveu, Vladimir Jankélévitch, filósofo e musicólogo francês: "Pode-se viver sem filosofia, sem música, sem alegria e sem amor, mas não tão bem." Por isso, sim, "é preciso acreditar que a educação, que nos põe em contacto com a beleza (...) nos eleva espiritualmente", nos torna melhores. Talvez isto não aconteça com todos, mas precisamos de acreditar nisso, como condição para insistirmos na educação. Cumprimentos, MHDamião

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